1

Carta de um morador de Jacinópolis

Em abril de 2007 a polícia atacou mais uma vez o distrito de Jacinópolis, para apurar as denúncias mentirosas feitas por pessoas que não querem que o camponês tenha seu lugar, fazendeiros da região como Catâneo, com 19 fazendas só em Rondônia, Geraldo Coleto, que possui 5 fazendas grandes, uma delas na região de Campo Novo e Nova Mamoré, tem 45 mil alqueires de terras griladas da União.

Para proteger suas terras matam sem piedade, pistoleiros e policiais ganham por cabeça, ganha mais quem mata mais, até acabaram com um projeto de cidade que existiu no final da BR 421 que se chama Jacilândia, um lugar muito bonito com cachoeiras e rios que poderia ser um ponto turístico. Hoje só existem marcas do terror, casas velhas abandonadas e algumas pessoas assustadas. Mais de 60 pessoas foram assassinadas em um só dia e jogadas no rio Jaci-Paraná.

O Nelson Botelho é um fazendeiro da região, acredita que o serviço de um bando armado particular vai garantir a segurança de suas terras. É dono de grandes áreas griladas da União com cinco fazendas no estado e outras duas no Mato Grosso e tem um responsável para agenciar pistoleiros que se chama Donizete “Muagem” que atua junto com o ex-gerente José Raimundo. A fazenda Botelho mantém 15 homens só para matar, muitos deles andam armados dentro de Jacinópolis a luz do dia, atiram para cima, jogam cascas de balas no chão e falam que os moradores tem que respeitar a fazenda. Os pistoleiros mais conhecidos são Aguinaldo, Rivaldo vulgo “Neguinho”, Adécio da Luz que matou quatro trabalhadores em 2003 em Jacinópolis, foi preso e absolvido imediatamente, o Dodô que assassinou várias pessoas em Jacinópolis e outros que nem sabemos nomes e apelidos.

Desde 2006, mais de 8 moradores foram assassinados. Todos mortos a mando de fazendeiros da região, mas que a polícia insiste em acusar como responsáveis os camponeses. Estão perseguindo trabalhadores da região como foi o caso dos 3 irmãos Sebastião, Alceli e Derci e do administrador Valberto.

O Incra não está se preocupando com os assentamentos em Rondônia porque é um órgão falido, sem compromisso com sua responsabilidade, que só chega depois que as terras foram banhadas com sangue dos trabalhadores. Mas o povo sabe que tudo isso é para dar oportunidade aos fazendeiros para grilar as terras, matar, explorar as madeiras e fazer formação de pastagem ou planos manejos.

Tudo isso é para deixar o povo cada vez mais pobre, hoje na frente de tantos problemas não se levanta um político para procurar o que o povo está precisando. O prefeito de Buritis, o Volpi que é do PT disse que bandidos têm mesmo que ser punidos sem conhecimento do que se trata. Quem é acusado de bandido são os moradores de Jacinópolis, pessoas que tem muito mais referência de melhores trabalhos prestados ao povo do que todos os políticos corruptos juntos.

Estes políticos que nada fazem para ajudar Jacinópolis ajudam a polícia destruir o que o povo com suas próprias forças construiu.

Nós moradores de Jacinópolis acreditamos que a justiça nunca foi para os pobres, nós filhos do povo pobre de todo Brasil precisamos de um exército dos menos favorecidos porque os latifundiários mandam matar os pobres e depois mandam prender pessoas simples e trabalhadoras. Mais uma vez vemos que votar nunca mudou e nunca vai mudar nada, que só uma Revolução Agrária poderá mudar este país.

O jornal Folha de Rondônia publicou que Jacinópolis é uma cidade sem lei acusando que moradores não colaboram com a justiça. Que a LCP está aterrorizando Jacinópolis. Os moradores de Jacinópolis não colaboram com a justiça porque ela não reconhece os direitos dos pequenos proprietários, que são pessoas trabalhadoras e que a polícia com o apoio dos jornais não pára de prender e chamar de bandidos. Portanto não reconhecemos esta justiça que só serve para nos humilhar e reprimir.

José Batista Lins – Trabalhador e morador de Jacinópolis