Republicamos abaixo matéria do jornal A Nova Democracia, publicada em 29 de julho de 2025 em seu portal.

Mais de 800 camponeses ocuparam a sede da superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na manhã do dia 22/07. Durante a madrugada de sábado (19), 100 famílias ocuparam a Fazenda Melancia, no agreste do Estado. No dia seguinte, sob ameaças do latifúndio, as terras da Usina Nossa Senhora do Carmo foram ocupadas. As ações reivindicam o assentamento de 16 mil famílias camponesas acampadas apenas em Pernambuco, além de políticas de manutenção para as famílias já assentadas.
Sede do Incra em Recife é ocupada
Através da ocupação da sede da superintendência do Incra em Recife, 800 famílias camponesas denunciaram “morosidade e falta de vontade política” por parte do Governo Federal, encabeçado por Luiz Inácio (PT).
Na tarde do dia 22, após a ocupação, foi realizada uma reunião com o superintendente do Incra em Pernambuco, Givaldo Cavalcanti; o superintendente do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) em PE, Caetano de Carli; e o presidente do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Pernambuco (Iterpe), Cleodon Ricardo. Os camponeses reivindicaram o assentamento de ao menos 2000 famílias, acampadas em terras pertencentes à secretarias do Estado, mas não obteve garantias por parte do Governo.
Como resposta, “O Incra nos disse que está sem orçamento, sem estrutura mínima, sem carros e funcionários para fazer as coisas. Esperamos que isso se resolva e eles agilizem”, diz Fernando Lourenço.
Givaldo Cavalcanti vêm sendo denunciado pelos posseiros do Barro Branco, Jaqueira (PE), por tentar “enrolar” os camponeses, deliberadamente mentindo sobre o processo de desapropriação das terras da Usina Frei Caneca.
Camponeses ocupam terras
Após o velho Estado negar as reivindicações da ocupação na sede do Incra, os camponeses ocuparam terras no interior de Pernambuco. Na madrugada de sexta para sábado (26), 100 famílias camponesas montaram um acampamento na Fazenda Melancia, situada entre os municípios de Caetés e Venturosa, na Região do Agreste Meridional, que conta com 435 hectares de terra. A ocupação é a primeira nos últimos 14 anos na região e até agora ocorreu de forma pacífica.

No dia seguinte, os camponeses ocuparam as terras da antiga Usina Nossa Senhora do Carmo, no município de Pombos. A Usina faliu em 1990, deixando 600 trabalhadores sem seus direitos trabalhistas e logo depois foi invadida por latifundiários, que desde então se empenham em tentar expulsar os camponeses da região. Em 2020, durante o governo de turno de Jair Bolsonaro (PL), foi realizado às escondidas um leilão das terras da Usina, com objetivo de quitar as dívidas e regularizar as terras griladas pelo latifúndio, dividindo-as em lotes, vendidos por preços abaixo do mercado. O MST denuncia que há décadas vem sofrendo ameaças na região, feitas pela pistolagem a soldo dos latifundiários. O Movimento reivindica que todas as terras da antiga Usina sejam entregues aos camponeses.
Direção do MST é pressionada pelas massas camponesas
A direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que historicamente se coloca ao lado dos governos petistas, foi obrigada pelas bases do Movimento a criticar o governo de Luiz Inácio, diante da lentidão na chamada “Reforma Agrária”, inversa à velocidade para atender aos interesses do latifúndio. Pressionadas, as massas camponesas deram início à “Semana Camponesa”, uma série de ocupações à sede do Incra e à latifúndios improdutivos.
Em Pernambuco, MDA rebate as acusações de lentidão, afirmando que assentou, entre 2023 e 2024, 97,2 mil famílias em todo o país. Entretanto, o Ministério inclui em seu cálculo 38,9 mil famílias “regularizadas”, algumas em terras ocupadas há mais de 10 anos, mas que não eram consideradas como assentamentos do Incra; além das 33,8 mil famílias que ocupavam lotes já consolidados mas que não eram reconhecidas pelo Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA), que garante direitos mínimos às famílias. Segundo o próprio MDA, apenas 5.835 famílias receberam lotes de terra adquiridos entre 2023 e 2024, apenas 6% dos beneficiados do que é propagandeado pelo governo petista.
Contrastando com o discurso de “falta de verbas” do superintendente do Incra em Pernambuco, o Governo Federal deu no dia 01/07 de 2025 um Plano Safra “Empresarial” de R$ 447 bilhões aos grandes latifundiários, valor 82% maior que o destinado aos pequenos e médios camponeses da “agricultura familiar”.
As ações feitas nos últimos dias de julho são parte da ‘Semana Camponesa’, mobilização nacional que realizou ocupações também em outras regiões do país, como no Distrito Federal, Rio de Janeiro, Paraíba, entre outras regiões. Tanto a ‘Semana Camponesa’ como o ‘Abril Vermelho’ são tentativas de acalmar a fúria das massas camponesas que clamam por terra, com o objetivo de desmobilizá-las.

As tomadas de terra em diferentes regiões do país revelam que as massas populares, organizadas dentro MST, enxergam que não podem esperar sentadas pelo Governo e, temendo rupturas em massa com a organização para o caminho combativo, a direção do Movimento é arrastada pela fúria camponesa.
‘A luta pela terra no Brasil se tornou uma guerra civil’
Como já noticiado pelo AND, o relatório da CPT em 2024 revela que, com 2.185 conflitos agrários, o ano se consolidou como o mais violento para os camponeses nos últimos 30 anos.
O próprio MST-PE, em abril, teve um militante assassinado após atropelamento em uma manifestação em Recife e, semanas depois, 8 ativistas foram presos pela PM de forma arbitrária em ocupação de terra em Petrolina.
No mesmo mês, em Rondônia, o grupo paramilitar fascista “Invasão Zero”, encebeçado por Gesulino Castro, com apoio da PM, iniciou uma campanha de terrorismo contra os camponeses da Área Revolucionária Gedeon José Duque e áreas vizinhas. O mesmo grupo que constantemente tenta assassinar as massas camponesas em luta foi derrotado em Pernambuco na Batalha Feroz de Barro Branco, em outubro de 2024.
Organizações do movimento camponês combativo, em especial a Liga dos Camponeses Pobres (LCP), denunciam que a política agrária de Luiz Inácio não é incompetência, mas aliança com o latifúndio, que cada vez mais arma grupos paramilitares fascistas pelo Brasil. Diante da situação, a LCP afirma que “a luta pela terra no Brasil virou uma guerra, e a Revolução Agrária é a questão mais importante no momento para derrotar a extrema direita, toda a reação e o imperialismo. Que os verdadeiros democratas se juntem de armas e bagagens com os camponeses, indígenas e quilombolas para derrotá-los.”