Grande festa celebra a luta camponesa e a união do povo

No dia 25 de janeiro, aconteceu uma grande festa para celebrar a união e a luta camponesas, realizada pela LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental e pelos camponeses das áreas Renato Nathan 2, Canaã e Raio do Sol, em Ariquemes, Rondônia. Mais de 200 pessoas prestigiaram o evento, camponeses, professores, estudantes, advogadas, médicos e trabalhadores da capital, de outras cidades do interior e de outros estados brasileiros.

O barracão da Assembleia do Renato Nathan 2 foi todo enfeitado com bandeiras, cartazes e murais sobre a luta camponesa e sobre a luta popular em geral. A celebração iniciou com um ato político e uma singela homenagem a José Messias, camponês exemplar, morto em novembro passado, vítima de câncer. Em seguida, foi aberta a palavra para representantes de movimentos populares e das áreas camponesas presentes. Coordenadores da LCP denunciaram o assassinato covarde do camponês Cleomar, líder da LCP do Norte de Minas por pistoleiros a mando de latifundiários, assim como muitos outros mártires da luta pela terra. Estudantes falaram da prisão absurda de Igor Mendes e de vários outros estudantes e trabalhadores do Rio de Janeiro por terem participado dos protestos populares de 2013 e 2014. Todas falas destacaram a importância da Revolução Agrária, luta dos camponeses pela conquista de seus direitos mais urgentes e de todo povo como parte de uma revolução maior que irá construir um novo Brasil.

Depois de um almoço delicioso e farto, teve brincadeiras com as crianças, bingo e bazar de roupas usadas. Um forró animado entrou noite adentro e ajudou a socar o piso recém construído. A festa também inaugurou o barracão da Assembleia, feito em tempo recorde – apenas 9 dias! Esta importante obra coletiva é mais um símbolo da união camponesa e de todo o povo. Sua construção e a própria festa só foram possíveis graças ao trabalho de 80 pessoas que serraram a madeira, projetaram o barracão, transportaram pessoas, madeira, material de construção e de cozinha, vacas e mercadorias arrecadadas, construíram o barracão, fossa, banheiro, poço, mesas, bancos, barracas para o churrasco e para o motor, arrecadaram alimentos entre os camponeses e entre comerciantes da cidade, convidaram de casa em casa nas 3 áreas e nas rádios, mataram, limparam e descarnaram duas vacas para o churrasco, prepararam a comida para os trabalhadores em todos os dias de obra e para a festa, decoraram o barracão e fizeram a limpeza.

Uma ajuda fundamental foi dada por estudantes do MEPR – Movimento Estudantil Popular Revolucionário que estavam na área realizando sua tradicional Atividade de Férias, junto de professores e trabalhadores. Eram mais de 10, vindos de várias cidades de Rondônia para conviver e aprender com os camponeses, na sua vida, trabalho e luta cotidianos. É uma atividade importante que estreita os laços entre os jovens e trabalhadores do campo e cidade.

Resistência ao despejo da área Canaã

A festa aconteceu numa boa hora, quando os camponeses do Canaã estão enfrentando outra ordem de despejo absurda. A juíza estadual Elisângela Nogueira, de Ariquemes, deu o prazo de 6 de fevereiro para as famílias desocuparem os lotes por conta própria. Em momentos como este, é preciso organizar e unir ainda mais os camponeses e seus apoiadores sinceros.

Os camponeses do Canaã ocupam suas terras desde 2003, do Raio do Sol desde 2006 e do Renato Nathan 2 desde 2012. São mais de 200 famílias que construíram casas, estradas e pontes, barracões das Assembleias, igrejas. Funcionários do Incra disseram que o Canaã é a área camponesa mais produtiva de Rondônia, eles produzem plantações e criações variadas para o sustento próprio e que ajudam a abastecer as cidades vizinhas. E tudo isto foi conquistado com o suor dos próprios camponeses, sem ajuda de governo algum, pelo contrário, enfrentando de tempos em tempos, blitz, multas e ordens de despejo. São quase 12 anos de união, organização e luta dos camponeses, cada batalha e cada direito conquistado ensinam que não devemos esperar pelos governos, que é uma ilusão pensar que alguém vai resolver nossos problemas enquanto nós cuidamos apenas de trabalhar. Todas as lutas, os camponeses começaram informando as “autoridades”, solicitando, negociando, mas quase sempre, isso não foi suficiente e as demandas mais básicas, como escolares, estradas, energia, regularização da posse dos camponeses ficavam apenas no papel, na promessa. Só então os camponeses pressionavam, com manifestação, trancando ônibus escolares, ocupando prefeitura, Incra, Eletrobrás, fechando a BR. Rebelar-se é justo e é um direito de cada cidadão. Estes homens, mulheres, adultos, jovens e crianças estão dispostos a fazer o que for preciso para defender suas posses e não sairão pacificamente de suas terras.

Acabamos de passar por mais um pleito desta farsa eleitoral e ouvimos muito que “brasileiro não sabe votar”, “o povo é pacífico, acomodado”, “as pessoas só sabem cobrar, não lutam por seus direitos”. Os garis do Rio de Janeiro, os estudantes em luta nas grandes capitais, os camponeses do Canaã, Raio do Sol e Renato Nathan 2 apontam um caminho de esperança para conquistarmos nossos direitos e para transformarmos o Brasil numa nação de terra, pão, trabalho, justiça e nova democracia para os trabalhadores.

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