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Bebê morre de fome em Colatina

ZILDA segura o caixão do neto, ao lado de Rafaela e Vanildo: “Vivemos com R$ 102 do Bolsa Família”, disse a avó

ZILDA segura o caixão do neto, ao lado de Rafaela e Vanildo: “Vivemos com R$ 102 do Bolsa Família”, disse a avóUm bebê de 42 dias de vida morreu de fome na madrugada de ontem após ser internado no Hospital Silvio Avidos (HSA), em Colatina. No atestado de óbito, a equipe médica apontou que a causa da morte foi “grave quadro de desnutrição em terceiro grau”. O menino Luciano Correa Borges do Santos, além de desnutrido, apresentava sinais de desidratação, segundo a enfermeira Maristela Luppi, do setor de pediatria do Hospital Sílvio Avidos.

Segundo ela, o bebê nasceu com 3,2 quilos e, quando chegou ao hospital, estava com pouco mais de dois quilos. “A criança chegou muito debilitada. Os pais vivem em condições precárias no interior de Pancas. Fizemos o que foi possível, mas a criança não resistiu e morreu ”, disse Maristela.

Moradora no Assentamento do Córrego da Ferrugem, em Pancas a mãe do menino, Rafaela Correa, 22, alegou que o leite secou desde o nascimento prematuro do bebê e afirmou que não recebeu qualquer ajuda de órgãos de governo para alimentar a criança.

Rafaela e o marido Vanildo Borges dos Santos, 25, que têm outro filho de 2 anos, afirmaram que usaram leite em pó concentrado na mamadeira do bebê, mas não souberam dizer se era o suficiente para garantir a nutrição da criança. Ela e Vanildo vivem na casa da mãe dele, Zilda Maria da Conceição, 63, com mais oito pessoas.

Zilda confirmou que a criança tomava mamadeira, mas chorava muito. Ela mostrou duas latas de leite que seriam usadas para alimentar o bebê. “Todos nós comemos com minha renda do bolsa Família de R$ 102 por mês. Estamos aqui há 14 anos, depois que governo federal nos deu a terra sem assistência.

Sobrevivemos com muita dificuldade. “Não temos ajuda de nada nem de ninguém”, reclamou. O velório do pequeno Luciano teve de ser à luz de velas na noite de ontem, pois a família vive sem energia elétrica há dois anos por falta de pagamento. Eles bebem água de poço sem tratamento. O avô da criança, Lucindo Caetano de Aguiar, 63, revelou que o Luciano começou a passar mal e chorar de dor à noite e que ficaram de vigília ao lado da Rafaela com uma lanterna até amanhecer.

“Foram de ambulância para Colatina e o bebê voltou morto. Passamos dificuldade aqui. Não temos condução, telefone ou assistência”.

“Esse é o lugar dos abandonados. Nossa casa está sem luz. Não tenho condições de pagar a energia. Quando começa a escurecer já estamos na cama. O tempo que passamos debaixo da lona, antes de vir para a casa, era melhor porque lá tinha o que comer. Prefiro eu passar fome do que meus filhos e netos.”  Zilda Maria, avó da criança.

Nilo Tardin – A Tribuna / ES