Reproduzimos abaixo notícia de autoria de Taís Souza, publicada em 15 de julho de 2022 em www.anovademocracia.com.br
No dia 14 de julho, cerca de 20 pistoleiros e policiais promoveram um ataque com emboscada contra cinco indígenas Guarani Kaiowá. O bando criminoso de militares e paramilitares torturou e efetuou disparos contra o grupo de indígenas. O covarde ataque ocorreu na mesma retomada Tekoha Gwapo’y Mi Tujury em Amambai, no Mato Grosso do Sul, onde há menos de 1 mês uma chacina covarde vitimou 5 indígenas.
No atual ataque, o líder indígena Márcio Pereira foi assassinado e Wilis Fernandes Kaiowá — filho de Vito Fernandes Kaiowá, assassinado na Chacina de Amabai — foi preso pela Polícia Militar sob acusações infundadas. Outros dois indígenas seguem desaparecidos. Há denúncias de que eles ainda estejam sob tortura dos pistoleiros. O único indígena sobrevivente da emboscada que conseguiu escapar, foi atingido por tiros de raspão.
A sórdida emboscada
O grupo de cinco indígenas se deslocou ao local após receberem uma proposta de trabalho que consistia na construção de um muro na rodovia MS-386, Km 1, região onde se localiza a Coamo Agroindustrial Cooperativa – latifúndio de nova roupagem, “agronegócio”. Ao chegarem, os indígenas se depararam com uma emboscada preparada pelo bando composto por cerca de 20 pistoleiros e policiais.
De acordo com nota emitida pela Aty Guasu, o líder da tekoha Márcio Pereira, foi torturado e em seguida assassinado. O jovem Wilis, ferido em meio ao ataque, foi levado para delegacia e está sendo acusado pela PM pelos crimes que ocorreram. A comunidade teme pela vida dos indígenas que ainda desaparecidos e afirmam que há suspeitas de que estes estejam sob tortura nas mãos de pistoleiros.
O único indígena que conseguiu escapar correndo da emboscada, apresenta lesões pelo corpo e marcas de tiros de raspão na cabeça. O trabalhador reconheceu um dos criminosos que participou do ataque: Rafael Cabrera Figueiredo, taxista na cidade com várias passagens pela polícia.
O segundo ataque em menos de um mês
Essa covarde emboscada é o segundo ataque promovido por pistoleiros e policiais a serviço do latifúndio contra o povo Guarani Kaiowá do Gwapo’y Mi Tujury em menos de um mês. O território foi palco da Chacina de Amambai ocorrida em 24 de junho, quando a tropa de choque da PM através de uma ação ilegal, mobilizando um helicóptero e cerca de 100 agentes junto a pistoleiros atacaram a recente retomada, assassinando Vito Fernandes e ferindo mais de dez indígenas.
No mesmo período ocorreram outros ataques contra ao menos três retomadas além da Gwapo’y, a Jopara e Kurupy, ambas em MS. Essas ações reacionárias contaram com a participação direta de pistoleiros, policiais e latifundiários além de inspirarem outros ataques como promovido pelo latifúndio na Bahia dois dias após a chacina.
Os três territórios alvo dos ataques são parte de uma série de retomadas desencadeadas no estado de MS pelos indígenas após o assassinato do jovem Alex Ricarte Vasques Lopes, que vivia na Tekoha Kurusu Amba região de Coronel Sapucaia. A comunidade que no dia seguinte ao assassinato realizou uma vitoriosa retomada de Jopara, denuncia que o crime que ceifou a vida do jovem em 21 de maio foi cometido por um latifundiário.
Resistência e solidariedade
Além das retomadas desencadeadas após o assasinato do jovem indígena Alex Ricarte, outras ações massivas de resistência e defesa do território se somara, despertando ódio dos reacionários:
Após o enterro do indígena Vito, onde estiveram presentes cerca de 2 mil pessoas, os Guarani Kaiowá reergueram a retomada Gwapo’y e seguem resistindo bravamente às investidas reacionárias.
Assista o vídeo:
Uma onda de solidariedade aos povos indígenas de MS se propagou pelo país, exigindo justiça pelos assassinatos. Diversas organizações populares prestaram apoio aos povos originários, entre elas estão a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), o povo Akroá Gamella do Maranhão, a Executiva Nacional dos Estudantes de Pedagogia (ExNEPe), a Associação de Juízes pela Democracia (AJD), o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) e Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB).
Uma pichação clamando vingança pelo sangue indígena derramado foi encontrada no muro do Ministério Público Federal, na cidade de Dourados (MS) com a consigna Todo sangue indígena será vingado! Morte ao latifúndio!