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Festa do dia das crianças une ainda mais os camponeses

“As crianças são sementes do amanhã”, já dizia o poeta. Para homenageá-las as mulheres das áreas Canaã e Raio do Sol se uniram e organizaram uma grande festa.

Estas duas áreas são vizinhas e têm uma longa história de lutas e vitórias em conjunto. Estiveram sempre unidas nas resistências a despejos, na conquista do transporte escolar, nas reformas de estradas e pontes e na luta contra oportunistas. E o povo deve se unir também para se divertir e celebrar. Assim foi o Dia das Crianças: um dia de alegria que estreitou mais ainda os laços de amizade entre os camponeses.

Ao todo participaram mais de 200 pessoas, entre adultos e crianças, das áreas e visitantes. Teve almoço, bolo, refrigerante gelado, balas, pirulitos, desenho animado, música, presentes e brincadeiras. As crianças subiram no pau-de-sebo, pularam corda e jogaram futebol. Disputaram corrida de saco, corrida com coco na colher, dança da cadeira e cabo de guerra. O barracão estava todo decorado com bandeirinhas, flores e balões e em volta, estava tudo limpo e cheio de bancos nas sombras das árvores.

A comissão de mulheres que organizou a festa apresentou uma pequena homenagem às crianças e agradeceu a presença e a colaboração de todos. Uma camponesa e algumas crianças fizeram uma apresentação teatral que alertava os pais para terem uma boa relação com seus filhos. Duas igrejas fizeram orações.

Outro ponto forte da festa foi a homenagem a um líder do Raio do Sol que estava de mudança para ajudar a luta dos camponeses de outra área. Foi lido um pequeno texto que resumia seu trabalho, exemplo de liderança: sem arrogância, justo, que se preocupa com todos, firme e combativo. Ele recebeu presentes em nome de todos moradores.

A festa terminou com um animado forró, que durou pouco, para tristeza geral.

Uma grande festa precisa de grandes preparativos

Esta grande festa só foi possível com a organização das mulheres e o apoio dos camponeses, fazendeiros vizinhos e pequenos comerciantes. Um mês antes, foi criada uma comissão de 20 mulheres das duas áreas. Elas fizeram 4 reuniões, onde decidiram como seria a festa, fizeram ajustes e avaliaram. Tudo foi definido democraticamente, pela decisão da maioria. Formaram comissões do almoço, do bolo, de arrecadação nas linhas e na cidade, de decoração e de brincadeiras. Assim as tarefas não pesaram só para algumas.

Os moradores contribuíram com 5 reais e algum ingrediente pro almoço ou pro bolo. O refrigerante foi gelado nos refrigeradores de 3 fazendeiros vizinhos. Conseguimos emprestado entre os camponeses o motor que gerou energia, a caixa de som, TV e DVD, um refrigerador, uma Kombi, uma caminhonete, dois carros e várias motos que transportaram as companheiras de um lado pro outro, além de mercadorias e objetos de todo tipo.

Um camponês dono de um boteco próximo do barracão concordou em não vender bebida alcoólica no dia da festa. E cinco companheiros se organizaram numa comissão de segurança para apartar qualquer briga ou outro problema que surgisse. Felizmente eles não tiveram nenhum trabalho.

Nas cidades foram arrecadados mais alguns ingredientes, brinquedos e um pouco de dinheiro. O dono da empresa que faz o transporte escolar nas áreas cedeu o ônibus que conduziu os moradores para a festa. Como era de se esperar, não conseguimos muita coisa com os politiqueiros, que só sabem prometer. Quem mais ajudou foram os comerciantes, principalmente os pequenos, como os camelôs das feiras de Jaru e Ariquemes. Ao todo foi arrecadado quase R$600,00, usado para comprar os brinquedos e ingredientes que faltaram.

Apesar da festa ter sido organizada pelas mulheres, elas não fizeram tudo sozinhas. Homens e crianças também ajudaram em várias tarefas, desde a arrecadação e o transporte, até a limpeza do local da festa, a construção da cozinha e o abastecimento de água e lenha. Ao todo, mais de 100 pessoas fizeram algum serviço que ajudou na realização da festa.

É mais uma prova de que o povo unido e organizado pode resolver todos seus problemas e necessidades, desde uma festa, até uma luta por tomada de terra!

Mulheres e homens do povo ombro a ombro

Sempre que as mulheres se organizam, sente-se um desconforto no ar: “O que estas mulheres vão aprontar? Será que elas vão falar mal dos maridos, vão fofocar sobre a vida dos outros?” Mas ninguém se preocupa quando os homens se juntam. É o machismo, tão presente no nosso dia-a-dia e que temos que combater.

A cada tarefa que as elas dirigem, vão provando que não são inferiores aos homens e que também são capazes. As mulheres não querem ser mais nem menos que os homens. Querem estar lado a lado deles, na vida, no trabalho e na luta.