Camponeses da LCP realizam seus Congressos

5º Congresso da LCP de Rondônia e Amazônia OcidentalEm 2008 houve um maior acirramento da luta pela terra em várias regiões do país. Várias áreas camponesas foram ou estão ameaçadas de despejos e sofrem com os ataques do velho Estado. No Norte do país o Exército, Força Nacional, Ibama, Sedam e Polícia Ambiental se lançam contra o direito do povo trabalhar. Os direitos dos povos indígenas e de populações ribeirinhas são permanentemente atacados. 

Por todos os lados o INCRA e a Ouvidoria Agrária atuam como polícia, tratando de criminalizar e desmobilizar a luta camponesa. Vários camponeses foram presos, e tem sido crescente os assassinatos e ataques de bandos armados a serviço do latifúndio em conluio com policiais.

A Liga dos Camponeses Pobres foi sistematicamente caluniada, difamada e criminalizada pelos monopólios de comunicação, como foi o caso da campanha difamatória encabeçada pela revista “IstoÉ” e jornais a serviço do latifúndio em março de 2008.

E mesmo com toda esta repressão, os camponeses aprofundaram sua luta de corte e entrega de lotes, produção, construção de estradas, pontes, escolas, organização das Assembleias Populares e resistência a despejos e ataques de pistoleiros. Empurrados pela necessidade, centenas de famílias se organizaram, tomaram novas terras e procuraram a LCP para pedir direção.

Dentro dessa situação foram preparados e organizados os Congressos da LCP de Rondônia e Amazônia Ocidental e da LCP do Nordeste que reuniram centenas de camponeses.

Manifestação nas ruas de Porto Velho


Camponeses da Amazônia Ocidental realizam seu 5º Congresso

Os Congressos foram o resultado de um processo iniciado meses antes com a realização de dezenas de reuniões e assembleias nas áreas e a mobilização para o Encontro de Delegados. Nos Encontros se realizou o balanço das atividades da LCP, o estudo mais aprofundado e aprovação das teses do Congresso e eleição de novas coordenações. Cerca de 500 pessoas participaram do CongressoEm seguida, todos os delegados partiram para suas áreas para mobilizar e organizar o povo para participarem dos Congressos.

A realização destes Congressos deu mostras do vigor e crescimento dessa honrada organização de camponeses pobres. Foi um momento de salto na sua organização, grande agitação de suas bandeiras de luta, e de maior ampliação da frente de apoiadores e simpatizantes. E também demostrou maior unidade e clareza quanto aos rumos da luta camponesa e da necessidade de aprofundar a Revolução Agrária, que mais que uma aspiração, já é uma realidade em várias áreas do nosso país.

Nos dias 22 e 23 de agosto foi realizado no campus da Universidade Federal de Rondônia o 5° Congresso da LCP de Rondônia e Amazônia Ocidental, que contou com a participação de cerca de 500 pessoas entre camponeses, estudantes, professores, entidades e movimentos democráticos. Ao todo estiveram representadas mais de 20 áreas camponesas.

O 5º Congresso levantou 3 bandeiras principais: Contra a criminalização da luta pela terra, em defesa da Amazônia para o povo brasileiro e em defesa dos direitos dos povos indígenas.

Na sexta à tarde começaram a chegar as delegações. Quando tudo estava pronto os organizadores deram início ao 5º Congresso. Mulheres, crianças e homens se ajeitaram nas cadeiras e arquibancadas, ansiosos, muitos viajaram centenas de quilômetros, mas deixaram o cansaço de lado. Nos rostos podia se ver a alegria de estar no meio de outros camponeses, de apoiadores e simpatizantes.

Participação de diversas entidades e movimentos popularesA cerimônia de abertura contou com a participação de diversas entidades e movimentos populares de Rondônia, Pará, Nordeste, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. Também estiveram presentes a vice-reitora da UNIR Ivonete Tamboril, a pró-reitora de cultura extensão e assuntos estudantis Josélia Gomes Neves, professores da UNIR e um representante do povo indígena Karitiana.

Para dar início ao Congresso foi entoado por todos o hino “Conquistar a Terra” e em seguida os representantes fizeram intervenções de saudação ao Congresso e de solidariedade à luta camponesa em Rondônia. A maioria das intervenções centrou na falência da reforma agrária e na necessidade da Revolução Agrária.

Após a abertura, teve início a parte cultural do Congresso. Foi exibido um vídeo com as lutas que ocorreram desde o 4º (agosto de 2005). Também houve a apresentação do músico Marcos Tupiniquim e a finalização com um forró.

Um mar de bandeiras vermelhas nas ruas de Porto Velho

No dia 23 pela manhã os participantes do Congresso iniciaram os preparativos para a manifestação. Participação ativa na plenáriaApós chegarem ao centro da cidade organizaram as filas, faixas e bandeiras e ao som de tambores e fogos de artifícios começaram a percorrer as principais ruas da cidade. O povo da cidade que estava esperando ônibus ou trabalhando se surpreendeu com o mar de bandeiras vermelhas e com as consignas nas faixas: “Viva a Revolução Agrária” e “Fora imperialismo da Amazônia”. Muita gente parou para ver e ouvir os manifestantes ou receber os panfletos.

A manifestação causou um grande impacto e repercussão na região. No entanto, os jornais a serviço do latifúndio em Rondônia, que tanto se dedicam a atacar a LCP como organização guerrilheira, criminosa, terrorista e sem apoio popular, se calaram diante da força organizada dos camponeses pobres. Será que 500 terroristas desfilando pela capital do estado não seria um assunto estrondoso a ser noticiado? Na verdade, noticiar o Congresso e sua manifestação seria desmentir todos os ataques e calúnias que esta mesma imprensa venal fez contra a LCP.

Com a palavra os camponeses pobres e seus aliados

A segunda metade do dia foi dedicada ao balanço das atividades da LCP. Na plenária muitos camponeses falaram do balanço apresentado e fizeram denúncias da situação nas áreas. Um dos depoimentos mais marcantes foi de um camponês de União Bandeirantes agredido pelo latifundiário Sebastião Conti Neto com um tapa nos ouvidos que provocou a surdez total de um ouvido e parcial de outro.

Homenagem às lideranças e camponeses tombados na luta pela terra

Da esquerda para a direita: Sérgio Rodrigues, Ozéias, Oziel, Bentão e Zé Ricardo
Após a plenária foram realizadas homenagens aos companheiros Oziel, Zé Bentão e Zé Ricardo representando tantos outros camponeses assassinados. Apresentação cultural das mulheres no CongressoA mãe de Oziel, a viúva de Zé Bentão e um companheiro de luta de Zé Ricardo receberam um quadro e um ramalhete de flores, uma humilde homenagem prestada pelo Congresso.

Foi um dos momentos mais importantes, muitos se emocionaram com a as intervenções que ressaltaram o papel de cada um e a lembrança dos companheiros. Durante o Congresso também foram homenageados os mártires e as vítimas de Santa Elina.

Depois as mulheres presentes no Congresso tomaram a frente da plenária e fizeram uma firme e bonita apresentação do hino do MFP – Movimento Feminino Popular. Em seguida, vários presentes interviram destacando a importância da mulher na luta.

Na parte de resoluções foi ratificada a coordenação eleita no Encontro de Delegados e aprovadas as principais propostas gerais de luta. Para encerrar as atividades todos os presentes fizeram o juramento perante a bandeira vermelha da LCP e cantaram “A Internacional”.

Principais propostas aprovadas no 5º Congresso:


1. Unificar todo o movimento camponês para seguir tomando todas as terras do latifúndio;

2. Aprofundar a luta em torno da criação e funcionamento das AP (Assembleia Popular);

3. Realizar grande trabalho de agitação da Revolução Agrária com panfletagens e manifestações nas áreas, vilas e povoados;

4. Apoiar a luta dos povos indígenas pela demarcação de suas terras e pelo direito autodeterminação;

5. Unificar todos os trabalhadores da Amazônia na luta pelos seus direitos.

 

Um ano de Liga no nordeste

O resultado de pouco mais de um ano de atuação da Liga dos Camponeses Pobres no Nordeste é de fato surpreendente. O dia 5 de setembro de 2007 marca o início de suas atividades na região com a tomada da Fazenda Bom Destino, no município de Cajueiro, Alagoas. De lá para cá muita coisa aconteceu. A LCP cresceu a passos largos após enfrentar os desafios iniciais da construção do trabalho, somado as perseguições dos órgãos do governo e ataques das direções oportunistas, que viram suas posições confortáveis ameaçadas pelo surgimento de um movimento combativo.

No primeiro semestre de 2008, após a campanha vitoriosa pela libertação do dirigente camponês José Ricardo de Oliveira Rodrigues, a Liga avança para o estado de Pernambuco. Em outubro, a LCP chega ao Ceará realizando sua primeira tomada, na cidade de Pentecoste. No segundo semestre, ocorre uma extraordinária expansão do trabalho da Liga em Alagoas com o avanço da luta para o litoral, o número de áreas da Liga no estado salta de 7 para 16! Além disto, foi organizado o Corte Popular no Engenho Santa Luzia, antes pertencente a Usina Catende e já está em conclusão o corte da área Riachão em Lagoa dos Gatos (as duas áreas em Pernambuco).

Passeata se transformou em ato para os moradores da cidadeAssim chegou a LCP do Nordeste ao seu 1º Congresso organizando mais de 1.000 famílias camponesas, espalhadas em 20 áreas e 3 estados da região. Por antecipação seu 1º Congresso era já vitorioso.

O Congresso foi convocado para o 20 de dezembro na cidade de Catende – PE, lugar que para o governo é um “modelo de reforma agrária”, mas para os camponeses e para a LCP exemplo de fracasso das políticas governamentais. 800 camponeses atenderam à convocação da Liga. Às 10 horas deu-se início a abertura do Congresso com todos de pé cantando o hino “Conquistar a Terra” e repetindo as consignas de “Conquistar a terra! Destruir o latifúndio!”, “Viva a Revolução Agrária!” e “Resistir, Lutar, Construir o Poder Popular!”.

Na abertura falaram representantes de entidades e organizações democráticas. As intervenções destacaram a importância histórica da chegada da LCP ao Nordeste, terra de tantas lutas e tradições. Também foi destacado a necessidade da luta contra a criminalização do movimento camponês e de seguir resistindo aos ataques do governo.

Após as intervenções de abertura os camponeses saíram em marcha pelas ruas de Catende. Na feira municipal a passeata parou e se transformou num ato direcionado aos moradores da cidade. Durante o trajeto muitas pessoas engrossaram as fileiras, ao todo, mais de 1.000 camponeses participaram da manifestação. Em frente a Usina Catende mais uma parada e agitação para os operários que apesar da propaganda enganosa recebem salários de miséria e muitas vezes atrasados. Muitos operários pararam para ouvir a agitação dos camponeses, outros responderam com punho erguido em sinal de aprovação, o grito “Viva a aliança operário camponesa!” foi inevitável. Com muitas bandeiras vermelhas e fogos de artifício a manifestação se encerrou para a pausa do almoço.

Era visível no rosto dos camponeses a satisfação com o vitorioso Congresso. Com a “palavra franca” muitos tomaram o microfone para falar do prazer em estar ali; presidentes de Associações de Engenhos da Usina Catende cobraram a presença da Liga em suas áreas para hastear a bandeira vermelha da Revolução Agrária e realizar o Corte Popular; outros emocionados preferiram cantar, versos simples e belíssimos, repletos de esperança e confiança como este: “A Pitombeira é linda e vai ficar mais bela / com a Liga Camponesa conquistando ela” e encerrando com a frase: “A Liga Camponesa é o nosso lugar!”.

Manifestação: 1.000 camponeses nas ruas de Catende/PE

“Companheiro José Ricardo…  Presente!”

Um dos momentos altos do Congresso foi a homenagem ao líder camponês José Ricardo, morto em um trágico acidente de moto no dia 10 de agosto do ano passado. Durante todo o Congresso um grande, painel com a pintura de seu rosto, ficou estendido atrás da mesa simbolizando a presença de Ricardo na atividade. No encerramento, o pai e a irmã de Zé Ricardo, foram chamados à frente e receberam das mãos dos coordenadores da LCP uma foto de Zé Ricardo.

Logo após a homenagem os membros da nova Coordenação da LCP se dirigiram a mesa e tiveram seus nomes aprovados por unanimidade. Em uníssono foram feitos os juramentos da LCP, repetido o feito durante o enterro de Zé Ricardo. Terminava assim o 1º Congresso da Liga dos Camponeses Pobres do Nordeste.

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