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Camponeses celebram a Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara

Estamos aqui reunidos presenciando e celebrando a destruição de mais uma parte do latifúndio, sabemos e temos dito que a cada punhalada que damos ele ficará mais fraco até que um dia morrerá pra sempre! É nisso que acreditamos e por esse objetivo temos lutado e seguiremos lutando! Façamos como os companheiros de Santa Elina para cravarmos a bandeira da Revolução Agrária por todos os cantos destruindo o latifúndio e construindo uma verdadeira e Nova Democracia em nosso país.”

Intervenção de membbro da FRDDP – Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo durante celebração de 15 anos da Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara, na antiga fazenda Santa Elina retomada pelos camponeses, em 2010.

Na noite do dia 9 de agosto, camponeses de Cerejeiras, Corumbiara e das Áreas Revolucionárias onde era a antiga fazenda Santa Elina celebraram a Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara. Relembraram e exaltaram um dos fatos mais importantes da história recente do Brasil, quando 600 famílias camponesas em luta pela terra resistiram a grande aparato de policiais e pistoleiros fortemente armados, cães de guarda do latifúndio.

Também foi ressaltado a vitória desta luta, bem como a necessidade dos camponeses das Áreas Revolucionárias Zé Bentão, Renato Nathan, Maranatã 1 e 2, Alzira Monteiro e Alberico Carvalho continuarem o caminho das famílias de Santa Elina, em 1995, de luta organizada e combativa. Estas, famílias, assim como os camponeses de todo o Brasil enfrentam multas e repressão da Sedam e ICM-Bio, têm que lutar muito para conquistarem maquinários, assistência técnica e preço justo pra produção, posto de saúde, ambulância e escola polo na área. Além de seguirem resistindo os camponeses afirmaram a necessidade de continuar avançando com a Revolução Agrária, tomando todas as terras do latifúndio, construindo um Brasil novo.

Bandeiras vermelhas e um mural com fotos e textos decoravam o local. Os presentes cantaram os hinos da luta “A Internacional” e “Conquistar a Terra” e gritaram palavras de ordens. Também foram apresentadas duas poesias em homenagem aos heroicos combatentes de Corumbiara. Uma banquinha foi montada vendendo o jornal A Nova Democracia, livros e outros materiais da luta popular.

Ao final do ato e em outra noite da semana seguinte, foram exibidos vídeos e fotos sobre o histórico e atualidade da luta vitoriosa dos camponeses de Corumbiara.


Escola Popular é batizada em homenagem

ao companheiro Antônio Dias

Camponeses batizam Escola Popular com nome de Antônio DiasO ato que ocorreu na turma da Escola Popular que está funcionando desde abril na antiga sede da fazenda Santa Elina. A Escola Popular aproveitou a ocasião para definir o nome da turma.

Foi apresentada a proposta de homenagem ao camponês Antônio Dias, participante da heroica batalha de 1995 e grande apoiador da Escola Popular que funcionava na linha VP-14, em Corumbiara. Filhos, netos e sobrinhos do companheiro estavam presentes. Foi lido um texto com um resumo da vida de Antônio Dias e vários camponeses interviram complementando e concordando com o justo tributo.

A proposta foi aprovada por unanimidade e com muita honra, a turma foi batizada de Escola Popular Antônio Dias.


A flor de Corumbiara*

Dorme filhinha do meu coração

Dorme Vanessa que a cuca

Vem pegar…

Não era dia, era noite escura,

Calada a noite assusta a madrugada.

E todos dormem. Vanessa dorme.

E todos sonham o mesmo sonho,

Um novo dia, a terra, o lar.

Não há mais silêncio e

Nem piar de aves.

Explodiu a noite em tiros,

Bombas e botas a pisotear.

Gritos de dor; pavor e morte.

Foge Vanessa que a cuca

Vai pegar…

Não é mais sonho, é real.

Levantar, gritar, correr, lutar.

O amanhecer em sangue,

A acordar a noite

Escurecendo o dia.

Só sete anos, sete primaveras,

De teu doce sangue semeado

Na terra em lágrimas regada,

Mil flores a nascer e espalhar

Teu pequenino sonho,

Grande luminoso que amanhã será.

Não é mais sonho é realidade

De novos sonhos prá se buscar.

Com seu sorriso todos esperando,

Cantando o canto que já vem vindo,

Com seus dedinhos

Fazendo as contas,

Do lindo dia que vai chegar.

* Poesia feita em homenagem à pequena Vanessa, covardemente assassinada pela polícia e pistoleiros na antiga fazenda Santa Elina, no dia 9 de agosto de 1995, com apenas 7 anos.


A heroicidade está em nós

Acaso foram em vão

Os gritos daquela tarde?

Onde estarão aqueles gritos?

Acaso o sangue derramado

Por centenas esvaiu-se no ar?

E a heroicidade daqueles homens

Terá sido mutilada pelos abutres?

Os gritos, o sangue e a heroicidade

Romperam a noite, companheiros

Estão em nós!

Os que pisam firme este chão

Em outras gargantas, outras veias seguem

Como outros combatentes

Com novos braços

Com novas pernas

Onde quer que derrotemos o inimigo

Tenham certeza, companheiros

Estarão conosco!


Viva o companheiro Antônio Dias!

Antônio Dias nasceu no dia 10 de novembro de 1957, no Paraná. Era um camponês como muitos outros que vieram de várias partes do Brasil para Rondônia em busca de uma vida melhor. Chegando aqui tiveram que passar por todo tipo de sacrifícios para conquistar seu pedaço de terra. Tonho, como era conhecido, participou da heroica batalha de Corumbiara com toda sua família. Ele aparece naquela foto histórica sentado, enfileirado, com a cabeça baixa e rodeado por policiais encapuzados.


Tonho - 2013
Antônio Dias

Mas Tonho nunca se arrependeu de ter lutado. Pelo contrário, seguiu ajudando e apoiando de várias formas a luta dos camponeses e da LCP em Corumbiara. Participou desde 1999 das discussões para a construção da Escola Popular junto com camponeses dos assentamentos Adriana, Vanessa, Verde Seringal e VP-14, participou de vários mutirões de construção, festas para arrecadar materiais. Também era da direção da escola, junto com professores, alunos e outros pais, que avaliava as atividades e discutiam os problemas dos moradores, como produção, estradas, energia elétrica. Participou do grupo de produção coletiva, de vários cursos de formação, seminários, encontros e congressos da LCP e da fundação do Codevise – Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina, em 2001.

Ele trabalhou em quase todas as fazendas da região, fazendo serviço braçal e serviços gerais. Nos últimos anos, mesmo com os problemas de saúde, estava muito animado e orgulhoso de produzir em seu sítio. Tratou de trombose no Socorro Popular em Belo Horizonte, mesmo assim não conseguiu evitar a amputação de uma perna. Mas nunca perdeu o bom humor e seu espírito de companheirismo. Faleceu no dia 19 de março de 2013, sua morte foi sentida por muitos companheiros, amigos e familiares que nunca vão esquecer seu exemplo de alegria e simplicidade.

Companheiro Antônio Dias: presente na luta!