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Balanço do STR de Xapuri

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, fundado em 09 de janeiro de 1977, sob a pressão dos novos donos das terras do Acre, os então chamados “Paulistas”, construiu sua história de luta baseado na defesa dos direitos dos Seringueiros, Castanheiros, enfim, de todos que dependem da floresta. Seu principal instrumento de luta na época era a unicidade da classe, que ao ver suas colocações ameaçadas pelos grandes desmatamentos não mediam esforços para participar dos “empates”, assembleias, reuniões etc.À medida que se fortalecia o movimento, descobria-se a necessidades de construir instrumentos complementares para superar as deficiências detectadas, como: o analfabetismo que dificultava as mobilizações e contribuía na exploração da categoria, ausência de serviços de saúde nas comunidades entre outros.

A partir desse princípio e através de parcerias com entidades filantrópicas e um grupo de intelectuais progressistas é que em maio de 1981, inaugurou-se a primeira escola de alfabetização de adultos, com base na metodologia do renomado pedagogo Paulo Freire, conjuntamente trabalhou-se o cooperativismo e assistência a saúde, através da capacitação de pessoas das próprias comunidades, essas iniciativas foram inéditas no interior dos seringais.

Em outubro de 1985, realizamos uma grande mobilização, para o primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros com a participação dos estados do Acre, Rondônia, Amazonas e Pará, oportunidade em que foi fundado o Conselho Nacional dos Seringueiros, com o objetivo de ser o articulador e propositor de políticas públicas para os seringueiros. Vale ressaltar que foi também nesse encontro que foi idealizada a proposta das reservas extrativistas, como modelo alternativo de reforma agrária adequada à realidade dos seringueiros. Nesse mesmo período, já havíamos conseguido institucionalizar as primeiras escolas bem como, a contratação dos professores e agentes de saúde.

É importante lembrar que as principais conquistas do movimento sindical de Xapuri, ocorreram entre meados da década de 1980 e inicio dos anos 90, isto é, sob a pressão da ditadura militar e coalizão que a sucedeu.

E hoje, 21(vinte e um) anos após a morte de Chico Mendes. Quais as conquistas que o movimento sindical de Xapuri tem pra mencionar ou comemorar? Seria injusto dizermos que nada mudou ou melhorou, o município têm duas indústrias (de tacos e preservativo masculino); o asfaltamento da estrada da borracha; usina de beneficiamento de castanha; ensino fundamental e médio em várias escolas da zona rural; no entanto, do ponto de vista de melhorar a qualidade de vida em termos econômicos ocorreu para uma minoria, isso é inegável. Mas, a maioria dos trabalhadores rurais ainda não desfrutou desses “projetos modernizantes”, mesmo tendo uma indústria de preservativo absorvendo a produção do látex nativo, ainda é uma minoria de seringueiros que estão sendo beneficiados por faltar via de escoamento; nosso município está entre os que têm o mais baixo índice de desenvolvimento na educação básica; temos professores trabalhando há quinze anos na zona rural com contrato provisório; dos sete seringais que compõe a gleba Sagarana apenas um teve seu processo de regularização iniciado em 2007 e até o momento não foi concluído, isso demonstra a ineficácia do programa de reforma agrária do governo LULA; apesar do governo do estado ter passado o ano de 2009 divulgando o preço mínimo da borracha (Sernambi) prensado de R$ 3,50 (três reais e cinquenta centavos) com o subsidio.

O ano de 2009 está terminando e nenhum seringueiro conseguiu vender borracha desse preço em Xapuri, e sim de R$1,20; a castanha está no mesmo patamar de desvalorização; agricultura familiar está falida por faltar incentivos, grande parte dos produtos agrícolas consumidos em Xapuri vem de outros estados como é o caso do milho, arroz e o feijão; os 220 km de ramal que foram planejados recuperar em 2009, foi feito apenas um paliativo para o período seco; o programa luz para todos em Xapuri, transformou-se em programa de luz para poucos, causando grande revolta nas pessoas que acreditaram que era para todos. Se os serviços de saúde na cidade são precários, na zona rural ainda piores, existe apenas os agentes comunitários de saúde, sendo que a maioria com contrato provisório.

Não menos grave é o índice de trabalhadores rurais multados com multas exorbitantes, chegando ao ponto de terem seus parcos bens leiloados, como é o caso de Dona Francisca Ferreira Borges, moradora na RESEX Chico Mendes. O que mais nos revolta é que a justificativa pra todas essas multas é que os trabalhadores rurais estão devastando o meio ambiente, enquanto isso o governo federal pra proteger os interesses do agronegócio sanciona o Decreto Lei 7.029, Decreto esse que rebaixa as regras para crimes ambientais e concede anistia da ordem de 10 bilhões às multas aplicadas aos grandes proprietários rurais. Portanto, por essas razões e tantas outras, é que finalmente, reafirmamos nossa disposição de continuarmos na luta na defesa dos reais interesses dos trabalhadores rurais.

Xapuri – Acre, 18 de dezembro de 2009.

Diretoria do STR de Xapuri – Acre.