Camponeses são torturados em União Bandeirantes

Denúnica Urgente

Goiânia, 11/09/2008

No dia 9 de setembro de 2008 por volta das 14:30 hs as mais de 30 famílias do acampamento Nova Conquista (Fazenda Mutum) em União Bandeirantes foram violentamente atacadas por policiais e bandos de pistoleiros. Cerca de 30 policiais militares de União Bandeirantes, Jaci-Paraná e Porto Velho, chegaram ao acampamento disparando tiros contra os acampados. As famílias haviam retomado a área na madrugada de segunda-feira, dia 8 de setembro.

Durante a operação os policiais gritavam que estavam dispostos a matar, pois ali todos eram vagabundos.

Os camponeses foram rendidos, obrigados a sentar no chão com armas apontadas para a cabeça. Um dos policiais começou a tirar fotos de todos e os que resistiam eram espancados com tapas no ouvido e empurrões. Um dos acampados perguntou aos policiais se tinham ordens para agirem daquela forma, e eles responderam que “faziam do jeito deles e que todos que estavam ali eram bandidos”, disseram que o governo do estado estava pagando para que vigiassem aquela fazenda.

Temos informações de que o latifundiário Luiz da Dipar (Luiz Carlos Garcia) e o chefe de pistolagem Odailton Martins passaram aproximadamente 450 alqueires de terras para o sargento da polícia militar de Jaci-Paraná para que retirasse os camponeses da área. Uma das provas que atestam isso é que o cabo PM Isaac, vulgo “Manchinha”, também de Jaci-Paraná, falou que estava disposto a fazer um massacre para defender o fazendeiro.

Os policiais não satisfeitos em humilhar e espancar homens e mulheres, tomaram foices, facões, enxadas, cavadeiras, entraram nos barracos despejando as roupas no chão, chutando os pertences, lançando alimentos ao chão e quebrando utensílios de cozinha. Chamavam os camponeses de porcos. Roubaram ainda remédios, livros, roupas, receitas, bolsas, máquina fotográfica, uma moto, um motoserra e até bíblia.

Os camponeses foram bastante humilhados com palavrões, principalmente após terem sido levados algemados ao camburão, policiais ameaçavam o tempo todo dizendo que eles iriam para o inferno. Ao todo foram presos sete companheiros e três companheiras. Um dos camponeses que resistiu às humilhações foi agredido, caiu de cara no chão ficando com a boca e o nariz sangrando.

Após terem realizado a ação truculenta, os policiais levaram os camponeses para a sede da fazenda Mutum onde foram torturados diante das companheiras por horas. Só depois (homens e mulheres) foram levados para Porto Velho no presídio Urso Branco.

Os camponeses foram ilegal e covardemente atacados para que os policiais reintegrassem na posse do latifúndio o grileiro que reclamava a área. Uma decisão da justiça federal comprovou que a terra é pública, e que quem não poderia de forma nenhuma reclamar ou utilizar as terras era o latifundiário. (Proc. Justiça Federal de RO, n. 200841000036249) A justiça federal deu imissão de posse para o Incra! Os camponeses foram atacados pelos guaxebas e pela polícia.

Em nenhum momento as notícias divulgadas pela polícia e reproduzidas pelos jornais a serviço do latifúndio falam de ataques de pistoleiros e policiais ao acampamento.

Sabemos que todas as mentiras divulgadas na imprensa foram arrancadas com tortura, e também sabemos que os camponeses presos estão sendo barbaramente torturados para que a polícia continue o seu “minucioso trabalho de inteligência” regado a choque elétrico e afogamentos.

Será que os banqueiros ricos e corruptos, presos e depois soltos, que a grande imprensa reclamou “serem maltratados” pela polícia, foram atacados a tiro em suas casas a noite?

Segundo nota divulgada pelo NAP – Núcleo dos Advogados do Povo é gravíssima a situação carcerária dos presos:

– 6 camponeses estão detidos no URSO BRANCO em Porto Velho e destes 4 tiveram as cabeças raspadas para humilhá-los (uma das formas de tortura – na verdade tortura visível, mas sabemos que todo tipo de tortura podem estar sendo praticadas e as vítimas não falam, inclusive pelas ameaças que sofrem).

– As 3 mulheres (camponesas) estão detidas em uma prisão ao lado do URSO BRANCO. Destas, a Valéria amamenta um bebê de 8 meses.

– 1 camponês está detido no Hospital Público João Paulo II – algemado nas mãos e pés. Este camponês é o GEROLINO NOGUEIRA DE SOUZA, em nome do qual foi feitos pedidos de liberdade. Já havia sido ajuizado Habeas Corpus anterior à sua prisão e agora está propositadamente sofrendo torturas e humilhações. Desde que chegou ao hospital (9 de setembro) tem ficado só sentado e acorrentado. Não havia até esta data recebido visitas de quem quer que seja, apenas na presente data.

– Todos os camponeses estão sendo humilhados em razão da situação de serem camponeses, as mulheres estão dormindo sentadas por falta de espaço.

A Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e a Comissão Nacional Coordenadora das Ligas de Camponeses Pobres conclamam a todos os verdadeiros democratas e apoiadores da luta camponesa a prontamente se manifestarem contra o absurdo da ação policial contra os camponeses de União Bandeirantes que lutam pela posse da fazenda Mutum há mais de 5 anos!

Exigimos a verdade!
Exigimos a libertação de todos os companheiros presos!
Exigimos que se cumpra a decisão da justiça federal!
Fora Luiz Carlos Garcia! A terra pública é para os camponeses!
Abaixo a criminalização da luta camponesa!

COMISSÃO NACIONAL DAS LIGAS DE CAMPONESES POBRES
Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

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