O alcoolismo destrói a vida de muitas pessoas e famílias. O Alcoólicos Anônimos – AA é um grupo antigo, que atua em todo o mundo.
O Jornal Resistência Camponesa entrevistou um membro do AA sobre esta doença tão terrível, mas que tem tratamento simples e bastante eficaz. Não divulgaremos o nome do entrevistado por exigência do AA, já que o anonimato é um dos seus princípios.
Jornal Resistência Camponesa: Têm pessoas que tratam o alcoolismo como um problema moral “Fulano bebe porque é vagabundo”. Como o AA define o alcoolismo?
Membro do AA: É uma doença incurável, citada no código internacional de doenças. A própria medicina considera o alcoolismo como uma doença. Fora do AA é tratado como falta de caráter, falta de vergonha na cara, falta de vontade. O próprio alcoólatra fala que bebe quando quer e para de beber quando quer, mas na verdade é o contrário, ele bebe mesmo sem querer e não consegue parar.
No AA evitamos o primeiro gole, não dizemos “não vou beber nunca mais” e sim “não vou beber só por hoje”.
RC: Algumas pessoas querem parar de beber e não conseguem. Pela experiência de vocês, porque isso ocorre? Apenas a força de vontade é suficiente?
AA: Só pelo fato dele querer já ganhou metade do caminho em busca da sobriedade. O momento em que a pessoa quer parar de beber e não sabe como é quando o AA pode ajudar. O lema do AA é bastante simples: “Se você quer beber, o problema é seu. Se você quer parar de beber, o problema é nosso.”
O alcoolismo é uma doença que debilita, enfraquece muito o alcoólatra e ele sozinho não consegue parar de beber. No AA, um fala a linguagem do outro, não dá conselho, cada um conta sua própria experiência, como o álcool só trouxe desgraça para sua vida e como ele consegue recuperar sua saúde e dignidade quando ele evita o primeiro gole.
RC: Algumas pessoas não procuram o AA porque imaginam que irão receber lição de moral. Como são as reuniões do AA?
AA: Nossas reuniões são simples, não falamos de religião, nem de política, não somos filiados a nenhuma seita ou partido, somos independentes, vivemos de nosso próprio esforço. Somos nós alcoólatras que ajudamos a nós mesmos. Quando a pessoa chega numa reunião pela primeira vez, chega desconfiado, não quer falar. Mas não é exigido nada, não precisa nem dar o nome. A pessoa fica desconfiada de que vai receber conselhos, porque quando chega a ir no AA é porque já aprontou muito, já botou a mulher pra correr, deu tiro, etc. No AA ninguém é bonzinho. Eu mesmo, quando cheguei no AA, tinha sido expulso de casa por minha esposa, de tanto que eu havia aprontado. Na reunião eu não quis falar, mas ouvi um companheiro contar sua própria história e pensei “sou alcoólatra também”. Usamos o tratamento de espelho, onde cada um conta sua história. E eu estou evitando o primeiro gole há 22 anos.
RC: O que vocês sugerem a quem mora no sítio e não pode ir à cidade participar de um grupo do AA?