Carta dos moradores de Jacinópolis

Jacinópolis,  27/03/2008

Ao povo de Rondônia e a todos compatriotas do Brasil,

Nós moradores do acampamento José e Nélio e do distrito de Jacinópolis viemos a público manifestar nosso desagrado contra as matérias mentirosas publicadas em jornais de Rondônia e na revista Istoé nas últimas semanas.

As matérias nos tratam como bandidos guerrilheiros e responsáveis por atos de violência e morte. Quando na verdade fomos e somos vítimas da violência dos latifundiários da região, seus bandos armados e a polícia.

Nunca a polícia ou a imprensa vieram aqui para investigar os bandos armados do latifúndio e seus crimes covardes contra os camponeses. Nunca a polícia veio até aqui para cortar terras e entregar para o povo. Sempre vem para despejar famílias, prender, humilhar e torturar.

E ainda querem que os recebamos de braços abertos? Tenha paciência!

A polícia ambiental e o Ibama também humilham e abusam dos moradores da região, prendem ferramentas, aplicam multas abusivas. Moradores das linhas 6 e 7 foram multados em mais de 20 mil (cada um) por uma queimada acidental em 10 alqueires. Mas o senador Amir Lando que desmatou 500 alqueires em 2006 na mesma área jamais foi multado, assim como outros latifundiários.

Dizem que desmatamos e retiramos madeira sendo que todas as serrarias de Jacinópolis foram fechadas. Os maiores desmatadores são os latifundiários, basta ver nas fotos de satélite, as áreas mais desmatadas estão nas fazendas.

O governador Ivo Cassol quando esteve em Jacinópolis em 2006, quando viu caminhões carregados de madeira exclamou: “isso é o progresso”. Na mesma ocasião fez campanha eleitoral prometendo construir postos de saúde, linha de energia, estradas e regularizar nossas terras. E agora nos trata como bandidos?

As famílias que hoje moram e trabalham em Jacinópolis conseguiram tudo que têm a duras penas de trabalho e suor e lutando contras as injustiças do latifúndio. Estas terras que antes pertenciam a meia dúzia de latifundiários e nada produziam além de pasto, hoje pertencem a mais de 1200 famílias, que produzem de tudo para seu sustento. Não precisamos trabalhar nas terras de fazendeiros, nem de empregados nas cidades, somos donos do nosso nariz.

As 200 famílias que cortaram seus lotes entre 2006 e 2007, produzirão este ano 1800 sacos de arroz, 2300 sacos de milho, 80 mil pés de café plantados, 400 sacos de feijão, lavouras de banana, cacau, mandioca, urucum e criações de galinha e porco. Mais de 90% construíram casas.

Hoje a região conta com mais de 8 mil cabeças de gado, sendo que a maioria do leite é subutilizado pois não temos estradas para escoar a produção diária. Isso sem falar na produção das demais famílias que é muito maior.

Com nosso trabalho abrimos comércios, plantamos, construímos nossas casas, estradas e pontes. Agora querem nos expulsar daqui! Vamos lutar por nosso direito de trabalhar!

Mais e mais famílias estão tomando terras na região. Recentemente um acampamento de 400 famílias foi montado e logo cortarão as terras da fazenda Porto Franco com 25 mil alqueires.

Os que se incomodam com o aumento de camponeses na região são os latifundiários e seus aliados, pois só eles têm medo de perder as terras griladas da União.

Os pequenos comerciantes, os camponeses e o povo só têm a ganhar.

Exigimos ser tratados com respeito e dignidade e não como bandidos!
Queremos a regularização de todas as terras não repressão!

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