1. Nós 35 famílias camponesas assentadas no Para Terra I no município de Varzelândia estamos sendo ameaçadas de expulsão pelo próprio Estado para a suposta criação do “Território Quilombola do Brejo dos Crioulos”. Estamos sendo também coagidos a aderirmos ao suposto território num flagrante desrespeito a nossa autonomia como comunidade. É justo e necessário distribuir a terra para os camponeses pobres da região, mas acreditamos que isso deve ser feito tomando e cortando as terras do latifúndio e não dos camponeses pobres.
2. As ameaças de expulsão do Para Terra I são mais uma forma encontrada pelo Estado para nos dividir. Somos todos camponeses pobres, trabalhadores que lutamos por terra e uma vida digna. Muitos de nós temos parentes quilombolas (avós, tios, sobrinhos, genros, comprades, netos), muitos moradores do Para Terra I são casados com pessoas que farão parte do território quilombola e muitas pessoas que se consideram quilombolas vivem no Para Terra I.
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4. No Para Terra I produzimos milho, feijão, mandioca, abóbora, quiabo, tomate, cenoura, couve, alface, pimenta e muitos outros mantimentos e nossa produção abastece dezenas de mercados e feirantes de Varzelândia e São João da Ponte. Temos uma área irrigada de 12.48 hectares através da qual produzimos e comercializamos coletivamente vários produtos. No ano de 2011 produzimos mais de 1.800 kilos de sementes de abóbora e 1.418 kilos de sementes de alface. No ano de 2012, além da produção de 787 kilos de abóbora colhemos mais de 18.000 mil kilos de pimenta.
5. No ano de 2006 as famílias do Para Terra I, juntamente há várias comunidades da região consideradas quilombolas, com o apoio da Liga dos Camponeses Pobres e da Liga Operária, construímos de forma coletiva e independente do Estado a Ponte da Aliança Operário-Camponesa sob o ribeirão Arapuim entre as comunidades Para Terra I e Nossa Senhora Aparecida.
6. Na construção da ponte nós da comunidade Para Terra I tivemos papel fundamental participando ativamente de todo o trabalho que beneficia hoje dezenas de comunidades. Participaram centenas de pessoas da obra, entre elas dezenas de quilombolas das comunidades Araruba, Nossa Senhora Aparecida, Conquista da Unidade, Brilho do Sol, Boa Vista, Modelo, Furado Seco, São Vicente, Orion e Limeira.
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8. As crianças e jovens do Para Terra I estudam nas escolas da região e junto aos companheiros da Escola Popular desenvolvemos uma primeira campanha de alfabetização através da qual, cerca de 18 jovens e adultos aprenderam a ler e escrever. E, após muitos esforços, hoje temos uma escola municipal dos anos iniciais do ensino fundamental na qual estudam cerca de 40 crianças.
10. A comunidade do Para Terra I é conhecida e respeitada por toda a população de Varzelândia e região e um exemplo disso é a realização da já tradicional Feira de Produção que, em sua ultima edição no ano de 2012 em dois dias de intensas atividades, reuniu centenas de pessoas em apresentações musicais/artísticas e torneio de futebol, além de visitantes e apoiadores de Belo Horizonte e Brasília. Nesta feira participaram várias comunidades quilombolas, sendo os vencedores do torneio de viola conhecidos cantadores do Brejo dos Crioulos.
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12. Convocamos todo o povo de Varzelândia, São João da Ponte e região a apoiarem nossa luta pelo direito de vivermos e trabalharmos em cima de nossas terras, respeitando nossa autonomia econômica, política e cultural de respondermos nós mesmos sobre nossos destinos.
13. Conclamamos a todas as pessoas honestas e de bem, todas as autoridades e órgãos responsáveis ou relacionados à criação do Território Quilombola que se oponham a violência que representa a expulsão de nossas terras e/ou a inclusão forçada de nossa comunidade ao “Território Quilombola do Brejos dos Crioulos”.
Associação dos Trabalhadores Rurais do Para Terra I
Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Bahia
Fevereiro de 2013