Camponeses impulsionam a Revolução Agrária

Camponeses organizados pela LCP tomam as terras da Fazenda Condor que tem 45 mil alqueiresA luta pela terra tem se acirrado nos últimos anos não só em Rondônia, mas em todo o Brasil. A situação de miséria, fome e a falta de trabalho empurram as famílias para tomar terras. A região noroeste do estado que compreende União Bandeirantes, Rio Pardo, Minas Nova, Buritis, Campo Novo, Rio Branco, Jacilândia e Jacinópolis concentra milhares de camponeses que vieram para Rondônia em busca de terra nas décadas de 70 e 80.

Estas famílias já passaram por vários lugares e foram expulsas pelo latifúndio tendo que ir em busca de seu sonho cada vez mais longe, hoje não Grupo de ajuda mútua se desloca para roçatem mais para onde ir. As terras desta região são palco de disputa entre as Ong´s estrangeiras com seus parques ambientais, latifundiários e camponeses.

Com o discurso de proteção ambiental o governo ataca uma das principais fontes de renda destas localidades, o cerco contra as atividades de extração da madeira representa um sério problema para a economia destes lugares aumentado ainda mais o desemprego, a quebradeira no comércio. Este problema aliado com o principal motivo do inchaço das cidades que é a enorme concentração de terras nas mãos de poucos, engrossa dia a dia o exército de descontentes e desempregados. Portanto o aumento do que chamam de “violência” nas áreas rurais não se deve a existência de organizações camponesas, pelo contrário, é causada pela ação do Estado e do latifúndio que retiram uma a uma as condições de sobrevivência do povo ao mesmo tempo reprimem e perseguem aqueles que não aceitam tal situação e resistem.

Diante da crise do Estado brasileiro não há saída para as massas que não seja através do desenvolvimento da Revolução Agrária e a aplicação de um Programa Agrário nas áreas tomadas do latifúndio baseado em 4 pilares que são:

Através dos grupos de ajuda mútua os camponeses colhem maiores resultados1. A destruição completa do sistema latifundiário em todo o país e sua entrega aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra.

2. A libertação das forças produtivas eliminando as relações de produção baseadas na exploração do homem pelo homem, como arrendamento, meia, terça, sistema de barracão etc. Desenvolvimento das formas cooperadas de produção e comercialização para fazer frente aos atravessadores e aos monopólios.

3. Estabelecer nas áreas que vão sendo conquistadas o poder político das massas, organizando formas de participação para a tomada de decisões.

4. Realizar a estatização das grandes empresas capitalistas rurais e controle de sua  produção e administração pelos trabalhadores.

O imperialismo, principalmente o ianque, o latifúndio e o capitalismo burocrático, são as três montanhas de exploração e opressão que pesam sobre o povo brasileiro

Esses pilares só poderão ser alcançados através de uma frente de classes revolucionárias, baseada na aliança entre operários e camponeses. Só assim resolveremos a principal contradição em nosso país hoje, que é a contradição entre a enorme concentração de terras nas mãos de uns poucos latifundiários e milhões de camponeses sem terra. Completando a primeira etapa da Revolução de Nova Democracia, criaremos as condições para a libertação nacional através da expulsão do imperialismo concluindo a Revolução Democrática em todo o país e transitando de forma ininterrupta ao socialismo.

Camponeses criam as Assembleias Populares e Comitês de Defesa da Revolução Agrária

Camponeses tomam decisões na Assembleia PopularNa região de Jacinópolis os camponeses desde o ano passado criaram as Assembleias Populares, que são mais do que assembleias comuns, são órgãos de poder onde os camponeses decidem sobre todos os assuntos de sua vida. Nas Assembleias Populares (AP) os camponeses criam, executam e julgam suas leis de acordo com os interesses da população da área, da região e até do país. Para ilustrar este espírito utilizam uma frase “somente mandando onde vivemos é que poderemos um dia mandar no país”.

Os camponeses explicam que estas Assembleias foram criadas pela necessidade de resolver os problemas pelas suas próprias mãos elevando seu nível de organização independente, uma vez que o Estado burguês latifundiário não serve aos interesses do povo pobre.

As AP são realizadas periodicamente, sempre num dia determinado de cada mês. Nas primeiras Assembleias foram eleitos os representantes da área, queTrabalho coletivo conformaram um Comitê de Defesa da Revolução Agrária, composto pelos mais sérios e honestos moradores do local, uma espécie de órgão executor que no intervalo entre duas Assembleias centraliza e cuida da aplicação das decisões tomadas coletivamente.

É importante destacar que as pessoas eleitas para este órgão têm o mandato revogável a qualquer momento, diferentemente das eleições burguesas onde o povo só decide de 4 em 4 anos, aqui ele decide a todo o momento.

Jovens e crianças tem seus direitos e deveres reconhecidos na Assembleia. Na foto: Jovens se divertem jogando vôlei em dia de lazer definido pela APAlgumas áreas já elaboraram, debateram e aprovaram coletivamente os estatutos e as normas de funcionamento das Assembleias, assim como os princípios e critérios em que se baseiam, ou seja, as novas leis que devem reger a vida dos camponeses pobres, pequenos comerciantes e trabalhadores assalariados em cada área, enfim da coletividade. Em outras áreas do estado os camponeses iniciam a mesma discussão.

O povo é que deve decidir sobre as estradas, as Escolas Populares para educar crianças e adultos, a saúde, a produção, construção de obras (como pontes, aterros, represas) e também sobre a autodefesa contra as intervenções dos inimigos. O objetivo é envolver todos nas discussões dos problemas e no cumprimento das tarefas.

Na região de Jacinópolis e outras áreas os camponeses já realizaram a construção de estradas e pontes através do trabalho voluntário e coletivo, que são exemplos da ideologia coletiva em que se baseiam as Assembleias Populares.

A construção da estrada pelo povo organizado

Após decisão na AP grupos de trabalho controem estrada Ponte sobre o rio Jaci construida pelos camponeses de Jacinópolis em 2003

Há muito tempo os camponeses que viviam isolados na área do Capivari sofriam com a distância que tinham de percorrer para chegar até o projeto Jacinópolis, isso porque a Fazenda Condor impedia a passagem pela linha 3, que seria o caminho mais curto. No ano passado com o surgimento do acampamento José e Nélio parte da fazenda foi tomada e ganhou força entre os camponeses a ideia de criar uma estrada que ligasse as duas áreas encurtando o caminho para centenas de famílias que precisam ir ao distrito para comercializar, tratar de saúde etc. Também a estrada cumpriria o objetivo de isolar a fazenda aumentando o número de camponeses no seu entorno.Parada para almoço durante construção de estrada que liga duas áreas camponesasNo começo deste ano os camponeses das duas áreas se reuniram e traçaram o plano da construção da nova estrada. Logo começaram os trabalhos em duas frentes que se encontrariam no meio do caminho. Mais de 100 homens e mulheres participaram em todas as fases da construção desde a arrecadação de combustível, corrente de moto serra, coleta de alimentos nas linhas de Jacinópolis, ação esta que contou com o apoio de todos os moradores da região.Todo o trabalho foi realizado de forma coletiva e assim enquanto uns iam na frente com os moto serras, outros arrancavam os tocos menores com enxadão, foice, também havia um grupo da cozinha e outros companheiros que fizeram a segurança para os que estavam trabalhando. Foram feitas algumas pontes devido a existência de pequenos riachos. Durante a contrução da estrada pequenas pontes foram sendo feitas para superar os obstáculos naturaisEm três dias os camponeses conseguiram unir as duas frentes concluindo os 7Km de estrada. Ao final para comemorar o trabalho concluído, os camponeses organizaram uma festa de confraternização onde uma novilha que havia sido doada por um morador foi assada.

Hoje a estrada é a principal fonte de acesso de muitos camponeses moradores da linha 3 e BR 421 além de servir a outras pessoas já que é uma estrada feita para todos os que dela precisam.

A conclusão da estrada têm um enorme significado tanto por ter diminuído a distância entre Capivari e Jacinópolis pela metade, facilitando assim a vida de centenas de famílias, como também pela forma como foi discutida, planejada e construída, ou seja, a partir da decisão coletiva entre os camponeses da área.

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