Este aniversário foi uma demonstração de confiança das massas na Revolução Agrária, porque a superintendência do INCRA em Salvador, que responde por uma sucursal em Bom Jesus da Lapa quebrou todos os compromissos públicos feitos com as famílias, e por causa disto, 3 dias após as comemorações, venceria mais um prazo do acordo, firmado para que o órgão resolvesse definitivamente a situação das famílias, mas que nada fez.
Essa situação tem exposto às famílias à constante pressão de reintegração de posse, assinada numa canetada desde junho de 2009. Com tudo isso, as famílias não têm cedido às chantagens constantes à que são expostas e vem enfrentando com coragem a todos os ataques do latifúndio e do Estado.
As comemorações foram mantidas
Na cancela de entrada, uma placa com a pintura de homens, mulheres e crianças levantando suas ferramentas e o nome do Acampamento, uma bandeira vermelha da Liga e um cartaz de “Sejam Bem vindos”, com fitas e balões coloridos. Um pouco à frente um porteiro recebia os convidados. Do alto se ouvia o zum zum zum, os fogos e a sanfona, gritos infantis e a expectativa com o almoço coletivo, uma euforia tomava conta dos moradores.
Se não fosse a Assembleia Popular realizada logo depois do almoço, os discursos inflamados defendendo a Revolução, denunciando a burocracia e violência do Estado, os cartazes com fotos de manifestações, encontros, da tomada, de antigos companheiros, fotos das roças e uma mesinha vendendo literatura revolucionária e jornais democráticos, poderíamos dizer que estávamos numa festa junina na roça: eram bandeirolas, sanfoneiros, reizeiros, panelas borbulhando para todos os lados, tachos enormes fumegando com carne de bode, canjica… eram cavalos com cavaleiros uniformizados e jovens preocupados com a apresentação da quadrilha que viria à noite, iluminada por belas fogueiras e um lampião da escola que ficou aceso no caminho.
Nesta Assembleia, estiveram vários convidados, os companheiros do Norte de Minas viajaram de longe e saíram cedo para chegar a tempo, os quilombolas da Barra da Parateca também enfrentaram as péssimas estradas para chegar, foram dois, uma companheira que falou em nome da Associação, denunciando o despejo feito pela Polícia Federal e um companheiro, ambos agradeceram as manifestações de solidariedade recebidas recentemente. Uma participação importante também foi de um companheiro da FETAG e que representou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Malhada, colocando-se a disposição da Área, marcou presença também o “Seu” Constantino, suplente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Carinhanha, ele revelou uma luta dentro do sindicato quanto à apoiar ou não o acampamento e foi uma declaração, de solidariedade individual, muito importante.
Mas com certeza, a presença mais esperada e emocionante foi dos companheiros: Flávia e Wanderson, presos por dois meses neste ano em Montalvania e Manga pelos quais foi mobilizada uma grande campanha de libertação. Eles não eram conhecidos pessoalmente por todos na área e a presença causou grande comoção. Eles foram abraçados, beijados, responderam várias perguntas e depois foram abençoados, benzidos e até receberam patuás da sorte!
Mais tarde compareceram também algumas autoridades oficiais da cidade, almoçaram tardiamente, tiraram algumas fotos, conversaram um pouco e foram embora de Hay Lux.
O dia foi pequeno pra tantos acontecimentos, a corrida de argolinha terminou já no escuro, os reizeros fizeram a alegria com a folias-de-reis, seus instrumentos contagiavam um tipo de samba muito especial, seus lenços bordados no pescoço davam a autoridade para tomar conta da festa naquele momento. E o sanfoneiro teve que se virar com o resto da noite, o frio estava tamanho que ninguém se afastava da fogueira. E assim, terminou a festa do orgulho camponês: com sereno caindo e muita história pra contar.