Nos dias 22 e 23 de agosto foi realizado no campus da Universidade Federal de Rondônia o 5° Congresso da LCP-RO que contou com a participação de 410 pessoas entre camponeses, estudantes, professores, entidades e movimentos populares. Ao todo estiveram representadas mais de 20 áreas camponesas.
O Congresso aconteceu num momento de acirramento da luta pela terra na região, em que várias áreas camponesas foram ou estão ameaçadas de despejos e sofrem ataques de bandos armados a serviço do latifúndio em conluio com policiais.
Junto a esta situação temos visto uma escalada repressiva do Estado contra o direito do povo trabalhar. Exército, Ibama e Sedam atacaram principalmente as cidades de Machadinho, Cujubim, Ariquemes e Buritis que sobrevivem da extração da madeira. O INCRA atua como polícia, tratando de criminalizar e desmobilizar a luta camponesa.
Outra questão são os ataques aos direitos dos povos indígenas e as ameaças de despejo contra as populações ribeirinhas.
O Congresso encerrou um processo iniciado em junho com a realização de dezenas de reuniões e assembleias nas áreas e a mobilização para o Encontro de Delegados que pela segunda vez ocorreu na cidade de Vale do Anari, onde participaram cerca de 110 pessoas, sendo 65 delegados. No Encontro se realizou o balanço das atividades da LCP, o estudo mais aprofundado e aprovação das teses do Congresso. No Encontro de Delegados também houve a eleição da coordenação geral, responsável por desenvolver planos e garantir a aplicação das decisões do Congresso.
A partir do Encontro de Delegados foi dado um impulso na mobilização para o Congresso com o envolvimento de dezenas de pessoas nas áreas para as atividades de panfletagem, colagem de cartazes e painéis, além de comissões para arrecadação e organização do evento.
Cerimônia de abertura
Na sexta à tarde começaram a chegar as delegações.
A cerimônia de abertura contou com a participação de diversas entidades e movimentos populares de Rondônia, Pará, Nordeste, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, também estiveram presentes a vice-reitora da Unir Ivonete Tamboril, a pró-reitora de cultura extensão e assuntos estudantis Josélia Gomes Neves, professores da UNIR e um representante do povo Karitiana.
Após a abertura, teve início a parte cultural do Congresso. Foi exibido um vídeo com as lutas que ocorreram entre o 4° (agosto de 2005) e 5° Congresso.
Também houve a apresentação do músico Marcos Tupiniquim e a finalização com um forró.
Um mar de bandeiras vermelhas nas ruas de Porto Velho
No dia 23 pela manhã os participantes do Congresso iniciaram os preparativos para a manifestação. Após chegarem no centro da cidade organizaram as filas, faixas e bandeiras e ao som de tambores e fogos de artifícios começaram a manifestação que percorreu as principais ruas da cidade. O povo da cidade que estava esperando ônibus ou trabalhando se surpreendeu com o mar de bandeiras vermelhas nas ruas da capital e com as palavras de ordem nas faixas: “Eleição Não! Revolução Sim!”, “Viva a Revolução Agrária” e “Fora imperialismo da Amazônia”. Muita gente parou para ver e ouvir os manifestantes ou receber os panfletos. No encerramento da manifestação alguns participantes e representantes de entidades também falaram por alguns minutos na praça Aluísio Ferreira.
Com a palavra os camponeses pobres e seus aliados
A segunda metade do dia foi dedicada ao balanço das atividades da LCP, que teve início com a leitura de parte da tese e intervenção de coordenadores. Abriu-se espaço para intervenções da plenária e muitos camponeses falaram do balanço apresentado e fizeram denúncias da situação nas áreas. Um dos depoimentos mais marcantes foi o de um camponês de União Bandeirantes agredido pelo latifundiário Sebastião Conti Neto com um tapa nos ouvidos que provocou a surdez total de um ouvido e parcial de outro.
Homenagens
Durante o Congresso também foram homenageadas as vítimas de Santa Elina.
Outro momento marcante foi a apresentação do hino do MFP – Movimento Feminino Popular pelas companheiras presentes no Congresso.
Propostas
Na parte de resoluções foi ratificada a eleição da coordenação no Encontro de Delegados e aprovadas as seguintes propostas gerais de luta:
1. Unificar todo o movimento camponês para seguir tomando todas as terras do latifúndio,
2. Aprofundar a luta em torno da criação e funcionamento das AP (Assembleia Popular),
3. Realizar grande trabalho de agitação da Revolução Agrária com panfletagens e manifestações nas áreas, vilas e povoados,
4. Apoiar a luta dos povos indígenas pela demarcação de suas terras e pelo direito a autodeterminação,
5. Unificar todos os trabalhadores da Amazônia na luta pelos seus direitos.
Antes do encerramento ocorreu outro momento marcante que foi o juramento de todos os presentes perante a bandeira vermelha da LCP e a finalização das atividades com o canto de “A Internacional”.
Segundo nos relatou um dos organizadores no final do evento: “o 5° Congresso representou um salto na organização da LCP, pois atingimos todos objetivos propostos, realizamos uma grande agitação de nossas bandeiras em várias áreas do estado, lutamos pela arrecadação dos recursos em todas as áreas e ampliamos mais ainda a frente de apoiadores e simpatizantes. Este Congresso ficou marcado por maior unidade e maior clareza quanto aos rumos da luta camponesa e da necessidade de aprofundar a Revolução Agrária. Elegemos uma Coordenação ampla, mais preparada e decidida, o que resultará em mais organização e mais luta combativa. Enfim, o Congresso colocou na ordem do dia a falência da reforma agrária do governo, esta é uma posição unânime entre os camponeses e apontou o caminho da Revolução Agrária e de Nova Democracia como único caminho para emancipação e libertação não só dos camponeses, mas de todo o país. Pelas intervenções ficou claro que a Revolução Agrária está não só nas palavras dos camponeses presentes, mas principalmente em seus corações e atos”.