Massacre de Guapoy. Tropa de Choque assassina jovens Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul (Vídeo)

Luta camponesaPovos originários

Nota da redação:

Reproduzimos abaixo notícia publicada em 24 de junho de 2022 por Taís Souza em anovademocracia.com.br, assim como a nota e vídeo remetidos pela Grande Assembléia indígena Aty Guasu, em 25 de julho de 2022, por motivo desses covardes assassinatos.

O sangue derramado por esses jovens em luta é mais uma demonstração da sanha reacionária de decrépitos latifundiários e cachorros uniformados. Verdadeiro ódio despertado pela combatividade daqueles que ousam retomar seus territórios ao invés de padecer com a fome e a pobreza, com a delinquência ou a prostituição, que lutam ao invés de esperar sentados pelo reconhecimento pelo putrefato Estado de seus direitos históricos.

Onde está a coragem dos nossos Ministros da Suprema Corte que tanto gritam com o monopólio de imprensa “democracia”? Onde está a democracia, quando mancumunados com ladrões de terras privadas e públicas estão delinquentes uniformados?

O cinismo desses verdadeiros racistas, que acusam os indígenas de serem “paraguaios” e traficantes de droga, não é capaz de esconder o fato de que as rotas do tráfico que passam pelo Mato Grosso do Sul cortam inúmeros latifúndios. Rotas do tráfico que neste país também contam com o transporte por helicópteros de senadores e aviões da Força Aérea Brasileira usados por presidentes (leia aqui), eleitos em “democráticas” eleições através das “seguras e confiáveis” urnas eletrônicas que fazem do Brasil um “modelo para o mundo” no quesito democracia.

A luta dos povos originários desta terra é parte inseparável da luta geral dos camponeses pobres, e a via da autodemarcação é o mesmo caminho da resistência camponesa e da Revolução Agrária. A sanha bovina dos promotores deste massacre é antes demonstração de temor que de força.

Quanta coragem ao combater crianças e adolescentes desarmados! Que valentia tremenda! Quanto destemor! Ontem mesmo, precisaram mobilizar centenas de gendarmes, de mais de um Estado da Federação, com direito a cães farejadores, helicópteros e apoio logístico até do Exército, para assassinar um só delinquente comum armado com um revolver enferrujado, o famigerado Lázaro (relembre aqui e aqui, na imprensa lixo). Não repare, caro leitor, na “fake news” do G1 naquela ocasião, ao tratar o revolver velho como se fosse pistola automática .380, sem nunca desmentir — mesmo que isso realmente não mudasse em nada a vergonha policial decorrente do olé que levaram de Lazáro. Pequeno engano, pequena omissão jornalística, mas não muito diferente de agora, ao dizer que as perigossísimas crianças Guarani Kaiowá portavam fuzis.

Mas onde está o fuzil? Algum leitor consegue ouvir seus disparos no vídeo anexo? Será que Genivaldo também portava fuzil ao ser assassinado pela PRF e é por isso seus familiares dizem que “vai dar em nada”? E o o radar de notícias falsas do STF, onde está? Funciona apenas no site do PCO?

Que os verdadeiros democratas repercutam a luta combativa do povo Guarani Kaiowá! Que todos se imbuam da valentía desses jovens que entregaram suas vidas pela defesa dos direitos de seu povo! O sangue derramado enche nossos corações de ódio e de energia pela destruição de todo o latifúndio, pela Revolução Agrária! Chegará a hora da prestação de contas, inclusive por parte dos jornalistas embusteiros!

Redação de Resistência Camponesa

Confira o artigo completo publicado em A Nova Democracia:

Urgente: Tropa de Choque chacina jovens Guarani Kaiowá em Amambai, MS

A Tropa de Choque da Polícia Militar (PM), mobilizando um helicóptero e cerca de 100 agentes junto a pistoleiros a serviço do latifúndio, promoveram uma covarde chacina contra jovens Guarani Kaiowá na madrugada de 24 de junho no território de retomada Tekoha Gwapo’y Mi Tujury em Amambai, no Mato Grosso do Sul. De acordo com denúncias do povo Guarani Kaiowá recebidas pela redação de AND,  cinco pessoas foram assassinadas e outras dez foram hospitalizadas, algumas em estado grave.

O ataque teve início às 4h da manhã com a chegada dos pistoleiros na retomada. Os relatos dos indígenas revelam que a PM também invadiu e cercou o território com seis viaturas e corroborou com o ataque sob pretexto de uma reintegração de posse sem qualquer validação jurídica, sem mandado judicial e, portanto, em uma ação ilegal. Desde um helicóptero, os militares reacionários disparavam contra os indígenas em solo, lançando bombas de gás contra as massas que resistiam.

Ao menos seis jovens alvejados pelos militares reacionários foram encaminhados ao Hospital Regional de Amambai. Apesar da tentativa da PM de tolher o atendimento aos feridos, conforme nota da Aty Guasu declara, ainda estão sob cuidados médicos e sob escolta policial os indígenas Nayara Souza, 15 anos, Wilke Vasques, 17 anos e Natieli Rodrigues, 23 anos; os outros três jovens, por não apresentarem lesões graves foram levados à delegacia.

Os jovens indígenas presentes no território filmavam os ataques enquanto resistiam.

Urgente: Tropa de Choque chacina jovens Guarani Kaiowá em Amambai, MS Leia mais: https://t.co/kFqztPidkT #GuaraniKaiowa #MatoGrossodoSul #Chacina pic.twitter.com/qWvuEhT4ft — A Nova Democracia (@jornaland) June 25, 2022

A retomada

Na noite anterior, em 23/06, aproximadamente 30 indígenas do povo Guarani Kaiowá promoveram uma retomada de parte do território Kurupi/São Lucas. A ação aconteceu em resposta ao assassinato do jovem indígena Alex Ricarte Vasques Lopes, de 18 anos, ocorrido em 21 de maio na fazenda Taquaperi, no município de Coronel Sapucaia (MS).

Esta foi mais uma das retomadas promovidas pelo povo Guarani Kaiowá após o assassinato do jovem Alex. Em 22/05 outra ocupação aconteceu em na fazenda Taquaperi, local do crime promovido pelo latifúndio.

Leia também: MS: Povo Guarani Kaiowá retoma território após assassinato de jovem guerreiro

Pseudohumanistas encobrem ação criminosa

Em contraste com a cobertura pseudohumanista sobre os odiosos crimes contra indigenistas cometidos na Amazônia, diante de mais uma barbárie em forma de chacina promovida novamente pela PM, reacionários que dizem se preocupar com a “questão dos indígenas” agem com permissividade abrindo espaço para continuidade do massacre, em especial quando as massas indígenas tomam o caminho democrático da autodemarcação e rechaçam a linha oportunista de aguardar eternamente pela ação “piedosa” das instituições do velho Estado, instituições todas estritamente vinculadas aos interesses do latifúndio e dos monopólios burocráticos no campo (agronegócio).

O monopólio de imprensa, sob o manto da “imparcialidade”, acoberta o latifúndio e endossa a posição de representantes do velho Estado como o genocida Antônio Carlos Videira, Secretário de Segurança Pública. O reacionário afirma que os indígenas são infiltrados que plantavam maconha no Paraguai e visam disputar liderança; discurso nada novo, mentiroso e miserável, para tentar demonizar as massas indígenas que lutam pelo seu sagrado direito ao território expropriado pelo latifúndio. Afirma também que o helicóptero da PM tem “marca de balas” para justificar a chacina macabra.

“Ao noticiar a chacina, o monopólio de imprensa rede Globo, por exemplo, que se esmera para enganar a opinião pública passando-se por “defensora dos indígenas”, apontou feridos com destaque para os policiais, criando todo o caldo de cultura para o prosseguimento da ação genocida, mais uma de uma guerra contra os povos originários que já dura 522 anos.”

Um indígena em áudio denuncia: “Esses jornalistas são mentirosos. Falaram que os indígenas estavam com fuzil no noticiário. Onde os indígenas vão conseguir comprar um fuzil?”, e segue dizendo: “Se estivessem armados teriam derrubado a aeronave que sobrevoava baixinho, ali. O secretário está mentindo e a mídia cobrindo”.

A equipe de AND seguirá tratando dos desdobramentos da chacina nos próximos dias.

Nota da Grande Assembléia Aty Guasu

NOSSO SANGUE CLAMA POR JUSTIÇA!

A Grande Assembleia da Aty Guasu Guarani e Kaiowa vem a público trazer sua dor e total revolta e indignação com a ação covarde da PM e do Estado do Mato Grosso do Sul contra a comunidade e território de Guapoy.

Este ataque já está sendo chamada em todos os nossos territórios de Massacre de Guapoy. Em mais uma ação ilegal da PM que tem agido como Cão de Guarda do ruralismo e da corja política ruralista no Estado, foram atacados crianças, jovens, idosos, famílias que decidiram, depois de muito esperar sem alcançar seu direito, retomar um território que sempre foi deles e que foi roubado no passado de nosso povo.

As imagens do Massacre falam por sí e são de fazer doer a alma do mais duro dos seres humanos. Tiros em jovens desarmados, violações a pessoas rendidas, disparos de helicóptero, tudo isso inclusive com uso de munição letal, deram o tom da covardia levada a cabo por um corpo policial que atuou sem mandado de reintegração de posse.

Inclusive é preciso denunciar que são dezenas de ações de despejo ilegal realizadas no mesmo modelo contra os povos do MS, sejam eles Kaiowa, e também contra outros povos como os Kinikinau, desde 2016, apenas não sendo maior o número porque na pandemia nos deixaram para morrer por falta de iniciativa de saúde do Estado, não precisando os policiais irem fazer o serviço sujo.

Logo na sequência do Massacre, típico de quem se adianta para esconder e acobertar o próprio crime, o secretário de segurança do convocou uma coletiva de imprensa cheia de mentiras e absurdos – chavões antigos que destilam preconceito contra nós, como associação de indígenas com drogas e sendo colocados genericamente como paraguaios — que nem mesmo se sustentam frente as inúmeras imagens que já vão ganhando o mundo.

Será que a criança, caída atingida por uma bala de borracha, que consiste em uma das imagens corresponde ao tráfico de drogas? Já são dois mortos, podendo ser maior o número (a comunidade fala em pelo menos 04) e ao menos 10 feridos. Nos solidarizamos ao mesmo tempo com o ataque realizado — no mesmo dia do Massacre contra a comunidade de Kurupi\Santiago Kue, onde a PM junto com fazendeiros abriu fogo contra famílias, por pouco não causando o mesmo estrago.

Nós, da Aty Guasu, levaremos a todas as esferas esse Massacre e não desistiremos até que os responsáveis sejam punidos e responsabilizados. Exigimos a imediata prisão e responsabilização do Governador do Estado do MS, do comando da BOP/PM, e do secretário de segurança do Estado do MS.

Da mesma forma, queremos e exigimos a investigação e prisão de mais três pessoas. Do servidor Nilton da Funai de Amambai e do servidor José da funai de Ponta Porã por coparticipação e facilitação do Massacre.

Neste sentido, nossa dor não termina e diante dos áudios e provas, também pedimos a investigação e prisão do Capitão da reserva de Amambai, por facilitação do massacre. Não podemos permitir que divisões internas sejam instrumentalizadas pelo Poder Público e que isso nos tire a vida.

Ainda em tempo, exigimos que o MPF de Ponta Porã, que tem se mostrado lento em compreender a realidade imposta, assuma seu dever em defender nossos direitos imediatamente, sob o risco de ser conivente com todos estes atos de violência contra nosso povo.

Aty Guasu, 25 de junho de 2022

Vídeo: