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Novas ameaças contra o acampamento Boa Esperança

Delson Pinto de Souza, proprietário legal da Área Boi D’Água, denunciou mais uma vez ao AND que está sendo ameaçado por agentes do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBIO). Delson vem há meses denunciando que as ameaças, inclusive de morte, ocorrem desde que deixou o acampamento camponês Boa Esperança se instalar na sua propriedade. Ele denuncia que isso incomodou os grileiros que, associados a setores do próprio ICMBIO, especulam com as terras da Floresta Nacional Bom Futuro.

A Área em questão é reconhecido pelo próprio ICMBIO desde 2009. Ele acredita que as ameaças, que não são novidade, ocorrem porque latifundiários grileiros têm interesse na área e buscam, por meio do ICMBIO, expulsar os pequenos e médios proprietários legais. Mas, Delson acredita que as ameaças intensificaram-se recentemente por conta de seu apoio aos camponeses do acampamento Boa Esperança.

Agentes do ICMBIO chegaram a invadir a casa localizada dentro do acampamento para intimidar os moradores. Essa prática dos agentes de se passar por policiais é constante na área, afirma Delson.

“Eles são os verdadeiros terroristas, ficam passando nos restaurantes, postos de gasolina, pequenos comércios e casas espalhando ameaças de morte.”, denunciou.

A campanha de terror envolve também chantagens legais, com o envio de cartas e multas ilegítimas e de procedência duvidosa contra os moradores da área. O próprio Delson recebeu no dia 3 de janeiro uma multa assinada pelo ICMBIO, apesar dos registros de sua propriedade nos arquivos do próprio órgão. Outros moradores e comerciantes também têm recebido multas arbitrárias, muitas vezes seguidas de interrogatórios e mensagens intimidadoras para serem dirigidas a Delson.

“A terra é minha, eu dou ela para quem eu quiser, e foi para o meu próprio povo”, reitera Delson, que demonstra alto nível de solidariedade para com o campesinato de Rondônia, apesar do bombardeio de ameaças da campanha de terror dos agentes do velho Estado. “Agora que eu passei minha terra para o meu povo eles tão me ameaçando. Eu não posso andar de carro que eles me seguem por dias inteiros.”, denunciou Delson.

No final do ano passado denunciamos em nosso Portal que outro apoiador da área, Dionísio Gomes de Oliveira, foi preso ilegalmente por agentes do ICMBIO, sendo obrigado a passar três dias sem dormir numa cela com água até o joelho, além de ter o carro aprendido e R$ 13 mil roubados.

Os camponeses da região acreditam que os agentes do Instituto (que, como agentes de uma portaria, não têm o papel de policiais) estão recebendo ordens de grileiros, mineradoras e latifundiários para abusar de sua autoridade e intimidar os camponeses que moram legalmente na Floresta Nacional Bom Futuro, visando expulsá-los e apoderar-se do território. O caso de Delson, que vive lá desde 1986, é um bom exemplo disso, cuja família mora na área antes de ela ser declarada Floresta Nacional. Entretanto, o exemplar camponês, apesar de tudo, afirma com coragem: “O mundo não foi criado pelo medo, e eu não carrego medo, mas eu sei que a qualquer momento uma tragédia pode ocorrer comigo”.

Camponeses do acampamento Boa Esperança
Camponeses do acampamento Boa Esperança