RO: Policiais militares guaxebas que aterrorizavam camponeses são presos em operação

No dia 22 de março, três policiais militares que atuavam como guaxebas (pistoleiros) para o latifúndio Nossa Senhora Aparecida, em Chupinguaia, estado de Rondônia, foram presos em decorrência de uma operação promovida pelo Ministério Público (MP).

Entre os presos estavam um sargento subordinado ao 3º Batalhão de Vilhena, um gerente e dois “empregados” da fazenda. Todos atuavam a mando do latifundiário grileiro Antônio Borges Afonso, vulgo “Toninho Miséria”, que alega ser dono das terras chamadas “Fazenda Nossa Senhora Aparecida”, parte da antiga Fazenda Santa Elina onde agora incide o Acampamento Manoel Ribeiro.

Segundo a investigação realizada pelo MP, que indicava a medida de busca e apreensão para quatro policiais militares e dois civis nas dependências da fazenda, o latifundiário contratou o sargento da Polícia Militar (PM) para o serviço de pistolagem, coordenação dos trabalhos, onde este seria o responsável pela logística e pela entrega dos pagamentos, bem como para recrutar outras pessoas, entre militares e civis para o “serviço”. De acordo com a investigação, o sargento recrutou outros três policiais militares. O valor da diária paga a cada um dos PMs era R$ 900.

Foram apreendidos durante a operação diversas armas de fogo não registradas, 60 munições de diversos calibres, dez aparelhos celulares e pelo menos dois carros. Porém, segundo relatos, esse material era apenas parte do arsenal militar usado contra as famílias camponesas; outra parte, como roupas militares, foi queimada antes da chegada da operação de busca e apreensão, incluindo cápsulas deflagradas, pois os pistoleiros foram avisados por comparsas. A fumaça pôde ser vista de longe e as cápsulas foram encontradas no local.

Os pistoleiros estavam em duas estruturas usadas como pontos de fustigamento contra o Acampamento Manoel Ribeiro: um retiro e um curral.

Registros feitos por apoiadores mostram as cápsulas deflagradas queimadas pelos pistoleiros antes da busca e apreensão. Foto: Reprodução

De acordo com inúmeras denúncias realizadas pelos camponeses, o bando, em conluio com a polícia, seguindo a ordem dos latifundiários, empreenderam diversas tentativas de despejos ilegais e ataques contra as famílias acampadas, como o ataque ocorrido em 29 de janeiro, quando os pistoleiros invadiram propriedades de camponeses para arrancar bandeiras da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) e do Acampamento Manoel Ribeiro; intimidaram camponeses da região em meio às estradas e atiraram contra a entrada do acampamento.

Os ataques que antecederam e sucederam esta ação relatada acima tinham as mesmas características: uso de armas de fogos, intimidação e ameaças durante ataques realizados em conluio entre os guaxebas e a polícia, sob ordem do latifúndio.

Mesmo durante a operação que resultou na prisão dos guaxebas, houve denúncias das mesmas práticas tendo em vista as incursões militares da PM na localidade do latifúndio e nas áreas camponesas do entorno. De acordo com relatos, no dia seguinte às prisões, seis viaturas foram avistadas na sede da Fazenda Nossa Senhora. Na tarde do dia 24/03, mais 11 viaturas das polícias civil e militar estiveram na área do latifúndio. E, em 25/03, quatro veículos da polícia, sendo um deles uma caminhonete preta descaracterizada, circularam pelas áreas Zé Bentão, Maranatã I e II e Renato Nathan.

Neste período, incursões foram ainda promovidas e ocorreram também blitzes arbitrárias nas estradas da região. Na manhã do dia 26/03, foram avistadas cerca de 30 caminhonetes grandes, tipicamente usadas por latifundiários, escoltadas por duas viaturas da PM, que se deslocaram do centro da cidade de Chupinguaia em direção à sede do latifúndio Nossa Senhora Aparecida, situação que indica uma possível articulação entre os latifundiários da região.

Escrito por Taís Souza / Publicado pelo jornal A Nova Democracia em 29 de Março de 2021

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