Advogados do Povo denunciam assassinato de líder camponês no Norte de Minas Gerais

A Associação Brasileira dos Advogados do Povo (ABRAPO) vem denunciar o assassinato extrajudicial do camponês Cleomar Rodrigues de Almeida, de 46 anos, no passado dia 22 de outubro, quando retornava à sua moradia no Norte de Minas Gerais. Cleomar era Coordenador Político da Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Sul da Bahia.

De acordo com informações recebidas e denúncias do próprio Cleomar, amplamente divulgadas, ele já havia sofrido ameaças dos latifundiários da Fazenda Pedras de São João Agropecuária e latifundiários vizinhos. Cleomar vinha denunciando as ameaças de morte sofrida ao Ministério Público Federal, INCRA e Ouvidoria agrária e ainda a participação de Policiais Militares, Civis e de um oficial de Justiça nas ameaças.

No dia 9 de outubro, Cleomar havia participado de uma audiência pública, convocada pelo MPF – Montes Claros, onde novamente denunciou, diante dos latifundiários da região, a atuação de bandos armados e as ameaças que ele e outros camponeses vinham sofrendo.

A Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Sul da Bahia distribuiu panfleto onde denuncia os seguintes fatos:

“Em uma audiência pública realizada nesta cidade no dia 9 deste mês, envolvendo mais de 30 comunidades, mais de 300 pescadores e camponeses repetiram as denúncias de graves violações dos direitos do povo nesta região, que vem sendo cometidas desde 2004 por um bando que envolve latifundiários, empresários, pistoleiros e policiais contra pescadores e camponeses ribeirinhos.”

Mais adiante, o panfleto diz expressamente: “ameaças são feitas à luz do dia por capangas armados, como o próprio Marquinho, elemento conhecido na região pela prática da pistolagem, o qual se sentiu encorajado a comparecer à audiência, rindo dos camponeses enquanto estes repetiam pela milésima vez as denúncias ao Ministério Público”.

Cleomar e os camponeses pobres do Norte de Minas Gerais são exemplos de luta do povo brasileiro, organizando por seus próprios esforços uma nova vida, comprometidos não só com a destruição do latifúndio, mas com a produção nas terras que ocupam. Cleomar organizava um grupo coletivo para a produção de mel nas suas terras, e participava das tarefas da comunidade. O mel produzido na Área Revolucionária Unidos com Deus Venceremos, onde morava com mais 35 famílias, foi levado a várias regiões do país e comercializado de maneira solidária. Em fevereiro de 2014, Cleomar levou seu trabalho e seu exemplo de luta ao 5º Congresso da Associação Internacional dos Advogados do Povo, e distribuiu uma bolsa com produtos da luta camponesa a cada um dos membros das delegações internacionais.

A ABRAPO denuncia assim o assassinato de Cleomar e manifesta sua solidariedade com seus familiares e companheiros de luta. Exigimos providências da Ouvidoria Agrária Nacional, do Ministério Público Federal, e da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. Que os responsáveis pelo assassinato de Cleomar sejam apontados e punidos, e que haja reparação integral aos familiares e à comunidade onde ele vivia, incluindo a apuração de todas as denúncias realizadas pelos camponeses contra os latifundiários da região, e que lhes seja assegurado o direito à terra e a uma vida digna.

JUSTIÇA PARA CLEOMAR!

Belo Horizonte, 26 de outubro de 2014

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