Estiveram presentes camponeses de diversas áreas de Rondônia, além de apoiadores da luta camponesa – estudantes, operários, professores, pequenos comerciantes e outros trabalhadores – vindos de Corumbiara, Cerejeiras, Rolim de Moura, Cacoal, Jaru, Ariquemes, Buritis, Porto Velho e dos estados do Pará, Minas Gerais e Paraná. Cerca de 450 pessoas participaram durante os três dias de atividades.
Quando foram avistadas as bandeiras vermelhas, uma para cada vítima, uma forte emoção encheu os corações de todos. A cerimônia foi iniciada com o hino da luta camponesa “Conquistar a terra”. Depois da leitura de um texto e poesias foram saudados os nomes das vítimas de Santa Elina e em seguida uma salva de foguetes rasgou os céus, somados aos gritos de: “Presente!”, “Nem que a coisa engrossa a Santa Elina é nossa!”, “Viva os heroicos combatentes de Corumbiara!”, “Viva a Revolução Agrária!”.
Na segunda-feira à tarde foi realizado um ato para celebrar o aniversário de 1 ano da retomada e conquista das terras da fazenda Santa Elina pelos camponeses. Após as falações de cada representante foi aberto para intervenções da plenária.
Cultura e integração
Um mural com fotos permitiu aos participantes conhecer um resumo da história da Batalha de Corumbiara, desde 1995 até hoje, com a Área Zé Bentão.
Depois foram apresentadas duas peças de teatro que ilustravam a luta camponesa. A primeira foi organizada por estudantes da UNIR e a segunda, por camponeses das áreas Canaã e Raio do Sol. Também teve contadores de causos e piadas, uma queima de fogos de artifício e baile de forró, que só foi parar altas horas. Quem esteve presente pôde ainda participar do torneio de futebol e bingo.
Um mar de bandeiras vermelhas pelas ruas de Corumbiara
Apesar de elementos oportunistas tentarem atrapalhar a realização das atividades com ameaças, boatos e sabotagens, a celebração do 9 de agosto de 2011 foi uma grande manifestação de força e uma contundente resposta a todos aqueles que vinham criminalizando e difamando a justa luta dos moradores da área revolucionária Zé Bentão.
Breve histórico da luta dos camponeses pela posse da fazenda Santa Elina 1995 – No dia 9 de agosto os camponeses protagonizaram uma heroica resistência ao massacre realizado pela polícia militar e bandos armados à mando do latifundiário Antenor Duarte e do então governador Valdir Raupp (PMDB). Onze camponeses assassinados e várias torturas, espancamentos e prisões. Diante da ocupação da fazenda o MST e Fetagro, negaram apoio aos acampados. A direção do MST delatou o nome de lideranças do acampamento para a polícia. 2001 – Fundado em Corumbiara o CODEVISE – Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina com o objetivo de organizar a luta em torno de tratamento médico, indenização para as vítimas e punição dos responsáveis pelo massacre. 2005 – O Codevise iniciou uma campanha através de entrevistas em rádios, televisão, matérias na imprensa escrita, panfletos, atos públicos e palestras na Universidade Federal de Rondônia e Acre. 2007 – As vítimas ficaram 23 dias acampadas em Brasília. Foram várias reuniões em que ficou acordado a indenização, o corte da fazenda e o reconhecimento do Codevise como representante das vítimas. Mas numa reunião em Ji-Paraná o ministro de direitos humanos Paulo Vanucci passou por cima do que foi acordado e nomeou a Fetagro como intermediadora entre as vítimas e o governo. 2008 – Cansados de esperar pelas promessas dos politiqueiros, no dia 11 de maio de 2008, cerca de 250 pessoas entraram na fazenda. Em setembro, após meses de provocações e ataques de pistoleiros, as famílias foram despejadas, mas mantiveram-se acampadas no assentamento Adriana. Os bandos armados do latifúndio continuaram os ataques. Também em 2008, a Corte Interamericana de Justiça da OEA – Organização dos Estados Americanos condenou o governo brasileiro como responsável pelo massacre e indicou a indenização das vítimas. 2010 – Em abril o Codevise apoiado pela LCP iniciou a mobilização para retomar a fazenda, que ocorreu no dia 25 de julho. A fazenda “Água Viva” foi cortada em mais de 250 lotes de 12 alqueires. Mais de 30% desses lotes foram entregues às famílias vítimas de Santa Elina. Em dezembro mais de 500 camponeses vindos de várias partes de Rondônia participaram da grande festa do Corte Popular onde as famílias receberam o certificado de posse das terras e aprovaram homenagear o líder camponês Francisco Pereira do Nascimento (Zé Bentão), dando seu nome a área. 2011 – O corte popular foi concluído e ampliado. Atualmente a área está cortada em mais de 290 lotes. Os camponeses persistem firmes na decisão de garantir que o corte realizado seja respeitado pelo Incra e de não arredar pé de dentro da área. |