Famílias são despejadas e ônibus amanhece queimado

 No dia 27 de maio as famílias camponesas quilombolas da comunidade Barra da Parateca (Carinhanha/BA) foram surpreendidas por viaturas da Polícia Federal, acompanhadas de Oficiais de justiça que sorrateiramente adentraram a área de plantio dos camponeses enquanto estes estavam na Vila e com ajuda do cunhado e gerente do latifundiário e juiz João Batista, destruíram inteiramente os barracos, as roças e hortaliças passando um trator do próprio latifundiário sob mais de 20 hectares de plantação.

De acordo com a Associação Agropastoril Quilombolas da Barra da Parateca, o prejuízo é incalculável. Essa área está em litígio há muitos anos, pois se trata de 50 hectares de terras que o latifundiário juiz, nascido e criado na comunidade, reivindica como suas, acontece que esta área já foi desapropriada pelo INCRA desde 1974 e concedida aos quilombolas que lá vivem gerações e gerações e agora por um mandado judicial federal, foi reintegrado a posse ao latifundiário.

A situação foi tão absurda que sequer as famílias foram informadas para retirarem seus bens ou tentarem um acordo, o que constatamos tratar de revanchismo sob as famílias e perseguição contra a associação, pois é sabido por todos daqui, que este latifundiário sempre explorou a mão de obra destes trabalhadores e que pagava quem ele quisesse e sempre usou da força e coação para oprimir os camponeses, mas agora que os camponeses estão conscientes de seus direitos e se organizaram na associação, as coisas mudaram.

Na noite após o despejo, o ônibus do gerente que inclusive pilotou o trator do despejo, amanheceu completamente incendiado, fruto da revolta popular e prova de que muita coisa por ali está mudada. Logo as rádios da cidade anunciaram que o povo da Barra da Parateca queimou o ônibus do Gercino e que o mesmo havia perdido o instrumento de trabalho que sustentava sua família, tachando o povo de baderneiro, fazendo acusações mentirosas contra os membros da associação e ameaçando o povo com processos coletivos etc. e nenhuma palavra sobre as roças, sobre as humilhações sofridas e sobre a injusta decisão judicial.

No dia seguinte visitamos os companheiros que ficaram muito gratos com o apoio e disseram estar dispostos a não se calarem, foram à rádio no terceiro dia e denunciaram o despejo e a ação do latifundiário e seus puxa-sacos. A repercussão foi imediata, a população de Carinhanha se manifestou em defesa dos quilombolas e preparamos conjuntamente a nossa Segunda Audiência Pública de Carinhanha. Essa foi uma pequena amostra do que tem sido a reforma agrária do governo Lula, num estado em que o governador é do PT, num município em que a prefeita é do PT e foi uma amostra também da disposição de luta dos camponeses.

Abaixo a criminalização do Movimento Camponês!

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