O Encontro de Delegados da LCP – Nordeste ocorreu nos dias 5, 6 e 7 de dezembro em União dos Palmares, contando com 110 delegados representando as 20 áreas e 3 estados organizados pela Liga. A pauta central do Encontro foi o balanço de um ano de atuação do movimento na região. Outro tema bastante discutido foi a crise econômica do sistema capitalista e seus impactos na agricultura e a criminalização do movimento camponês. Após o Encontro, com uma nova Coordenação eleita, todos os delegados partiram para suas áreas para organizar o povo para participarem do Congresso.
20 de dezembro, foi o grande dia, a concretização de um ano de muita luta e esforço. A cidade não poderia ser outra: Catende – PE; para o governo “modelo de reforma agrária”, para os camponeses e para a LCP exemplo de fracasso das políticas governamentais. 800 camponeses atenderam à convocação da Liga. Às 9 horas, quase todas as delegações haviam chegado, alguns ônibus de Alagoas saíram de suas áreas 2 horas da manhã, os companheiros do Ceará enfrentaram 16 horas de viagem. Uma Kombi com estudantes, professores e operários veio do Recife; de Maceió também vieram estudantes e um professor da UFAL. Todos que iam chegando faziam o credenciamento e logo entravam para a fila do café. Os olhares atentos da Comissão de Segurança identificaram um policial à paisana que logo desistiu de espiar os camponeses organizados. Às 10 horas deu-se início a abertura do Congresso. Todos de pé cantaram o hino “Conquistar a Terra” e repetiram as consignas de “Conquistar a terra! Destruir o latifúndio!”, “Viva a Revolução Agrária!” e “Resistir, Lutar, Construir o Poder Popular!”.
Era visível no rosto dos camponeses a satisfação com o vitorioso Congresso. Com a “palavra franca” muitos tomaram o microfone para falar de sua satisfação em estar ali; presidentes de Associações de Engenhos da Usina Catende cobraram a presença da Liga em suas áreas para hastear a bandeira vermelha da revolução agrária e realizar o Corte Popular; outros emocionados preferiram cantar, versos simples e belíssimos, repletos de esperança e confiança como este: “A Pitombeira é linda e vai ficar mais bela / com a Liga Camponesa conquistando ela” e encerrando com a frase: “A Liga Camponesa é o nosso lugar!”.
Um dos momentos altos do Congresso da LCP foi a homenagem ao companheiro José Ricardo, morto em um trágico acidente de moto no dia 10 de agosto do ano passado. Durante todo o Congresso um grande, painel com a pintura de seu rosto, ficou estendido atrás da mesa simbolizando a presença de Ricardo na atividade. No encerramento, o pai e a irmã de Zé Ricardo, foram chamados à frente e receberam das mãos dos coordenadores da LCP uma foto colorida do companheiro. A irmã de Ricardo, Maria, fez uma bonita intervenção contando o início da militância de seu irmão, as preocupações iniciais da família. Falou como Ricardo tinha um amor infinito ao povo, como se dedicava inteiramente a causa, mas sempre sobrava um tempo para dar atenção a sua mãe. A irmã de Ricardo foi aplaudida de pé pelos camponeses da Liga, que guardam uma admiração inesgotável pelo companheiro.
Logo após a homenagem os membros da nova Coordenação da LCP se dirigiram a mesa e tiveram seus nomes aprovados por unanimidade. Em uníssono foram feitos os juramentos da LCP e repetido o feito durante o enterro de Zé Ricardo. Terminava assim o 1º Congresso Nordeste da Liga dos Camponeses Pobres.
Um ano de Liga no nordeste
O resultado de pouco mais de um ano de atuação da Liga dos Camponeses Pobres no Nordeste é de fato surpreendente. O dia 5 de setembro de 2007 marca o início de suas atividades na região com a tomada da Fazenda Bom Destino, no município de Cajueiro, Alagoas. De lá para cá muita coisa aconteceu. Após enfrentar os desafios iniciais da construção do trabalho, somado as perseguições dos órgãos do governo e ataques das direções oportunistas, que viram suas posições confortáveis ameaçadas pelo surgimento de um movimento combativo, a LCP cresceu a passos largos.
Claro que todo este avanço se deu em meio a muitas dificuldades. Primeiro contra a própria política fracassada de “reforma agrária” do governo Lula/FMI; contra as reintegrações de posse; as ameaças veladas e descaradas da Ouvidoria Agrária; e os choques com o aparato repressivo do Estado. Depois, a tentativa de criminalização e a repercussão em Alagoas da campanha difamatória da revista “Isto É” contra a LCP em Rondônia. Houve ainda a prisão do companheiro Fábio, que continua detido até hoje como preso político do latifúndio. E por último, a luto contra o oportunismo dentro e fora do movimento.
Tem sido nesta elevada temperatura que a LCP nordeste vem se forjando, dando passos largos e firmes, com um crescimento ousado e seguro. Assim que chegou ao seu 1º Congresso organizando mais de 1.000 famílias camponesas, espalhadas em 20 áreas e 3 estados da região. Por antecipação seu 1º Congresso era já vitorioso.