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Quem são os bandidos em Jacinópolis?

Jacinópolis: cidade construida pelos camponeses

Jacinópolis: cidade construida pelos camponesesJacinópolis é um distrito do município de Nova Mamoré, distante cerca de 370 km de Porto Velho e 75 km de Buritis. Junto de Campo Novo, Rio Branco, Buritis, Rio Pardo, Minas Novas, União Bandeirantes e Jacilândia formam uma extensa região de conflitos agrários que já duram anos sem que a principal reivindicação dos milhares de camponeses que moram e trabalham na região seja resolvida. Ou seja, a regularização das terras.

Nos meses de fevereiro e março de 2007 os jornais Folha de Rondônia e Estadão do Norte (conhecidos por suas vinculações com latifundiários) publicaram matérias mentirosas com os  títulos “LCP aterroriza em Jacinópolis” e “LCP dita leis em Rondônia” onde diziam que a LCP invade e desmata áreas ambientais, que realiza “treinamento de guerrilha” e a população da região se sente “aterrorizada”. Os jornais se pautaram pela falta de verdade e deturpação dos fatos e inverteram propositadamente a realidade para encobrir os crimes do latifúndio contra os camponeses que vivem naquela região.

Oséias Martins: assassinado brutalmente em 2002 pela ação de bandos armados do latifúndioAntes da chegada dos camponeses quem dominava a região eram os latifundiários Carlos Schumann, Nenê da Laminadora, Nelson Zimbur, Toninho Samaritano, Geraldo Coleto (Condor) e Nelson Botelho entre outros. Utilizam trabalho escravo, são conhecidamente relacionados com o tráfico de drogas, suas terras foram griladas da União. Só trouxeram morte, terror e desgraça para a região. Este foi o caso das famílias massacradas em Jacilândia na década de 90, de Ozéias Martins e Edílson Ferreira em 2002, de José e Nélio em 2006 e tantos outros. Em um caso, o camponês conhecido como Maninho, já senhor de idade, foi capturado por pistoleiros, torturado, castrado vivo, esquartejado e seu corpo em pedaços foi jogado no rio Jaci. Jamais a polícia fez uma operação para prender os responsáveis. Jamais os jornais retrataram em suas páginas uma única linha sobre a violência destes latifundiários.

Mas quando os camponeses se defendem legitimamente destes ataques covardes os jornais se levantam para chamá-los de criminosos.

Os verdadeiros criminosos são os latifundiários que grilaram terras da União, que armam seus bandos e preparam novos assassinatos!José e Nélio: assassinados brutalmente em 2006 pela ação de bandos armados do latifúndio São os políticos corruptos de Rondônia que enriquecem as custas do sofrimento do povo pobre. São os policiais de Buritis que se aproveitam da impunidade para ganhar com o roubo de veículos, tráfico de armas e drogas e recebem soldos para defender as terras dos latifundiários. Os mesmos policiais que atuam em grupos de extermínio na região. Estes são os verdadeiros bandidos!

Quando dos ataques, integrantes da LCP, enviaram notas aos jornais exigindo retratação e direito de resposta, mas não foram atendidos. Algumas lideranças se diziam preocupadas, pois as matérias indicavam a preparação de novos ataques ao movimento camponês.

Ataques covardes da polícia e do latifúndio

As previsões se confirmaram na madrugada do dia 21 de março quando uma operação conjunta da polícia militar e civil promoveu o terror entre a população de Jacinópolis, mais de 200 pessoas foram revistadas e humilhadas, várias tiveram suas casas invadidas e reviradas. Participaram ao todo mais de 85 soldados armados com fuzis, metralhadoras e bombas de gás.

Dezenas de policiais aterrorizam os camponeses em JacinópolisO administrador do distrito, Valberto conhecido como “Chapéu” é antigo morador, homem que se dedica a ajudar e dar assistência ao povo, foi humilhado e denegrido pelas forças policiais, teve sua casa invadida derrubado no chão, pisaram em seu pescoço e o algemaram. Os policias chamaram-no de bandido e perguntaram onde estavam as drogas, assustando suas crianças e sua esposa. Como ele é trabalhador, nada foi encontrado. Mas foi grande a humilhação e constrangimento de sua família e dos moradores que são seus amigos. Valberto ficou algemado por mais de cinco horas sofrendo torturas psicológicas.

Na mesma madrugada os policiais seguiram para o sítio de Sebastião Francisco Sales e derrubaram a porta de sua casa a ponta pés. Sebastião foi algemado, chamado de folgado e bandido na frente de sua esposa e filho, reviraram os objetos da casa. Sebastião que toda sua vida foi evangélico respondia: “Deus sabe que não sou o que estão me acusando e vou provar”. Nada foi encontrado.

Prenderam seu irmão Alceli, dizendo “é irmão dele, também é bandido”, foi algemado na frente da sua esposa e dos três filhos que ao verem o pai choraram muito e pediam para soltá-lo. Alceli pediu que não fizessem isso, que nunca tinha sido preso, “considere o meu filho como filho seu e se coloque em meu lugar”. O policial falou: “você me respeita bandido, que o meu filho não é igual filho de bandido. Você mora num lugar deste porque é bandido”. Assim o policial respondeu o pai de família, mostrando desconsiderar todo morador desta região.

Ao chegarem no sítio de Derci, ele estava tomando seu café para ir buscar vacas para tirar leite, ele entrega leite na cidade, é muito conhecido e certo com seus negócios. Os policiais gritaram: “parado aí bandido!” Ele não reagiu, foi algemado, derrubado no chão, quando arrancaram sua roupa e começaram a espancá-lo na frente de sua criança e sua irmã. Perguntaram sobre armas e drogas e quanto mais ele dizia que não sabia, mais apanhava. Foi arrastado mais de 30 metros pelo chão até o rio, sofreu mais de vinte afogamentos na água e com saco plástico, teve as costelas fraturadas, a perna desconjuntada na altura do joelho, colocaram uma pistola dentro da sua boca, policiais pisaram e pularam em cima dele, jogaram solvente nas suas costas e continuaram torturando-o durante horas.

Nenhuma destas ações possuía mandado judicial ou mesmo qualquer acusação contra os camponeses. A polícia ainda esteve no acampamento José e Nélio que fica na linha 3 dentro da fazenda Condor e ameaçou os camponeses que se mantiveram firmes. Todas as pessoas atacadas em Jacinópolis são trabalhadores, conhecidos por todos e que moram na região há muito tempo. Nenhum deles é bandido.

Camponeses cobrem o rosto para evitar perseguições da polícia e de pistoleirosOs três irmãos foram levados para Buritis, a polícia tentou impedir que o advogado visitasse seus clientes. Derci estava bastante machucado pelas torturas e espancamentos que sofreu, só foi liberado no dia 29, até hoje não pôde ir ao hospital tratar as lesões, pois está sofrendo ameaças de policiais de Buritis e pistoleiros. Durante sua prisão Derci afirmou que dois pistoleiros entraram na delegacia de madrugada com a conivência dos policiais de plantão. Esta é uma prática comum da PM de Rondônia quando da prisão de lideranças camponesas: deixar que pistoleiros reconheçam os presos para depois assassiná-los.

Derci foi processado e a polícia continua a agir impunemente na região. Durante toda a operação três encapuzados vestidos com o uniforme da PM foram vistos pelos moradores, sendo que algumas pessoas reconheceram os policiais civis Zé Maria de Buritis e “Pé de Ferro” de Campo Novo como dois deles. O interessante é que o ano passado o delegado Claudionor da policia civil de Buritis declarou em audiência com a Ouvidoria Agrária que: “quem usa capuz é bandido”.

Na última semana de abril policiais civis que fazem blitz nas estradas da região pararam um camponês e sua mãe na linha 2. Após a abordagem a mãe foi levada ao ponto de ônibus enquanto o filho foi conduzido na viatura até Buritis. Ele foi encapuzado e espancado pelos policiais por cerca de 35 Km, fizeram interrogatórios querendo saber quem são as lideranças da LCP. Os policiais afirmaram que estavam agindo fora da lei e que ele teve sorte, pois se fosse o Zé Maria que o tivesse pegado, estaria morto. Ameaçaram o companheiro de morte, caso denunciasse as agressões. Este camponês estava retornando de Buritis onde já havia se apresentado ao delegado Claudionor, mas os policiais não levaram em conta este fato.

Segundo dizem os camponeses, Zé Maria, policial civil de Buritis, é o principal organizador dos grupos de extermínio que atuam na região, também é conhecido por roubar terras de trabalhadores, expulsando famílias camponesas de seus lotes. Foi assim que ele conseguiu as terras na linha 6 e na BR 421.


A história dos que vieram para Rondônia em busca de terra

Derci faz parte de uma família de nove irmãos que na década de 70 vieram com seus pais do Espírito Santo para Rondônia acreditando nas promessas de que conseguiriam terra fácil. Tiveram que trabalhar por muitos anos nas terras dos outros para juntar dinheiro e comprar um sítio, mas não foi fácil. Trabalharam na região de Jaru e Buritis. Há mais de 10 anos a família cansou de esperar pela reforma agrária do governo, foram para Jacinópolis.

Derci é bastante conhecido, é fundador do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Buritis, foi um dos que liderou a colonização da região. Há 8 anos cerca de 3.000 famílias, a maioria expulsa de outros lugares, tem chegado a Jacinópolis em busca de terra e trabalho e tem enfrentado malária, sofrem com as perseguições e assassinatos cometidos por pistoleiros de latifundiários. Mas nunca desistiram. Abriram toda a região, dividiram-na em milhares de lotes, construíram pontes, estradas e até uma pequena cidade. Estão desenvolvendo dezenas de comércios e serrarias, linhas de ônibus e o mais importante, produzindo o sustento e conseguindo uma vida melhor para suas famílias. A reforma agrária do governo faliu de vez Desde a chegada da frente popular oportunista eleitoreira PT/PCdoB à gerência do Estado temos visto o completo desmascaramento da reforma agrária. Lula que chegou a dizer que se pudesse fazer apenas uma coisa se fosse eleito esta seria a reforma agrária, logo mostrou na prática a quem serve.

Ato público de solidariedade e contra a criminalização do movimento camponês realizado na Universidade Federal de Rondônia - UNIRNo início de seu governo, apesar de prometer, não revogou o decreto de FHC que criminaliza a luta pela terra. Tornou-se garoto propaganda do agronegócio, o novo nome do latifúndio, para esconder sua folha corrida de crimes e exploração brutal do campesinato. Recentemente em encontro com usineiros chamou estes bandidos seculares de heróis nacionais.

O centro da política agrária foi injetar 40 bilhões em financiamentos para a produção mecanizada para exportação, baseada na importação de maquinários e insumos e na existência de extensos latifúndios para produzir soja, laranja, cana etc., culturas que tem os preços controlados pelos países imperialistas. Produção que se assenta muitas vezes em trabalho escravo e servil. O governo ainda isentou o agronegócio de pagar impostos e reduziu o prazo de resgate dos TDA´s – Títulos da Dívida Agrária. Já para a chamada agricultura familiar liberou apenas 7 bilhões com o conto do financiamento fácil no Banco do Brasil.


Criminalização da Luta pela terra

Reunião da Ouvidoria Agrária no quartel da PM em JaruFoi no governo Lula que se criou a Comissão “Paz no Campo”, que atuou na mediação de conflitos agrários. Em setembro de 2004 o Ouvidor Agrário Gercino José da Silva, mesmo sabendo que a polícia em Rondônia serve aos latifundiários, chamou os camponeses para se reunirem no quartel da Polícia Militar em Jaru, onde ouviram toda sorte de ameaças dos policiais do tipo “então você é o fulano”, “foi bom ver seu rosto”, “cuidado, sua vida corre perigo”. Em todo o país mais de 260 camponeses foram assassinados em 5 anos, além de centenas de prisões e perseguições, nenhum latifundiário foi preso. O que se viu foram mega operações de forças tarefas de cerco e apreensão da produção camponesa, despejos e desarmamento dos camponeses enquanto os latifundiários criam e defendem abertamente suas milícias armadas.


Traição das direções oportunistas

No início do governo as direções oportunistas do MST, Contag, Fetagro e Pastoral da terra sentaram com Lula e traçaram um plano de assentar 400 mil famílias até 2006. Foi um fiasco, pois o governo de cara cortou verba que seria destinada para o assentamento das famílias para garantir o pagamento das dívidas com o FMI. O Incra maquiou os dados, regularizando assentamentos com mais de 20 anos e reassentando famílias em lotes abandonados por falta de assistência, jogando desta forma os camponeses uns contra os outros. Tudo para dizer que estão cumprindo as metas. Em Rondônia milhares de famílias vivem em acampamentos e nenhuma terra foi cortada. Só no ano passado foram realizadas 47 reintegrações de posse.

Demagogia: Lula usa boné do MST mas quem recebeu 40 bilhões foi o agronegócio, e para a reforma agrária apenas migalhasAs direções oportunistas agiram como principais desmobilizadores dos movimentos sociais, dizendo que não era mais preciso lutar, que o governo atenderia todas as reivindicações do povo, bastava ter paciência. A direção nacional do MST assumirá compromisso com Lula de respeitar a lei e não resistir aos despejos, inclusive saindo antes mesmo da chegada da polícia, como ocorreu na maioria dos casos. O abril vermelho, por exemplo, tem por objetivo radicalizar na forma e no discurso para não perder hegemonia entre as massas, radicalizar para esconder a capitulação perante o inimigo e isolar os que de fato estão enfrentando o latifúndio. Foi assim que João Pedro Stédille principal dirigente do MST, passou 4 anos falando em “pressionar” o governo para acelerar a reforma agrária para depois orientar suas bases a reeleger Lula, defendendo que este seria “melhor” para a reforma agrária.

Mas o que se viu, apesar destes apelos, foi que as massas camponesas seguiram lutando adotando a resistência ativa como única forma de conquistar a terra.

O que fica provado com tudo isso é que através das eleições burguesas não é possível realizar as transformações que o país necessita, pois o Estado burguês-latifundiário e seus gerentes de turno jamais tomarão medidas que prejudiquem as classes dominantes e o imperialismo, principalmente norte americano.

Somente através de uma Revolução Agrária poderemos destruir e varrer passo a passo em todo o país o que de mais atrasado existe em nossa sociedade, que são as relações semi feudais assentadas na propriedade latifundiária, que predominam no campo há séculos e que exigem superação completa.