Jacinópolis
No primeiro dia do ano de 2009 as famílias que vivem e trabalham no acampamento José e Nélio realizaram uma cerimônia de entrega dos Certificados de posse das terras. Desde 2007 as 60 famílias tomaram parte das terras da fazenda Condor, transformando o que era pasto e capoeira em terras produtivas.
Organizados pela LCP as famílias decidiram aplicar a Revolução Agrária, ou seja, não esperaram pela reforma agrária falida do governo, cortaram os lotes por conta e organizaram os Grupos de Ajuda Mútua para realizarem os trabalhos de roçada, construção de estradas, pontes, casas e plantio.
Hoje todas as famílias possuem casas e uma grande produção de arroz, milho, banana e mais de 60 mil pés de café plantados. Como dizem os camponeses: “Não existe mais fome”.
Toda a atividade foi preparada com antecedência, o barracão construído recentemente para receber a visita da missão internacional de advogados foi usado desta vez para realizar o almoço coletivo. Depois teve início a cerimônia, os membros do CDRA e da Liga falaram da importância e significado daquele ato para as famílias e relembraram vários momentos da luta na área. Uma a uma as famílias foram chamadas para receber seu título de posse, muitos ficaram emocionados, pois este é o sonho de toda uma vida que se concretiza. Ao final as famílias posaram para uma foto com os títulos em mãos.
Participaram na cerimônia também a Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres, camponeses de outras áreas, professores, pequenos comerciantes e apoiadores.
Após a realização da cerimônia os camponeses programaram uma pequena manifestação em Jacinópolis para propagandear a vitória coletiva e também divulgar a preparação de novas tomadas de terra.
Os camponeses se deslocaram até a Vila usando motos e um trator, com bandeiras vermelhas percorreram o pequeno povoado e distribuíram panfletos nas casas e comércios. A manifestação foi saudada com alegria pelo povo, muitos amigos e conhecidos que acompanharam estes anos de luta estavam juntos para dividir a alegria deste momento, pois afinal é uma vitória de todos os moradores da região que reconhecem que somente com o aumento das tomadas de terra é que haverá progresso para todos.
Raio do Sol e Canaã
Desde 2003 (Canaã) e fevereiro de 2006 (Raio do Sol) os camponeses cortaram os lotes por conta, distribuíram para as famílias e logo iniciaram a produção. Hoje a produção estimada para a próxima safra nas duas áreas é de 10.500 sacos de milho, 2.400 sacos de arroz, além de vários outros cultivos e criações.
Antes da chegada dos camponeses estas terras eram só cacaueiro abandonado, capoeirão e pasto quando estavam nas mãos de latifundiários grileiros, como o Sr. João Arnaldo Tucci que se dizia dono da fazenda “Só Cacau” mas não cumpriu o Contrato de Aluguel de Terras Públicas (CATP) que assinou com o Incra e ainda sugou muito dinheiro de financiamentos públicos. Ou como o deputado Ernandes Amorim que há 20 anos expulsou várias famílias que viviam nas terras da área Raio do Sol para roubar a madeira e fazer especulação imobiliária.
O Canaã passou por várias direções oportunistas que mantinham as famílias acampadas para fazerem suas negociatas de venda de lotes, até obrigavam os camponeses a derrubar de machado para desistirem da terra. No início de 2008, com a ajuda da LCP os camponeses expulsaram os oportunistas e colocaram cada família no seu lote.
Outra conquista muito importante dos camponeses foi agora em fevereiro quando vários se juntaram e prenderam o ônibus escolar dentro da área para exigir que ele atendesse também às crianças do Raio do Sol. As famílias já tinham ido várias vezes na prefeitura e promotoria, mas só conseguiram com a pressão, única linguagem que os governantes entendem.
Os camponeses sempre contaram com apoiadores e simpatizantes. Exemplo disto foi a visita em fevereiro de um grupo de estudantes da Universidade Federal de Rondônia no Canaã. Eles ficaram uma semana vivendo e trabalhando junto dos camponeses, ajudaram na construção do novo barracão da Assembleia e na colheita de arroz.
Nordeste
No Nordeste a Revolução Agrária dá seus primeiros passos e também entrega terra aos camponeses pobres. As famílias organizadas pela LCP aplicaram o primeiro Corte Popular da região em um dos engenhos que antes pertenciam a Usina de cana-de-açúcar Catende.
A Catende em sua essência não diferencia em nada do que era na época dos antigos coronéis. Ainda hoje, é um grande latifúndio de 27 mil hectares e o que se vê por lá é monocultura de cana-de-açúcar, fome e miséria espalhada entre milhares de trabalhadores.
Mas essa situação já começa a ser modificada, a Revolução Agrária está sendo aplicada, e hoje um dos 48 engenhos da Catende, o de Santa Luzia, pertence aos camponeses!
Para celebrar esse importante feito, a AP decidiu organizar a “Festa da Revolução Agrária”, onde foi feito a entrega dos títulos dos lotes aos seus proprietários, que o recebiam com muita emoção.
O título é reconhecido pela AP, LCP, Associação do Engenho e principalmente pelo povo que vive na região e tem um grande significado, pois representa a concretização do sonho de milhares de camponeses e é resultado de muito esforço e luta.
Cada título de posse vinha com o nome do proprietário, o número e a localização do lote e uma dedicação ao líder camponês Zé Ricardo, que foi um dos pioneiros na luta pela Revolução Agrária na região e um grande exemplo a ser seguido.
A chama da Revolução Agrária tem se espalhado, e hoje mais e mais camponeses de outros engenhos da Catende já começam a se organizar para aplicar a consigna de tomar todas as terras do latifúndio!