Revista Istoé continua sua sina: venal porta-voz do latifúndio e da reação

Em mais uma “matéria” assinada por Alan Rodrigues, a revista Istoé, em sua edição 2007, datada de 23 de abril de 2008, segue sua campanha de calúnias e mentiras contra a Liga de Camponeses Pobres de Rondônia. Desta vez apresenta, com o estardalhaço de sempre, 6 fotos que seriam provas definitivas de que a Liga de Camponeses Pobres promove treinamento de guerrilha em Rondônia. Com ares de quem desvenda um mistério fala de um exército de 400 homens, com fuzis FAL, 5 vezes maior que o número de guerrilheiros que desembarcou em Cuba no iate Gramna e que deu início à revolução cubana.

Em seu texto, o investigativo jornalista queixa da “omissão das autoridades federais brasileiras e silêncio do resto do Brasil” por não darem crédito as suas denúncias anteriores. Mais uma vez suas fontes são o ladrão de terras e latifundiário Sebastião Conti, o latifundiário e deputado Moreira Mendes (PPS) e Cezar Pizzano, chefe de polícia do desmoralizado e corrupto governador de Rondônia Ivo Cassol. Mas o que publica o senhor Alan Rodrigues, como furo de reportagem, é requentado do que saiu publicado no jornaleco Folha de Rondônia, órgão oficial do latifúndio daquele Estado e em sites da internet da extrema-direita, catacumbas da ditadura militar, como o do torturador coronel Brilhante Ustra.

As provas da Istoé

As fotos publicadas são da apresentação de uma peça de teatro em homenagem a Ernesto Che Guevara. Esta peça foi montada em 1998 por estudantes secundaristas e universitários do Grupo de Teatro Frente Cultural e encenada dezenas de vezes em escolas, sindicatos e bairros populares de várias cidades do País, por ocasião dos 30 anos da queda em combate deste heróico revolucionário. As fotos exibidas pela revista e pelo Folha de Rondônia (há uma semana) são da apresentação da peça em Machadinho do Oeste, no Assentamento Palma Arruda na Escola da Barragem. Elas foram roubadas numa das inúmeras agressões contra o movimento dos camponeses em Rondônia, na invasão da sede da LCP em julho de 2003 por policiais comandados pelo major Enedy Dias, assim como outros pertences nunca devolvidos.

No seu afã odioso de provar existência de guerrilha da LCP, o sr. Alan e sua venal empregadora fazendo ares de mistério afirmam que as fotografias foram obtidas por trabalho de agentes da Abin que não podia revelar a data do registro. Não se dão conta do ridículo. Os perigosos fuzis Fal de uso exclusivos das Forças Armadas vistos pelo arguto jornalista não passam de pedaços de pau e tubo de PVC pintados de preto das imitações confeccionadas pelos próprios integrantes do grupo teatral.

Somente um fascistóide como Alan Rodrigues e uma revista que vive de matérias pagas, obcecados em criminalizar a Liga de Camponeses Pobres, pode dar por verdadeiros estes delírios reacionários dos latifundiários de Rondônia, do senhor Ivo Cassol e seus sequazes.

Sobre a verdade e a mentira

O senhor Alan Rodrigues tem ainda a cara de pau de acusar a LCP de “faltar com a verdade” quando da denúncia do ataque de 100 pistoleiros às 400 famílias no acampamento Conquista da União, em Campo Novo, no dia 9 de abril último. A LCP não coordena este acampamento mas não teve dúvidas em dar repercussão ao ataque de pistoleiros e em denunciar o massacre. Era a única forma de tentar deter a mão dos criminosos. A história da luta camponesa em Rondônia é uma história infindável de violências e assassinatos de trabalhadores pelo Estado e pelo latifúndio. Será que o senhor Alan, tão criterioso e tão bem informado não sabe disto? E mais, num ataque covarde como este, contra centenas de famílias desarmadas, num tiroteio que durou horas, as pessoas tendo que sair correndo pelo mato, como era possível ter uma avaliação precisa do que acontecia? E mais, a polícia, em claro conluio com a pistolagem, recebeu a denúncia do ataque mas só dispôs a ir ao local 30 horas após o acontecido.

É realmente interessante que o senhor Alan Rodrigues e o distinto e diligente Pizzano se apressem em fazer críticas à LCP, mas não emitam juízo de valor sobre esta ação criminosa do latifúndio. O latifundiário Edson Luiz Liutti, genro do Catâneo, que nunca conseguiu provar sua propriedade sobre aquelas terras, pois são terras griladas, assumiu abertamente que comandou um bando de pistoleiros que atirou contra centenas de famílias para expulsá-las da área. Isto pode não é? Como o fazendeiro não tem como provar na justiça a propriedade da terra, acertou com a polícia fazer por conta própria o despejo. A criminalização do movimento camponês serve a isto. Trata os camponeses como criminosos assassinos e aí toda violência é justificada.

Disputas dentro das classes dominantes

O objetivo desta campanha sórdida contra a LCP, com o acionamento do alarme de uma guerrilha inexistente, tem que ser entendida no contexto da aguda disputa entre governo estadual e federal, entre os diferentes grupos de poder sobre a exploração da Amazônia. Os sucessivos recordes de desmatamento observados no último ano foram provocados pela derrubada da mata em larga escala para ampliar as áreas de pastagens e de cultivo de soja e cana de açúcar para o etanol e para a exploração mineral. E isto não se deterá pois, subservientes às potências estrangeiras, o governo e as classes dominantes nativas prosseguirão com a política de tudo exportar, dilapidando nossos recursos humanos e naturais.

Como defendem as grandes madeireiras, os alvos dos governos são as pequenas e médias serrarias. A política deles é esvaziar a região, expulsando os camponeses pobres, entregando a região amazônica nas mãos do que chamam de agronegócio. Esta é uma política ditada pelos países imperialistas de só permitir que as grandes madeireiras, principalmente estrangeiras, continuem com suas atividades mediante o arrendamento e exploração de Florestas Públicas. O governo FMI-Lula aprovou esta lei em 2006 e já realizou o primeiro leilão para entregar 90 mil hectares da Floresta Nacional do Jamari, em Rondônia. Grandes grupos nacionais e estrangeiros poderão explorar a madeira e o subsolo, rico em minerais, por 60 anos.

Enquanto esta transição não se conclui, enquanto não se retalha a floresta, os grandes madeireiros exigem que não se criem empecilhos a sua atividade. É por estar ligado a este setor que o senhor Ivo Cassol faz todo estardalhaço buscando sobrevida para seu combalido mandato. Atacar a LCP, pagar por “matérias” sensacionalistas sobre “guerrilha no Brasil” é manobra diversionista para paralisar a operação “Arco de Fogo” no Estado e ganhar tempo para acordos com o governo federal.

A questão camponesa é cada vez mais uma questão nacional

Desde a chegada dos portugueses em 1500, o Brasil é um fornecedor de matérias primas para os países que nos exploram e dominam. Em um período produzir e exportar café, noutro suco de laranja, noutro soja, agora cana de açúcar para o etanol, etc., junto ao ouro, minério de ferro, manganês, alumínio e outras riquezas. E isto só é possível por que existe o monopólio no controle das jazidas e monopólio da propriedade da terra no país. Ou seja, pouco mais de 50 mil propriedades latifundiárias reúnem mais de 200 milhões de hectares de nossas melhores terras. São estes latifúndios, que se dispõem a qualquer momento produzir o que o mercado mundial (dominado pelas potências imperialistas) determinar. Não tem nenhum compromisso com as necessidades de nosso povo.

A questão amazônica enfeixa agudas contradições que cobrarão solução nos próximos anos. A cobiça internacional aprofundará a contradição entre os interesses nacionais e das potencias imperialistas. Só a pequena e média propriedades podem usar sem depredar o meio natural em particular a floresta. Sua produção é voltada para o mercado interno, particularmente alimentos para o nosso povo. Só com a povoação da Amazônia por milhões de camponeses o Brasil poderá de fato controlá-la e defendê-la.

Repudiamos todos estes ataques que temos sofrido, que agride não os movimento sociais combativos mas todos os democratas do país. Ao contrário do silêncio que o senhor Alan Rodrigues obteve para suas acusações, nós agradecemos às incontáveis manifestações de solidariedade que temos recebido em Rondônia (inclusive da imprensa democrática rondoniense), de todo o país e do exterior.

Reafirmamos nosso compromisso de lutar por mobilizar e organizar os camponeses pobres para tomar todas as terras do latifúndio e distribuí-las aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra.

Jaru, 20 de abril de 2008

Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres

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