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Camponeses cortam terras

Camponeses da área Oziel Luna no início da tomada de terras
Camponeses da área Oziel Luna cortam as terras
Camponeses da área Oziel Luna no início da tomada de terrasNo dia 16 de agosto, 33 famílias organizadas pela LCP entraram em parte das terras da fazenda Condor no município de Nova Mamoré, um dos maiores latifúndios da região. Camponeses e pequenos comerciantes de Jacinópolis conscientes da importância da luta pela terra apoiaram com alimentos, roupas, ferramentas, calçados, lona, combustível, etc.

Seguindo o exemplo de outras áreas, as famílias iniciaram o corte popular das terras no dia 9 de novembro com a participação de homens e mulheres, culminando com a entrega dos lotes no dia 11 de novembro de 2009.

Durante o sorteio dos lotes muitos camponeses ficaram emocionados com a conquista de seu pedaço de terra, muitos deles alimentaram este sonho por toda a vida e só se realizou com organização e luta. Uma decisão importante da Assembleia Popular da área foi a de garantir um lote pra a família de Oziel Luna, relembrado pelos camponeses que orgulhosamente escolheram seu nome para homenagear mais uma conquista contra o latifúndio.

As famílias também organizaram o trabalho coletivo para derrubar em todos os lotes e garantir o início do plantio. De imediato já foram plantados arroz, milho, cacau, café e banana. Também foi através do trabalho coletivo que abriram uma estrada provisória com aproximadamente 6 km ligando os lotes à BR421.

No início de dezembro a polícia ambiental, que possui uma base operacional dentro da área do latifúndio, tentou despejar as famílias que com muita decisão e organização se mantiveram nas terras.

Assassinos de Oziel continuam impunes

Oziel da Silva Luna, o CarequinhaNo 24 de novembro de 2007 foi assassinado o camponês Oziel da Silva Luna, o Carequinha, de 28 anos.

Oziel era acampado na região de Jacinópolis e estava se preparando para produzir em seu lote. Ele estava em Buritis quando policiais civis a paisana em carro particular começaram a persegui-lo pelas ruas da cidade. Como Oziel não possuía carteira de habilitação não quis parar e durante a perseguição acabou caindo de moto.

Ao invés de prestar socorro, os policiais fizeram dois disparos a queima roupa que atingiram sua cabeça, provocando sua morte. Seu corpo foi levado pela polícia para Porto Velho e no laudo médico não constavam os disparos e sim que a morte teria sido provocada pelo acidente de moto.


Área José e Nélio (Jacinópolis / Buritis)

As mulheres da área José e Nélio organizaram festas do dia das mães, dia dos pais e dia das crianças. Tiveram almoços coletivos, celebrações, homenagens, teatro, músicas, sorteio de presentes, exibição de filmes e forró. A decoração era feita com murais da luta, faixas e bandeiras.

Celebração do dia do pais na área José e NélioAlmoço coletivo durante dia dos pais - área José e NélioCelebração do dia das mães na linha 3 em Jacinópolis

Participaram em média 150 pessoas do José e Nélio e áreas vizinhas, como Capivari e Jacinópolis. Todos contribuíam na arrecadação dos ingredientes e na preparação da alimentação e atividades culturais.

As ideias destas festas foram amadurecidas na reunião do núcleo do MFP – Movimento Feminino Popular nas áreas José e Nélio e Capivari, em julho passado. Atividades culturais, esportivas, de recreação e de integração são tarefas do MFP e são importantes para aumentar a união entre as pessoas.


Áreas Raio do Sol e Canaã

Transporte escolar garantido com organização e lutaO ano de 2009 foi de muita luta, trabalho, união e conquistas dos camponeses das duas áreas vizinhas, localizadas na divisa de Ariquemes e Theobroma e que têm ao todo 160 lotes.

Hoje tem saído um caminhão carregado de banana por mês do Canaã e a previsão para breve é de aumentar para dois caminhões.

Uma comissão de camponeses do Canaã, Raio do Sol e LCP cercaram o prefeito de Ariquemes em Theobroma e exigiram a estrada para transportar as crianças para a escola e para escoar a produção, a compra de produção dos camponeses e materiais para a alfabetização de jovens e adultos. Depois, com apoio do diretor da Escola Municipal Mafalda Rodrigues, 8 ativistas reuniram-se com secretários de Ariquemes. Até agora, o que os camponeses conseguiram de concreto foi um ponto na feira de Ariquemes para venderem seus produtos.

Construção da estrada do CanaãNo final de novembro houve um grave acidente no Canaã, que por pouco não acaba em tragédia: o ônibus que faz a linha deslizou e caiu de uma ponte, ferindo o motorista e a cobradora. A culpa não é da chuva, todo ano chove nesta época, todos sabem disto. A culpa é dos governantes que fazem as obras mal feitas para sobrar mais recursos para eles desviarem.

Os camponeses estão atentos, porque ninguém mais confia nestes políticos eleitoreiros. Eles são bons em prometer e fazer demagogia, mas o povo só consegue seus direitos com muita luta.

Uma máquina contratada com recursos arrecadados dos camponeses do Canaã está fazendo uma estrada na área.

Camponeses resistem a ameaças de despejo

Em agosto o juiz de Ariquemes Danilo Augusto Paccini assinou mais uma liminar de despejo para o Raio do Sol. Os camponeses se prepararam para resistir e contaram com o apoio de camponeses do Canaã que ofereceram casa e alimentação, se dispuseram a reforçar a segurança, a vigiar as estradas e a soltar foguetes para avisar a entrada de estranhos na área.

A união entre as duas áreas já vem de longa data. Camponeses do Raio do Sol ajudaram seus companheiros do Canaã a fazer segurança para defender a área de possíveis invasores. Em 2006, após o último despejo do Canaã, vários pistoleiros ficaram tomando conta da área. Mas eles foram expulsos por camponeses das duas áreas unidos. Depois, os camponeses do Raio do Sol deram mais um importante apoio, desta vez numa reunião que desmascarou a comissão da época, que era mais uma “comessão” porque vivia de comer o dinheiro de venda dos lotes. A partir desta reunião, e depois com a direção da LCP, os camponeses do Canaã expulsaram a “comessão” e entregaram os lotes para cada família que puderam então começar a produzir.

Ainda existe ameaça de despejo para o Raio do Sol, mas os camponeses seguem resistindo. Esta disposição impediu outros despejos passados. Este espírito de luta tem garantido a terra para as famílias viverem e trabalharem. Não tem sido justiça nem gerentes do velho Estado, é o povo organizado na Revolução Agrária que tem o poder de conquistar seus direitos!


Terra Boa / João Batista

Pelé foi atingido por 2 tiros a mando da latifundiária Maria Della LiberaMulheres da área Terra Boa na celebração do 8 de março - 2009Ficam em Rio Crespo os acampamentos Terra Boa, formado em outubro de 2007, e João Batista, criado em janeiro de 2009. Durante todos estes anos os camponeses tem enfrentado, junto aos vizinhos da área Lamarquinha, vários ataques do latifúndio e seus pistoleiros, já denunciados em edições anteriores do Jornal Resistência Camponesa. O pior de todos foi o atentado contra o líder camponês Pelé, no dia 12 de março de 2009, a mando da latifundiária Maria Della Libera, que se diz proprietária das terras do João Batista. Pelé foi atingido com dois tiros na perna e escapou por pouco de ser assassinado. Segundo informações de acampados, recentemente Maria Della Libera, se fazendo de arrependida, confessou que seu filho foi o responsável pelo atentado e tentou defendê-lo dizendo que ele tinha bebido muito. Os camponeses sabem que não podem confiar na justiça para condenar os responsáveis por tantos ataques.

Pelé foi atingido por 2 tiros a mando da latifundiária Maria Della LiberaNo dia 24 de janeiro de 2010, José Pierre esteve no acampamento pessoalmente, acompanhado de 6 pistoleiros e ameaçou retirar os camponeses na marra. Na tarde do mesmo dia um homem esteve no acampamento dizendo que estava a mando de José Pierre e de um juiz para trabalhar num plano de manejo e fazer um novo plano. É desnecessário dizer que a maioria destes planos de manejos são falsos.

Camponeses mudam para seus lotes e começam a produção

O fato recente mais importante no acampamento João Batista foi a mudança das famílias para seus lotes. Os camponeses cansaram de esperar pelo Incra e a reforma agrária falida do governo e agora estão animados, construindo seus barracos, plantando milho e arroz.


Gonçalo (Machadinho D’Oeste)

Em outubro de 2009 o Incra fez mais uma de suas promessas para as famílias do acampamento Gonçalo continuarem acampados na beira de estrada: “– Não se preocupem, até o final do ano o Incra vai entregar estas terras e vocês vão passar o natal no seus lotes!” Só esqueceram de falar o natal de qual ano.

Desiludidos com o Incra, no início de fevereiro os acampados começaram a fazer o corte popular das terras e a distribuir os lotes de 21 alqueires. Já começaram a construir os barracos e a mudar cada família para sua terra.

Depois de anos acampados, este é um importante passo dos camponeses do Gonçalo na luta contra o caminho oportunista de esperar pelo Incra.