Morto latifundiário ladrão de terras públicas, sequestrador e torturador de camponeses pobres

Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.

Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.”

Bertolt Brecht

Na noite do dia 13 de outubro o fazendeiro Heládio Cândido Senn, vulgo Nego Zen, e sua esposa foram mortos na antiga fazenda Vilhena, próxima da Vila São Lourenço, na zona rural de Vilhena. Com esta notícia, as famílias camponesas do cone sul de Rondônia sentem um profundo alívio, pois este inimigo jurado dos pobres não poderá mais cometer abusos, injustiças e os assassinatos que estava acostumado a cometer. Desde sempre, nós do jornal Resistência Camponesa, como informativo do movimento camponês combativo, nunca deixamos de repetir que oterror do latifúndio e seu velho Estado não pode parar a luta pela terra, só faz acumular ainda mais ódio e revolta! E que em breve as massas camponesas se levantarão em grandes ondas para varrer o latifúndio, através da Revolução Agrária! E mais cedo que tarde o povo cobrará a conta de tantos assassinatos e injustiças! Quem está vivo, está vendo.

Como não podia ser diferente, a secretaria estadual de segurança, comandada pelo coronel Hélio Cysneiros Pachá, o carniceiro de Santa Elina, soltou uma nota lamentando a morte de Heládio Cândido Senn. A imprensa lixo de Rondônia, defensores do latifúndio vomitaram suas mentiras de sempre apresentando como “pessoa de bem”, “pioneiro de Vilhena” este latifundiário ladrão de terras da União, sequestrador, torturador e assassino de camponeses pobres. Em seguida, fizeram novo berreiro exigindo ação mais dura por parte da PM assassina do governador Marcos Rocha, marionete de latifundiários ladrões de terra da União.

Estão sedentos de mais sangue camponês. Querem novas chacinas, como a cometida pela Força Nacional do fascista Bolsonaro e a PM assassina na Área Revolucionária Ademar Ferreira, próxima do distrito Nova Mutum, no último dia 13 de agosto, que covardemente ceifou a vida dos honrados camponeses Amarildo, Amaral e Kevin.

É extensa a lista de crimes que Heládio Cândido Senn cometeu contra camponeses: sequestro, tortura, crime de pistolagem, roubo de terras públicas, agressão, ameaça e humilhação. Para bem da verdade e da memória públicas, a seguir, relatamos alguns casos, começando pelos mais recentes.

Agressão, ameaça, humilhação e roubo de terras de camponeses na fazenda Vilhena

Localizada a 25 km do distrito São Lourenço, município de Vilhena, a fazenda Vilhena é composta de terras públicas disputadas por latifundiários, fazendeiros e camponeses há anos. O latifúndio, seus pistoleiros e seus agentes no velho Estado, especialmente nas polícias e no judiciário, tem reprimido os trabalhadores.

Em junho de 2018, um grupo de policiais ambientais, PMs e GOE de Vilhena atacaram covardemente as famílias da Área Jhone Santos, que em 2017 tomaram uma parte da fazenda Vilhena. Os policiais espancaram dois camponeses, inclusive uma mulher, queimaram roças, barracos, casas e todos pertences dos trabalhadores e mantiveram-nos sob ameaça de armas até as 10 horas da noite. Levaram as famílias para Vilhena e soltaram-nos na rua, sem levar em delegacia – típico de ação ilegal, sem ordem judicial.

Toda ação ilegal da PM foi assistida pelo pistoleiro conhecido por “Neguim da Tornado”, a mando do latifundiário Heládio Cândido Senn que estava tentando roubar as terras das famílias da Área Jhone Santos.

Esta ação criminosa da PM como pistoleiros de latifundiários foi comandada pessoalmente pelo coronel Ronaldo Flores, então comandante-geral da PM. Na Heroica Resistência Camponesa Armada de Corumbiara, que ficou conhecida como Massacre de Santa Elina, em 1995, Mauro Ronaldo Flores e José Hélio Cysneiros Pachá eram oficiais comandantes do COE (Comando de Operações Especiais), tropa assassina que cometeu as maiores desumanidades contra as 600 famílias camponesas rendidas.

As famílias retornaram e seguiram lutando pelas terras, junto de outros camponeses posseiros de áreas vizinhas, também pertencentes a fazenda Vilhena. Em setembro de 2019, Heládio Cândido, sua esposa e filho atacaram um casal de idosos da Área Jhone Santos e outro camponês que estava trabalhando no lote deles. Os três trabalhadores foram obrigados a ajoelhar no sol, onde ficaram por várias horas sendo humilhados, agredidos e ameaçados pela família Senn. Heládio Cândido chegou a enfiar a foice na boca de um dos camponeses.

Defensores públicos democráticos de Vilhena avançaram na defesa jurídica de algumas áreas camponesas na fazenda Vilhena, mas o velho Estado nada fez efetivamente para defender os trabalhadores e punir os crimes de Heládio Senn. No início de 2020, camponeses posseiros da fazenda Vilhena furaram pneus de uma viatura da pm que estava nas áreas apoiando a família de Heládio Senn e seu bando de pistoleiros. Depois, vários camponeses se juntaram e conseguiram render Heládio Senn e sua esposa que seguia ameaçando-os. Nesta ocasião, o camponês idoso que tinha sido torturado por eles deu uma rasteira e derrubou Heládio Senn no chão. A esposa de Heládio Senn foi contida pelos trabalhadores, quando tentou entregar um revólver para o marido. Heládio Senn e sua esposa foram entregues para policiais federais e mais uma vez nada aconteceu com eles.

Ao contrário, em abril de 2021 centenas de camponeses posseiros da fazenda Vilhena foram despejados das terras onde viviam e trabalhavam a anos. O governador Marcos Rocha, pau mandado de latifundiários e o secretário de segurança Hélio Cysneiros Pachá, o carniceiro de Santa Elina, mobilizaram verdadeiro aparato de guerra para o despejo criminoso. Quanto ao Heládio Senn, como é latifundiário, seguiu impunemente seu novo roubo de terra pública.

Sequestro e tortura de dois camponeses do Acampamento Gilson Gonçalves

Em setembro de 2014, Heládio Cândido comandou pessoalmente seu bando de pistoleiros armados contra famílias camponesas do Acampamento Gilson Gonçalves, no município de Chupinguaia. Elas estavam lutando pelas Fazenda Rio Taboca, terras da União, griladas por Heládio Cândido. Durante vários dias fizeram vários disparos de armas de fogo contra o acampamento e bloquearam a única estrada que dá acesso ao acampamento. Sequestraram, mantiveram em cárcere privado e submeteram a tortura física e psicológica os camponeses Daniel Sfalsini e Paulo Sérgio. Estes trabalhadores só não foram assassinados porque assim que desapareceram, familiares, camponeses, apoiadores, entidades e organizações classistas de várias partes do estado iniciaram uma intensa campanha em defesa de suas vidas, inclusive deslocando uma missão de solidariedade que se deslocou até o local do crime, quartéis locais e delegacias de Vilhena.

Os camponeses Daniel e Paulo Sérgio denunciaram que foram pegos quando passavam em frente a entrada da fazenda Rio Taboca, derrubados de cima da moto, por cinco guaxebas armados e pelo fazendeiro Heládio Senn, que estava com uma foice. Pistoleiros os agrediram fisicamente, socaram a cabeça de Paulo no chão, o latifundiário colocou terra em sua boca e ameaçou: “Esta é a única terra que você vai ter!” Amarraram e levaram os dois para a sede da fazenda, deixando-os num trator até o dia seguinte. Depois trancaram-nos num banheiro da fazenda, até o dia que foram resgatados.

Daniel e Paulo Sérgio foram torturados. Heládio Senn levou outros latifundiários da região para mostrar os dois camponeses sequestrados, ameaçou atirar neles, mostrou um vídeo de tortura onde um latifundiário tirava a pele do rosto de um peão da fazenda e colocava na bota e falou que faria o mesmo com eles. Afirmou existir um cemitério dentro da fazenda onde foram enterrados corpos de peões que ele se recusou a pagar pelos serviços prestados em sua fazenda. Vários pistoleiros fortemente armados também torturaram Daniel e Paulo Sérgio, física e psicologicamente. Ameaçaram cortar os braços deles e jogar na frente do acampamento, estuprar as mulheres acampadas, matar todos e atear fogo em tudo.

Veja o depoimento em vídeo de Daniel e Paulo Sérgio:

Em função da grande repercussão da campanha em defesa de Daniel e Paulo Sérgio, uma semana depois do sequestro, Heládio Cândido e 3 pistoleiros de seu bando foram presos com diversas armas de fogo. Mas, como sempre, foram soltos em seguida.

Como sempre, a imprensa lixo de Rondônia pagos a peso de ouro pelo latifúndio e farta verba institucional, se calaram diante dos graves crimes de Heládio Cândido e tentaram transformar as vítimas em responsáveis pelos crimes cometidos pelo latifundiário. Reproduziram mentiras descaradas de parentes e latifundiários amigos de Heládio Cândido: Daniel e Paulo Sérgio realmente estavam na sede da fazenda, mas não foram sequestrados” e O Nego Zen não quer violência no local.”

Em 2014, a Fazenda Rio Taboca, localizada na estrada RO 495 (antiga linha 85), na divisa entre os municípios Chupinguaia e Parecis, tinha mais de 2.600 alqueires de terras públicas e praticamente toda ela era grilada por Heládio Cândido Senn. Nas cidades e distritos vizinhos todos sabiam que este latifundiário, morador de Vilhena, tinha comprado 6 lotes de 42 alqueires cada e com os documentos destas terras foi “regularizando” as áreas vizinhas que ele grilava. Dentro da fazenda está uma usina de geração de energia de propriedade da família Cassol.

Ainda segundo relatos de moradores vizinhos, Heládio Senn não era bem quisto também pelos médios proprietários vizinhos, pois ele tomava todo gado que acidentalmente entrava em sua propriedade e teria roubado 150 cabeças de um proprietário vizinho.

Também comentavam na região que Heládio Senn explorava camponeses em suas fazendas, no que é conhecido como “trabalho escravo”.

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