Seguindo o exemplo de outras áreas, as famílias iniciaram o corte popular das terras no dia 9 de novembro com a participação de homens e mulheres, culminando com a entrega dos lotes no dia 11 de novembro de 2009.
Durante o sorteio dos lotes muitos camponeses ficaram emocionados com a conquista de seu pedaço de terra, muitos deles alimentaram este sonho por toda a vida e só se realizou com organização e luta. Uma decisão importante da Assembleia Popular da área foi a de garantir um lote pra a família de Oziel Luna, relembrado pelos camponeses que orgulhosamente escolheram seu nome para homenagear mais uma conquista contra o latifúndio.
As famílias também organizaram o trabalho coletivo para derrubar em todos os lotes e garantir o início do plantio. De imediato já foram plantados arroz, milho, cacau, café e banana. Também foi através do trabalho coletivo que abriram uma estrada provisória com aproximadamente 6 km ligando os lotes à BR421.
No início de dezembro a polícia ambiental, que possui uma base operacional dentro da área do latifúndio, tentou despejar as famílias que com muita decisão e organização se mantiveram nas terras.
Assassinos de Oziel continuam impunes
Oziel era acampado na região de Jacinópolis e estava se preparando para produzir em seu lote. Ele estava em Buritis quando policiais civis a paisana em carro particular começaram a persegui-lo pelas ruas da cidade. Como Oziel não possuía carteira de habilitação não quis parar e durante a perseguição acabou caindo de moto.
Ao invés de prestar socorro, os policiais fizeram dois disparos a queima roupa que atingiram sua cabeça, provocando sua morte. Seu corpo foi levado pela polícia para Porto Velho e no laudo médico não constavam os disparos e sim que a morte teria sido provocada pelo acidente de moto.
Área José e Nélio (Jacinópolis / Buritis)
As mulheres da área José e Nélio organizaram festas do dia das mães, dia dos pais e dia das crianças. Tiveram almoços coletivos, celebrações, homenagens, teatro, músicas, sorteio de presentes, exibição de filmes e forró. A decoração era feita com murais da luta, faixas e bandeiras.
Participaram em média 150 pessoas do José e Nélio e áreas vizinhas, como Capivari e Jacinópolis. Todos contribuíam na arrecadação dos ingredientes e na preparação da alimentação e atividades culturais.
As ideias destas festas foram amadurecidas na reunião do núcleo do MFP – Movimento Feminino Popular nas áreas José e Nélio e Capivari, em julho passado. Atividades culturais, esportivas, de recreação e de integração são tarefas do MFP e são importantes para aumentar a união entre as pessoas.
Áreas Raio do Sol e Canaã
Hoje tem saído um caminhão carregado de banana por mês do Canaã e a previsão para breve é de aumentar para dois caminhões.
Uma comissão de camponeses do Canaã, Raio do Sol e LCP cercaram o prefeito de Ariquemes em Theobroma e exigiram a estrada para transportar as crianças para a escola e para escoar a produção, a compra de produção dos camponeses e materiais para a alfabetização de jovens e adultos. Depois, com apoio do diretor da Escola Municipal Mafalda Rodrigues, 8 ativistas reuniram-se com secretários de Ariquemes. Até agora, o que os camponeses conseguiram de concreto foi um ponto na feira de Ariquemes para venderem seus produtos.
Os camponeses estão atentos, porque ninguém mais confia nestes políticos eleitoreiros. Eles são bons em prometer e fazer demagogia, mas o povo só consegue seus direitos com muita luta.
Uma máquina contratada com recursos arrecadados dos camponeses do Canaã está fazendo uma estrada na área.
Camponeses resistem a ameaças de despejo
Em agosto o juiz de Ariquemes Danilo Augusto Paccini assinou mais uma liminar de despejo para o Raio do Sol. Os camponeses se prepararam para resistir e contaram com o apoio de camponeses do Canaã que ofereceram casa e alimentação, se dispuseram a reforçar a segurança, a vigiar as estradas e a soltar foguetes para avisar a entrada de estranhos na área.
A união entre as duas áreas já vem de longa data. Camponeses do Raio do Sol ajudaram seus companheiros do Canaã a fazer segurança para defender a área de possíveis invasores. Em 2006, após o último despejo do Canaã, vários pistoleiros ficaram tomando conta da área. Mas eles foram expulsos por camponeses das duas áreas unidos. Depois, os camponeses do Raio do Sol deram mais um importante apoio, desta vez numa reunião que desmascarou a comissão da época, que era mais uma “comessão” porque vivia de comer o dinheiro de venda dos lotes. A partir desta reunião, e depois com a direção da LCP, os camponeses do Canaã expulsaram a “comessão” e entregaram os lotes para cada família que puderam então começar a produzir.
Ainda existe ameaça de despejo para o Raio do Sol, mas os camponeses seguem resistindo. Esta disposição impediu outros despejos passados. Este espírito de luta tem garantido a terra para as famílias viverem e trabalharem. Não tem sido justiça nem gerentes do velho Estado, é o povo organizado na Revolução Agrária que tem o poder de conquistar seus direitos!
Terra Boa / João Batista
O fato recente mais importante no acampamento João Batista foi a mudança das famílias para seus lotes. Os camponeses cansaram de esperar pelo Incra e a reforma agrária falida do governo e agora estão animados, construindo seus barracos, plantando milho e arroz.
Gonçalo (Machadinho D’Oeste)
Em outubro de 2009 o Incra fez mais uma de suas promessas para as famílias do acampamento Gonçalo continuarem acampados na beira de estrada: “– Não se preocupem, até o final do ano o Incra vai entregar estas terras e vocês vão passar o natal no seus lotes!” Só esqueceram de falar o natal de qual ano.
Desiludidos com o Incra, no início de fevereiro os acampados começaram a fazer o corte popular das terras e a distribuir os lotes de 21 alqueires. Já começaram a construir os barracos e a mudar cada família para sua terra.