Famílias do acampamento Monte Verde seguem ameaçadas

Pistoleiro da regiãoO Acampamento Monte Verde, no município de Monte Negro, são terras públicas destinadas a reforma agrária que foram griladas por latifundiários. As famílias acampadas desde 2013 já procuraram representantes estaduais e nacionais do Incra, Programa Terra Legal e Procuradoria Federal junto ao Incra mas até agora nada foi resolvido. Sempre denunciaram toda sorte de violência cometida por pistoleiros e policiais a mando do latifundiário Nadir Jordão dos Reis, que se diz o dono das terras. A polícia e a justiça só apareceram para perseguir, despejar e prender os camponeses.

As denúncias mais recentes dão conta de que 13 crianças ficaram várias semanas sem estudar, com medo de ataques de pistoleiros e que policiais militares estão fazendo escolta para caminhonetes da fazenda. É uma situação grave, ainda mais porque a região de Buritis é onde o latifúndio é mais violento em Rondônia.

Região com grande histórico de violência contra camponeses

Pistoleiro da regiãoO acampamento está localizado na fazenda Jordão, de mais de 1.200 alqueires e que faz parte da Gleba Rio Alto, que junto da Gleba São Sebastião, somam aproximadamente duzentos mil hectares que se estendem por 7 municípios. Na década de 1980, as duas glebas foram cortadas e piqueteadas pelo Incra em 4 mil lotes de 50 hectares. Eram destinados a reforma agrária, mas foram grilados por fazendeiros e latifundiários.

Há dois anos os camponeses criaram o acampamento, cortaram os lotes por conta e distribuíram entre si. Desde então vêm sofrendo ataques de pistoleiros de Nadir Jordão, incluindo policiais. As famílias denunciaram agressões, maus tratos e tiros contra o acampamento. O advogado dos acampados, Dr. Ermógenes Jacinto de Souza também denunciou que foi ameaçado de morte. Forte aparato policial já despejou o acampamento inúmeras vezes, destruíram os barracos e prenderam homens, mulheres e crianças.

Várias reuniões de negociação foram feitas desde julho de 2014. Mas apesar do Incra confirmar que as terras do acampamento Monte Verde são da União e que tem interesse na área para fins de reforma agrária Nadir Jordão só abriu mão de 280 alqueires e em troca do Incra regularizar o restante da fazenda em seu nome. Os camponeses que reivindicavam 875 alqueires não aceitaram o acordo.

20 anos após a resistência de Corumbiara aumentou a repressão sobre o camponês que luta pela terra

No próximo dia 9 de agosto completarão 20 anos deste que foi um dos fatos mais graves da história do Brasil, mundialmente conhecido como massacre de Corumbiara. Desde então, aumentou a concentração de terra no Brasil e aumentou o número de camponeses assassinados por pistoleiros e policiais a mando de latifundiários que seguem impunes. O Incra está falido, não tem verba para combustível para levar cesta básica aos acampamentos nem para crédito de celular, menos ainda para fazer a reforma agrária falida do governo. A presidente Dilma ostenta o vergonhoso título de presidente que menos assentou famílias desde o regime militar.

Pistoleiros da regiãoIsto só incentiva a violência do latifúndio, como ocorre na região de Buritis. Em dezembro passado o fazendeiro Caubi Moreira Quito confessou para um delegado da Polícia Civil de Buritis que contratou policiais militares para fazerem serviço de pistolagem, só confirmando o que todos já sabiam. Em julho, um apoiador da luta camponesa foi assassinado em Buritis. Nos primeiros meses de 2015 pelo menos 7 pessoas foram assassinadas em Rio Pardo, todos defendiam o direito de 300 famílias despejadas em 2013 voltarem para suas terras. Isto sugere a existência de um grupo de extermínio a serviço de latifundiários.

Em outubro passado, policiais denunciaram que um oficial e um ex-comandante do 7º Batalhão da PM (Ariquemes) comandavam um grupo de extermínio na região. Acreditamos ser o major Ênedy Dias Araújo, antigo inimigo dos camponeses, desde quando fora comandante da PM em Jaru. Apesar disto, em julho o governador Confúcio Moura chegou a cogitar seu nome para assumir o sub comando da PM no estado. Esta denúncia foi feita em Porto Velho, numa reunião da Comissão de Combate à Violência no Campo presidida pelo ouvidor agrário nacional, Gercino José, que mais uma vez não tomou nenhuma medida concreta. Isto prova que não é um fato isolado, de maus elementos, é uma política de Estado.

É urgente que camponeses, trabalhadores da cidade, professores, estudantes, pequenos e médios comerciantes e proprietários conheçam a luta dos camponeses dos acampamentos de Buritis e região e que ajudem a pressionar Gercino José ouvidor agrário nacional, o Incra e o Terra Legal a retomar as terras da fazenda Jordão para os camponeses. Qualquer violência cometida contra os acampados será da responsabilidade deles.

Lutar pela terra não é crime!

O camponês quer terra, não repressão!

Terra para quem nela trabalha!

LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

Jaru, 06 de agosto de 2015

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