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Carta dos povos originários Guarani Kaiowa ao povo brasileiro,

Não aceitaremos a criminalização da luta pela terra! Se atacarem um de nós, todos nos levantaremos!

Nós, lideranças do povo originário Guarani Kaiowa, reunidos no tekoha-guasu Dourados Amambaipegua I (Caarapó-MS), viemos nessa carta denunciar os ataques de Bolsonaro e outros politiqueiros aos companheiros da Liga dos Camponeses Pobres e do acampamento Manoel Ribeiro, em Rondônia. Os camponeses tem avançado para conquistar um pedaço de chão, produzir e ter uma vida digna. Mas esses não são os interesses dos latifundiários, que atacam de todas as formas a luta pela terra.

Bolsonaro, como representante dessa classe que nos explora e oprime mais de 500 anos, atacou os movimentos camponeses, indígenas e quilombolas dizendo que, no seu governo, uma de suas prioridades é impedir as “invasões” de terra, demonstrando seu ódio contra os companheiros da LCP, os chamando de criminosos e terroristas. Depois de diversos ataques por parte de pistoleiros e da polícia, ainda prenderam quatro acampados acusando eles de tentativa de homicídio, sem nenhuma prova. E mais recente invadiram a sede do movimento, numa verdadeira caçada aos camponeses que tem resistido. Repudiamos este cerco e criminalização.

Quando Bolsonaro declara guerra aos camponeses da Liga, declara guerra a todos aqueles que lutam pelo seu território. Nos solidarizamos e somamos a luta dos companheiros pois sabemos, em nossos 500 anos de resistência, o que é enfrentar estes ataques. Como por exemplo, onde realizamos esta reunião, o sangue dos nossos companheiros é a semente com que temos lutado, avançando nossa organização para resistir e demarcar nosso território. Em 2016, fazendeiros em dezenas de caminhonetes atacaram nossa retomada, assassinando o agente de saúde Clodiodi de Souza, ferindo gravemente vários indígenas, incluindo uma criança de 12 anos. Como guerreiro que somos, batalhamos e até hoje seguimos firme nas retomadas. Ainda depois do ataque prenderam Leonardo de Souza, pai de Clodiodi, acusando ele de vários crimes (também sem nenhuma prova). Hoje, Leonardo segue preso, sem acompanhamento, tendo sido negada até sua prisão domiciliar – mesmo ele sendo do grupo de risco da Covid-19.

O Conselho Aty Guasu se solidariza com a Liga dos Camponeses Pobres, pois entendemos que os mesmos que atacam a luta dos camponeses atacam também os povos indígenas. Seja por baixo, com grupos de pistolagem, ameaças, prisões, etc. Seja por cima, com retirada de direitos, como a PL-490 (que entrega ao agronegócio e multinacionais as terras dos indígenas para exploração) e o Marco Temporal. Condenamos estes ataques e esta criminalização. Se pensam que estamos sozinhos, estão enganados! E a cada batalha seguimos aprendendo e nos tornando mais fortes!

Lutamos: contra a perseguição aos movimentos e lideranças dos povos; contra a implementação da PL-490 e do Marco Temporal; pela autodemarcação das terras indígenas e conquista da terra dos camponeses; pela liberdade de Leonardo Guarani Kaiowa e também dos camponeses Stefane, Luiz Carlos, Ricardo e Ezequiel. E afirmamos aos nossos irmãos camponeses do acampamento Manoel Ribeiro: assim como somos donos de nossos territórios tradicionais, vocês são donos das terras da fazenda Santa Elina, e estamos unidos por essas lutas, contra o mesmo inimigo. Afirmamos nosso compromisso a todos que lutam por suas terras, que enfrentaremos em todos os cantos do Brasil, e unidos veremos o fim do latifúndio e a terra para quem nela vive e trabalha.

Conselho Aty Guasu

23 de junho de 2021

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