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Polícia invade auditório do IF para reprimir estudantes e indígenas

Foto: Saulo de Sousa

Um protesto de
indígenas e estudantes nas dependências do Instituto Federal de Rondônia
(campus Calama), na capital Porto Velho, foi reprimido por policiais
militares armados com metralhadoras, no último dia 4 de outubro. Os
agentes da Força Tática e do Batalhão de Operações Especiais (Bope)
foram mobilizados e apoiaram uma plenária composta por grandes
empresários e fascistas, cujos participantes xingaram, agrediram,
ameaçaram e impediram os indígenas de se manifestarem.

A repressão começou quando um indígena tentou adentrar ao auditório para compor a mesa e levantar as exigências e o ponto de vista dos povos originários sobre a mineração, tentativa que foi impedida por policiais que ocuparam durante todo o dia o Instituto. Os indígenas, apoiados pelos alunos, exigiam então o fim da “Audiência Pública”, visto que nela se discutia mineração em terras indígenas sem sequer consultar os povos originários.

A Audiência, convocada
pelo deputado coronel Chrisóstomo/PSL – com a presença do governador
Marcos Rocha/PSL e do ministro de Minas e Energia-, teve em sua mesa
representantes de monopólios estrangeiros e locais, políticos,
representantes da Federação do Comércio, Associação Nacional de
Mineração, Polícia Federal e outros. O Ministério Público Federal, ao
saber que os povos indígenas não foram consultados, rejeitou o convite.

A Associação
Brasileira de Advogados do Povo (Abrapo), em nota, qualificou o evento
que discutia mineração como “uma farsa”, cujo fim era “sem pudor,
atender apenas a comerciantes internacionais de minérios, multinacionais
e iniciar a ocupação e brutal exploração da Amazônia”, em detrimento
dos interesses dos povos indígenas.

A Abrapo afirmou ainda
que “a mesa composta apenas pela Federação das Indústrias do estado de
Rondônia, Federação do Comércio, Associação Nacional de Mineração,
Polícia Federal, Ministério de Minas e Energia e outras organizações,
órgãos e entidades, em nenhum momento mostrou-se interessada em contato
algum e até mesmo repudiou os indígenas diretamente atingidos e que ali
se manifestavam”.

Os advogados do povo
prosseguem a denúncia afirmando que os reacionários “valeram-se de
xingamentos contra os estudantes e indígenas, tentativa de intimidação
física, invasão do auditório por militares armados com metralhadoras
para retirar estudantes e impedir as manifestações dentro do espaço”. E
acrescentam: “Posteriormente houve tentativa de invadir reunião dos
indígenas o que foi impedido graças a firmeza dos inúmeros estudantes e
indígenas presentes que impediram a invasão e expulsaram um jornalista
policialesco local”.

“Essa é a prova cabal de que todo esse aprofundamento da espoliação será realizado de forma brutal e sequer disfarçando um respeito às previsões e garantias constitucionais. Usando-se da desinformação, forte aparato de repressão, negação de direito à fala aos povos presentes na audiência etc., eles mostraram que, de fato, vivemos no avanço do golpe militar contrarrevolucionário preventivo”, assevera a entidade.

“Nos solidarizamos com
a luta dos povos indígenas contra a mineração em suas terras assim como
pela demarcação. Nos solidarizamos com os estudantes que rapidamente
atenderam ao chamado e uniram-se com os indígenas e sua firmeza e
combatividade por todo o tempo que durou a audiência”, concluiu.

Já o Grêmio Livre
Estudantil do IFRO (campus Calama), em nota, afirmou também seu repúdio à
ação dos policiais e a negação do direito à expressão aos indígenas.
“Deixamos aqui nossa nota de repúdio”, afirmam, e prosseguem: “pois,
sendo uma audiência pública, todos devem ter livre acesso, ainda
ressaltando a falta de pudor ao tratar de um assunto tão delicado e não
trazer os devidos representantes para haver uma discussão justa. Mesmo
não envolvendo somente os alunos em específico, somos contra qualquer
ato que envolva o desfavorecimento de qualquer parte da sociedade”,
afirmou, referindo-se aos povos indígenas.

Leia na íntegra a nota do Grêmio Estudantil:

“Hoje, no dia 4 de outubro, no Campus Porto
Velho Calama, às 8h da manhã, ocorreu uma audiência pública realizada
pela Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados requerida pelo
deputado Coronel Chrisóstomo (PSL-RO), tendo a presença do Ministro da
Energia, Almirante Bento Albuquerque e Governador Marcos Rocha.

Tratando da exploração de minérios das
terras indígenas, o assunto percorreu por toda manhã e se estendeu até
em torno das 14h. O que deveria ser uma discussão para a melhor
resolução do que estava proposto, se tornou uma audiência cheia de
atitudes duvidosas e que trouxe grande indignação por maior parte dos
presentes.

O primeiro apontamento a ser relatado é o
fato de uma audiência proposta para tratar das terras indígenas, não
haver um representante indígena para compor a mesa, estranhamento que
logo foi comprovado não somente a omissão de um espaço para tal
representante, quanto o desconhecimento por parte dos indígenas de tal
audiência, sendo confirmado que em nenhum momento houve um convite
formal para compor o público.

Não sendo o bastante, tal evento ainda
tentou impedir a entrada do representante para compor a mesa, na
utilização de forças armadas que se instalaram no Campus durante boa
parte do evento, sendo composta por policiais militares, força tática e o
bope. Vale ressaltar que alunos do próprio Campus foram desrespeitados,
muitos sendo xingados e chegando ao ponto das forças armadas,
encorajadas pelos representantes presentes, tentarem impedir a
permanência de alguns alunos que estavam se defendendo das ofensas
diretas sem justificativa plausível.

Deixamos aqui nossa nota de repúdio quanto
aos atos de caráter duvidoso e a força desnecessária de poder, sendo uma
audiência pública, todos devem ter livre acesso, ainda ressaltando a
falta de pudor ao tratar de um assunto tão delicado e não trazer os
devidos representantes para haver uma discussão justa. Mesmo não
envolvendo somente os alunos em específico, somos contra qualquer ato
que envolva o desfavorecimento de qualquer parte da sociedade.

Para que fique claro, tudo relatado sobre o
ocorrido possui imagens, vídeos e relatos de diversos alunos e
presentes no Campus no dia de hoje.

Porto Velho/RO, 04 de outubro de 2019.

Grêmio Livre Estudantil

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – IFRO

Campus Calama”