Camponeses são espancados e torturados em Rio Alto

No dia 27 de junho pela manhã o latifundiário Dilson Caldato e sete pistoleiros fizeram dois camponeses de refém. Os dois camponeses um de 20 e outro de 18 anos estavam distantes do acampamento no momento em que foram emboscados, durante todo o dia foram submetidos a sessões de espancamentos e torturas com golpes de facão nas costas, chutes e cortes de canivete nos braços.

Enquanto eram espancados, o latifundiário ameaçou dizendo que iria matar e expulsar todas as famílias das terras para não perder a madeira cortada, pois já havia vendido para o irmão do vice-prefeito da cidade de Buritis pelo valor de um milhão e duzentos mil reais. O chefe dos pistoleiros foi identificado pelas famílias, é conhecido como Abelardi e foi funcionário do Incra em São Francisco do Guaporé/RO.

A situação de confronto se agravou depois que as famílias retomaram as terras em junho passado expulsando os pistoleiros da sede da fazenda. Desde então mais de 80 famílias organizadas pela LCP montaram três acampamentos na área que será cortada em 700 lotes. Segundo os camponeses uma segunda caminhonete da fazenda havia chegado na área ainda no dia 27, carregada com armamentos e munições para fazer a retirada das famílias.

Até o dia 28 cerca de treze famílias estavam cercadas pelos pistoleiros impedidas de circular de um acampamento ao outro.

Incra e PF acobertam crimes e grilagem de terras do latifundiário

Esta ação criminosa do latifúndio se deu apenas três dias depois de uma comissão do Acampamento ter se reunido com o Incra e com a Superintendência da Polícia Federal em Porto Velho com a finalidade de confirmar se a área onde estão acampados pertence ao Projeto de Assentamento Rio Alto ou é da Fazenda pertencente à família Caldato  (Edilson Caldato e seu filho Jonis Orlando Caldato) que tem por base um tal Título Definitivo Ubirajara.

Nos mapas do Incra a área de terras localizada da Linha 34 até divisa com P.A. Santa Cruz no município de Buritis são pertencentes ao Projeto de Assentamento Rio Alto com 730 lotes divididos. O técnico de Cartografia responsável por mostrar os mapas afirmou em tom de ameaça que os acampados estavam querendo saber muito e que a área era dos Caldato e ponto final.

Ocorre que no local existe uma área de mata de onde foi recentemente extraída grande parte da madeira que já está cortada e pronta para ser carregada. As Operações Arco de Fogo, retomada recentemente na região, e a recém lançada Arco Verde realizaram prisões de responsáveis pelo corte das madeiras, mas não fizeram nenhum registro de ocorrência de grilagem de terras pública.

A reunião com o INCRA reforçou a desconfiança dos camponeses de que os Caldato estão recebendo apoio para grilarem de terras públicas e para retirar a madeira como fizeram em outras áreas na região. Vale lembrar que a esposa de Edílson Caldato foi funcionária do Incra em Ariquemes.

A ouvidora agrária regional Dra. Márcia esteve no acampamento junto com o Comando de Operações Especiais da polícia militar para tentar desmobilizar as famílias (prática comum desta senhora que tem sido relatada por diversos acampamentos em Rondônia). Como não conseguiu ficou irritada com a resistência das famílias chegando a dizer que a terra era do latifundiário e que se o povo não saísse da área ela não se importaria se os pistoleiros matassem os camponeses. Poucos dias depois as famílias expulsaram os pistoleiros da sede.

O delegado da PF Beltran que estava na região disse aos acampados em tom ameaçador que o gado dos Caldato que estão dentro da área são de responsabilidade dos acampados, mas não responsabiliza o latifundiário por grilar terra pública ou atuar com bandos armados.

Ao que tudo indica, o latifundiário tem sido estimulado pelo Incra a expulsar as famílias de um projeto de assentamento antes que se inicie a regularização fundiária na região que na prática significará a transformação da noite para o dia de latifundiários grileiros em proprietários.

As famílias lutam pelas terras há quase um ano e estão decididas a resistir aos ataques do latifúndio e repudiam a ação do Incra que tem atuado como instrumento de desmobilização da luta pela terra em Rondônia. Qualquer coisa que venha acontecer com as famílias do acampamento Rio Alto é de responsabilidade do Incra por acobertar tantos crimes do latifúndio chegando ao ponto de incentivar o assassinato de camponeses.

Exigimos punição para o latifundiário Caldato e seu bando armado!
Tomar, cortar e entregar todas as terras do latifúndio!
Viva a Revolução Agrária!

LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

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