PMs invadem lotes e casas, ameaçam e humilham trabalhadores vizinhos ao Acampamento Manoel Ribeiro

Em menos de 1 semana, duas operações com uso de helicópteros da polícia de Marcos José Rocha/PSL foram lançadas contra o Acampamento Manoel Ribeiro

Uma operação injusta, covarde e abusiva da Polícia Militar fez uso de duas viaturas e um helicóptero para ameaçar camponeses vizinhos ao Acampamento Manoel Ribeiro na manhã de 11 de setembro. Os policiais militares invadiram propriedades e residências, ameaçaram e torturaram famílias. Ao mesmo tempo, uma blitz arbitrária foi realizada, parando todos que passavam na estrada próxima à entrada da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, no município de Chupinguaia. Esta é uma ação típica da polícia militar de Rondônia na defesa do latifúndio ladrão de terras públicas e na criminalização de todo o campesinato no entorno de acampamentos, na tentativa de isolar os camponeses em luta pela terra.

Vindo da direção de Vilhena, o helicóptero sobrevoou várias vezes o Acampamento Manoel Ribeiro e depois pousou em uma região que, segundo relatos, seria próxima ou na própria sede da fazenda Nossa Senhora Aparecida. Em seguida, a aeronave retornou ao acampamento em voos razantes. Neste momento, uma família que cuida de uma das guaritas da fazenda vizinha Bela Manhã, curiosa com este evento incomum na região, filmou a aproximação do helicóptero com o celular.

Na tentativa de coibir qualquer registro da operação ilegal, policiais militares vindos em duas viaturas pularam a cerca da propriedade, apontaram armas de fogo para a cabeça do trabalhador, obrigaram-no a ajoelhar-se e invadiram a residência da família. Os policiais perguntaram insistentemente a localização da entrada para o Acampamento Manoel Ribeiro e sobre as lideranças, mesmo após o trabalhador explicar que é funcionário da fazenda e que desconhece qualquer informação sobre o acampamento. Toda esta truculência foi cometida na presença da esposa e dos dois filhos pequenos do pai de família. Os PMs também fotografaram a todos sem permissão.

Ato contínuo, as viaturas deslocaram-se para o lote de um camponês vizinho ao Acampamento Manoel Ribeiro. Quatro policiais invadiram a propriedade sem autorização e apontando armas de grosso calibre para toda a família. Os trabalhadores viveram momentos de terror e tiveram suas vidas postas em grave risco porque, devido ao voo rasante do helicóptero, não conseguiam escutar os policiais que apontavam as armas agressivamente, inclusive para as crianças.

Os PMs obrigaram todos a levar as mãos à cabeça, fizeram ameaças, perguntaram se sabiam informações sobre a ocupação e as lideranças, revistaram e fotografaram a família, bem como as placas dos veículos que se encontravam na residência. Dentre os que presenciaram a ação ilegal estava uma criança de apenas 7 anos de idade e um jovem, também menor de idade, que teve uma arma apontada em sua direção. Um dos agentes chegou a ameaçar o jovem dizendo que iria disparar contra ele caso não obedecesse as ordens. Uma espingarda de caça encontrada na propriedade foi levada pelas forças de repressão, arma comum entre camponeses para sua defesa.

Denúncias dão conta ainda de que toda a ação arbitrária da polícia foi acompanhada pelo helicóptero. As invasões e ameças contra as famílias trabalhadoras, além de truculentas e covardes, foram cometidas sem a apresentação de qualquer mandado judicial, o que aponta para o caráter ilegal da operação.

Vários camponeses da região denunciaram também que nas últimas semanas a fazenda Nossa Senhora Aparecida contratou pistoleiros, sendo 4 desses policiais militares. Esta é uma prática comum da polícia, vide a Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara, ocorrida nestas mesmas terras que pertenciam à antiga fazenda Santa Elina, quando a PM emprestou fardamento para pistoleiros e cometeu todo tipo de atos terroristas contra camponeses rendidos. Não é demais lembrar que estes crimes seguem impunes e que o atual secretário de segurança de Rondônia, José Hélio Cysneiro Pachá, era um dos oficiais responsáveis pelos crimes hediondos cometidos contra os camponeses, inclusive mulheres e crianças.

A operação teve clara intenção de intimidar os vizinhos a fim de reduzir o apoio dado aos camponeses em luta pela terra e, com isso, isolar o Acampamento Manoel Ribeiro. Mas, o que se pôde perceber na região foi que a ação arbitrária da polícia aumentou ainda mais a revolta popular. Indignados, os moradores relatam que nunca foram sequer incomodados pelos camponeses do Acampamento Manoel Ribeiro. Mas não podem dizer o mesmo da polícia.

Esta já é a terceira vez que policiais vão à região da tomada e a segunda que fazem incursões na área com o uso de helicóptero, indicativo de que preparam futuros ataques de maior porte. Até o momento nenhuma ordem de despejo foi entregue aos acampados.

Leia: Camponeses do Acampamento Manoel Ribeiro enfrentam intimidação da polícia (Vídeo)

Leia: Camponeses resistem à ataque da PM nas terras onde aconteceu a Batalha de Santa Elina

Batida policial pára veículos de trabalhadores nas proximidades do Acampamento Manoel Ribeiro

A batida policial que interceptou veículos próximo a sede da Fazenda Nossa Senhora na manhã de 11 de setembro contou com o uso de 3 camburões da PM e também mostrou claros sinais de abuso.
Motos e caminhonetes foram paradas, os motoristas eram obrigados a colocar as mãos na cabeça como se fossem criminosos, eram revistados e fotografados, assim como seus documentos e placas dos veículos.
Um camponês relatou que ficou detido por aproximadamente 1 hora na blitz e que foi insistentemente perguntado se tinha alguma relação ou sabia informações a respeito do Acampamento Manoel Ribeiro.

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