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Incra e ouvidoria agrária querem despejar famílias

Manifestação nas ruas de Corumbiara - 2011
camponês exibe fruto de trabalho e lutaEm nota, divulgada em nossa página na internet, o Codevise relatou que, “no dia 18 de agosto de 2011, sem nenhum aviso, chegou até a área revolucionária Zé Bentão (antiga Fazenda Santa Elina), a ouvidora agrária regional, senhora Márcia do Nascimento Pereira, e o delegado agrário recém transferido, Lucas Torres Ribeiro, acompanhados de vários policiais militares fortemente armados e outros à paisana”.

Após a inesperada “visita” que se repetiu alguns dias depois, os camponeses informaram que, além da postura intimidatória da comitiva, a ouvidora teria afirmado entre outras coisas que: “o assentamento não pode acontecer com a ocupação e as famílias têm que se cadastrar”; que “somente depois que saírem todas as famílias da área e não houver nenhuma ocupação é que o Incra poderia entrar para fazer o corte da terra”; que “o corte que foi feito não vai ser respeitado. plantio de sementesO Incra só reconhece o corte feito por um engenheiro credenciado, não adianta ser topógrafo”. E ainda, “só vamos tentar garantir 130 famílias das vítimas na Água Viva e não podemos garantir lotes para 300 famílias”. A ouvidora teria dito ainda que não iriam permitir que permaneça na terra “quem não estiver no perfil de reforma agrária” e que “a justiça é lenta, mas têm que esperar”.

Em sua nota o Codevise responde que “já caímos nessa cilada em 2008 quando fomos despejados com a promessa de que em 1 ano seríamos ‘assentados’, e mais uma vez não cumpriram com suas falsas promessas. E além do mais, boa parte da antiga Santa Elina já está cortada há mais de um ano, e tudo feito com as próprias mãos camponesas e sem precisar de nenhuma família ser despejada”.

Marco utilizado no Corte PopularOs camponeses organizados pelo Codevise, há 16 anos em luta pela terra, denunciam essa “prática antiga do Incra e particularmente da senhora Márcia” de “jogar famílias camponesas umas contra as outras”, “criar desentendimentos e contradições entre famílias na tentativa de desorganizar e facilitar seu sujo trabalho de enganar e enrolar o povo para no fim conduzir o processo de acordo com objetivos escusos e oportunistas”.

Sobre as provocações feitas pelo Incra e pela ouvidora agrária, que insistem em dizer que as terras da Santa Elina seriam direito de outras famílias “cadastradas”, os camponeses respondem que “desde que essas famílias estejam realmente dispostas a trabalhar, há ainda muita terra a ser cortada (Fazenda Maranata e Nossa Senhora) e não há nenhum motivo para tirar as famílias que já produzem na área Zé Bentão sendo que há tanta terra sobrando”.

E em relação as afirmações de que a justiça é lenta e é preciso esperar mais, o Codevise é enfático ao afirmar que “francamente, já cansamos de esperar! Já chega! Já são mais de 16 anos de enrolação!”

SÓ A REVOLUÇÃO AGRÁRIA CORTA E ENTREGA A TERRA PARA O POVO!

Nessa incursão na área Zé Bentão, o delegado agrário, Lucas Torres, além de endossar as palavras da ouvidora agrária, ameaçou os camponeses dizendo que “se fosse preciso iriam ‘fazer igual foi feito no Pará’, numa alusão a operação militar chamada ‘paz no campo’, porém mais conhecida entre os camponeses como ‘terror no campo’”. O resultado de tal operação foram milhares de camponeses despejados de suas terras, diversos casos de agressões e torturas e mais de 12 trabalhadores entre lideranças camponesas e apoiadores identificados e posteriormente assassinados por bandos armados do latifúndio na região.

Os camponeses rechaçam as provocações afirmando que o Incra não cortou terra alguma na última década em todo o cone sul de Rondônia, enquanto, através da luta, os camponeses organizados pelo Codevise, e contando com o apoio da Liga dos Camponeses Pobres – LCP, retomaram as terras da Santa Elina e cortaram a área revolucionária Zé Bentão “em mais de 290 lotes de 12 alqueires, sendo 4 alqueires de cada lote unificados numa área de reserva de mata coletiva. Esses lotes foram entregues às próprias vítimas e seus familiares e às pessoas que acamparam desde o início da retomada da área por ordem de chegada”.

Após mais de um ano produzindo nas terras, os camponeses não estão dispostos a perder tudo o que investiramUma camponesa presente nessa reunião com a senhora Márcia resumiu bem a realidade: ‘Tá vendo aquela faixa Márcia? É a mais pura verdade!’ A faixa que ela se referia tinha os seguintes dizeres: ‘SÓ A REVOLUÇÃO AGRÁRIA CORTA E ENTREGA A TERRA PARA O POVO!’

E o Codevise acrescenta que “o grande temor do Incra é de que nosso exemplo se espalhe e as pessoas se dêem conta de que o Incra e demais instituições do velho Estado não fazem falta alguma se elas tomam seus destinos em suas próprias mãos”.

Após mais de um ano produzindo nas terras, os camponeses não estão dispostos a perder tudo o que investiramOs camponeses exigem que o Corte Popular seja respeitado e que o restante das terras que antes eram do latifúndio sejam cortadas em outras centenas de pequenas parcelas para que mais famílias tenham acesso à terra.

E mais uma vez reafirmam a decisão de não desocupar as terras:

“Em 1995, nessa mesma área que hoje tomamos posse ocorreu um dos maiores massacres de camponeses no Brasil, como resultado de uma operação da polícia militar juntamente de pistoleiros comandados pelo latifúndio. Aquele dia 09 de agosto de 1995 também entrou para a história como um símbolo da luta camponesa em que a resistência impediu que o massacre fosse maior.

De lá pra cá, já se passaram 16 anos de muita luta e resistência e hoje nosso sonho se tornou realidade. A justiça começou a ser feita. Estamos em cima de nossos lotes, trabalhamos dignamente e tiramos da terra o sustento da nossa família. Temos nossas casas, nossas criações e produção. E não estamos dispostos a perder tudo isso que conquistamos com muito suor e luta.

Não queremos que se repita o 9 de agosto de 1995, mas reafirmamos, que dessa terra não vamos mais sair. Essas terras já foram regadas com o sangue de nossos companheiros e companheiras e estamos dispostos a defender e permanecer nelas custe o que custar!”