O que muitos até agora não conseguem entender é que parece que tudo nasceu daquele pequeno Sindicato de Trabalhadores Rurais – STR, dos tantos criados pela Confederação dos Trabalhadores na Agricultura nos anos 70. O STR de Xapuri tornou-se mundialmente famoso por seu líder Chico Mendes impulsionado pela polêmica ambiental movida principalmente por ONG’s contra o Banco Mundial, daí a impressão que foram tantas vitórias onde os seringueiros contam como aliados o governo federal, estadual, o prefeito da cidade, ministros, senadores. Porém no meio de tudo isso a dura realidade dos camponeses (seringueiros, agricultores, trabalhadores diaristas etc.) que parecem ser um obstáculo às reservas, eles precisam viver, criar animais, plantar e as normas criadas parecem feitas contra eles.
No meio de tudo isso ainda nos anos 80 uma mulher se destacou como Presidente do Sindicato Dercy Teles de Carvalho Cunha que passou por situações inusitadas de machismo e depois de reconhecimento de seu destemor e tranquilidade no enfrentamento dos latifundiários, ainda presentes na região, agora ela é novamente presidente do Sindicato e candidata à reeleição no próximo dia 02 de maio de 2009, com a palavra, que está sendo negada pela ordem que ela também ajudou a construir.
Como você avalia a situação dos sindicatos de trabalhadores rurais no Acre hoje? E as demais associações e cooperativas dos seringueiros?
Dercy – A situação da maioria dos sindicatos, associações e Cooperativas, é estarem a serviço do governo, ou seja, para legitimar as ações do poder público, e daí, o governo em seus discursos poder falar que suas ações tem a participação dos trabalhadores. Quando na verdade, quem participa são os pelegos que se dizem representantes dos trabalhadores, eleitos entre eles mesmos.
Em novembro de 2008 quando ocorreu a operação do IBAMA denominada de “Reserva Legal” que impacto isto teve sobre a vida dos camponeses e seringueiros da Reserva extrativista Chico Mendes? Por que o STR de Xapuri foi a única organização dos trabalhadores a divulgar uma nota de repúdio a ação do IBAMA na reserva?
Dercy – O impacto ainda permanece,e está longe de ter fim, as famílias continuam inseguras em suas colocações, sem saber como vai ser o amanhã, porque a cada dia surgem novas proibições que futuramente vai impossibilitar os trabalhadores e trabalhadoras de viver na floresta, hoje mesmo, saiu no jornal, que os ministérios públicos Federal e Estadual ingressaram com uma ação civil pública* conjunta para proibir o uso de fogo por produtores em todo o Estado.Essa ação também prevê que sejam fornecidas pelos órgãos ambientais alternativas técnicas e práticas para o uso das queimadas no processo de produção agrícola.Só que quem conhece as ações do estado em nossa região sabe que esse discurso é feito todo ano na época do desmate e prática, até hoje não temos, então é uma situação de muita incerteza pra todos nós.
Com relação ao posicionamento do Sindicato, frente a OPERAÇÃO RESERVA LEGAL, ser o único a se manifestar contra é porque, essa operação é atendendo o pedido dos demais sindicatos, com exceção do sindicato de Epitaciolândia que na época não existia.Que em conjunto com as associações que representam os moradores Reserva e o Conselho Nacional dos Seringueiros solicitaram ao ministério público federal essa operação, alegando que os moradores da RESEX estavam destruindo a floresta, sem levar em consideração, a falência do extrativismo e a falta de alternativa pra gerar renda e garantir a sobrevivência dessa população,bem como a inoperância do próprio movimento no sentido de cumprir o seu papel de propositor de ações que beneficiem essa população.Portanto, os demais não podiam se opor ao que eles propuseram.
O STR de Xapuri não conseguiu nenhum advogado para defender os seringueiros nos processos que estão respondendo na justiça federal por crime ambiental. O que ocorreu com as Organizações, advogados e intelectuais que firmemente apoiaram a causa da luta dos seringueiros no duro período dos anos de 1970 e 1980?
Dercy – Por essa razão que acabei de citar acima. Essas organizações embarcaram no discurso de defender a natureza sem levar em conta que as populações tradicionais são parte desse meio e precisam continuar vivendo e vivendo com dignidade, que desenvolvimento é esse? Que só promove a pobreza pra quem já é pobre?
Fonte: Myris