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Pistoleiros aterrorizam camponeses na Amazônia

Desde que foram despejadas do acampamento na Fazenda Santa Elina, no município de Corumbiara, na semana passada, famílias de camponeses remanescentes da chacina ocorrida em 1995 perderam o sossego. Elas vêm sendo acordadas por uma alvorada diferente do tradicional: uma saraivada de tiros de armas de grosso calibre contra o local onde guardaram os pertences após terem os barracos queimados durante o derradeiro despejo.

A denúncia foi feita em Rondônia pelo Comitê em Defesa da Revolução Agrária e dos Direitos do Povo (CDRADP) e pelo CEBRASPO (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos), que exigem providências do Governo de Rondônia e do Ministério da Justiça. Segundo relato da entidade, cerca de 40 homens fortemente armados e encapuzados, constituindo um autêntico grupo paramilitar, vêm rondando sucessivamente o acampamento. Suspeita-se de que soldados sem farda estejam a serviço dos fazendeiros, herdeiros de Antenor Duarte do Vale. Após o novo despejo, as famílias improvisaram um novo acampamento próximo à estrada, onde preparam comida e fazem cultos religiosos. “Nem isso os jagunços respeitam”, lamenta o CEBRASPO.

Encapuzados

No sábado, por volta de nove horas, enquanto se preparava a celebração de uma missa por um padre de Corumbiara, os camponeses novamente foram surpreendidos por disparos de armas de grosso calibre. Os despejados estão indignados com a situação vivida após o derradeiro despejo. Não são apenas os tiros que atordoam as famílias, mas a presença de viaturas policiais com homens encapuzados rondando o acampamento.

Durante um dos ataques, um acampado que tem problemas cardíacos foi levado às pressas para um hospital. “Não são só os camponeses de Santa Elina estão tendo prejuízos com as perseguições dos pistoleiros e policiais a serviço do latifúndio. Até mesmo seus vizinhos enfrentam essa situação. Um deles teve que soltar o rebanho, porque o gado de assustou com os tiros e os bois estão se lançando contra as cercas da propriedade e se ferindo”, relatam. Até hoje as vítimas do massacre da Santa Elina não receberam qualquer indenização do governo.

Mais um apelo

A via-crucis das famílias vem aumentando desde o ano passado, quando um grupo de líderes viajou para Brasília e acampou na praça do Congresso Nacional para reivindicar justiça. Houve reuniões na Secretaria Nacional dos Direitos Humanos e no Ministério da Justiça para uma exposição clara da situação dos sobreviventes do massacre.

Até hoje a fazenda não foi desapropriada para reforma agrária, apesar das promessas feitas pelo Incra. Já se constataram fraudes nos documentos de produtividade (notas frias de toneladas de arroz) e crime ambiental em centenas de hectares da área. Cansados de esperar, os camponeses exigem agora uma ação concreta para atender às vítimas de Santa Elina.

“O povo quer terra, não repressão” diz uma faixa estendida no acampamento. Querem a terra, a indenização por danos morais e materiais sofridos pela ação truculenta do Estado em 1995. Em função desta ação o Estado Brasileiro já foi condenado pela corte da Organização dos Estados Americanos (OEA).

“Não queremos cestas básicas e migalhas, não somos mendigos, queremos terra para produzir o nosso próprio sustento sem depender de ninguém”, apelou hoje Luís Adriano, um dos acampados na área. Em 1995, no massacre, ele tinha 11 anos de idade.

Por sua vez, o Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina (CODEVISE) denunciou hoje que Sandro Barbosa, ex-presidiário, junto com outros membros da organização denominada MAP (Movimento Agrário Popular), está vendendo lotes e desviando recursos das vítimas de Santa Elina. Pior que isso: Barbosa repassa informações a pistoleiros, a respeito de lideranças do acampamento que deveriam ser eliminadas.

Montezuma Cruz

montezuma@agenciaamazonia.com.br