Editorial – nº 18

O ano de 2009 foi, sem dúvida, marcado por um aprofundamento da criminalização do movimento camponês em todo país, levada a cabo pelo velho e podre Estado brasileiro sob a gerência de Luís Inácio, através principalmente da “Operação Paz no Campo” encabeçada pela Ouvidoria Agrária com Gercino José da Silva Filho à frente, das ações do Poder Judiciário puxado pelo STF e seu presidente Gilmar Mendes e do Poder Legislativo tendo na senadora Kátia Abreu (PFL/DEM) a mais desbocada representante, tudo instigado e acobertado de forma sistemática pela imprensa mentirosa, manipuladora e sensacionalista.

Na região amazônica, particularmente no Pará e em Rondônia, que esta repressão se fez sentir de forma mais intensa através da operação Arco de Fogo que atuou em várias áreas dos dois estados, atacando o que chamam de “crimes ambientais” atingindo principalmente as pequenas e médias cidades. No caso do Pará a operação “Paz no Campo” dirigida pela Ouvidoria Agrária e pelo governo de Ana Julia Carepa (PT) resultou na morte de 13 camponeses, desde 2008. Recentemente outra investida do governo federal, agora com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes a frente, foi um mutirão para despejar dezenas de acampamentos na região de Marabá/Pará. No Rio Grande do Sul e Santa Catarina, as ações do judiciário e da polícia por colocar na ilegalidade o MST e na cadeia seus integrantes, bem como a histeria da imprensa tem se dado através de sucessivos episódios.

Enquanto isto nenhuma palavra ou ato sobre toda a brutalidade e genocídio praticada pelos bandos armados do latifúndio, que sempre em cooperação e acobertados pela polícia, cometem assassinatos e desaparições de camponeses e suas lideranças. Da mesma forma sobre as ações sistemáticas movidas pelo aparelho policial com despejos violentos, prisões, espancamentos, seguidas de roubo ou destruição de casas, roças e criações dos camponeses. A não ser para justificar tais crimes, instigar sua prática e criminalizar o povo em luta.

Em Rondônia a aplicação da política ambiental criminosa a serviço do imperialismo levou a população de várias cidades a protestar contra os abusos e humilhações do Ibama e Força Nacional de Segurança. Principalmente em Rio Pardo, Buritis e Extrema, as mais atingidas pelo desemprego, as revoltas contra essas ações covardes vem impondo derrotas aos seus objetivos imediatos de reprimir e intimidar a população.

O aumento da organização de bandos armados e grupos paramilitares a serviço do latifúndio são ataques vingativos ao avanço da Revolução Agrária. A prisão de um grupo de extermínio em Jaci-Paraná, formado por policiais militares que assassinaram pelo menos cinco camponeses e ameaçaram outros dois em União Bandeirantes, é um exemplo de como o aparato militar está a serviço dos grandes proprietários de terra e de como utilizam de forma sistemática e cada vez mais a tortura e assassinatos para garantir seus interesses. Ao contrário do que afirmam, que policiais atuando como pistoleiros seriam casos isolados ou uma exceção, na verdade é uma regra. Seguramente este bando faz parte do mesmo esquema que sequestrou, torturou e assassinou covardemente dois coordenadores da LCP em Buritis, em dezembro passado, a mando do latifundiário grileiro Caldato.

O fato é que mesmo diante de toda esta repressão os camponeses em várias partes do país, ainda que de forma espontânea e com pouca organização, persistem nas tomadas de terra e aplicam a linha de cortar a terra imediatamente, sem esperar pelo Incra e passando por cima das direções oportunistas, principalmente do MST.

O avanço da luta pela terra e a completa falência da chamada “reforma agrária do governo” e as crescentes revoltas populares que explodem em todos os cantos do país estão na base dos ataques e campanhas de criminalização, perseguições, prisões e assassinatos ao movimento camponês combativo. São sinais de que a contradição entre latifundiários e camponeses pobres sem terra longe de amenizar segue se agudizando. Em ano eleitoral e de crise econômica os grandes latifundiários lutarão entre si, cada grupo tentando se manter no controle do gerenciamento dos governos estaduais e federal.

Em Rondônia Raupp/Confúcio, Cassol, Gurgacz/PT todos querem o governo estadual para garantir os interesses econômicos dos grupos que representam, jamais os interesses do povo.

O assassinato brutal dos camponeses Élcio e Gilson em Rio Alto são parte de uma nova ofensiva do latifúndio para deter a luta pela terra em Rondônia. Mas longe disso, só aumentam ainda mais o ódio, a decisão e coragem dos camponeses pobres para erguer ainda mais alto a bandeira da Revolução Agrária para destruir o latifúndio parte por parte em todo o país, cortando e entregando as terras, produzindo e defendendo suas preciosas conquistas com unhas e dentes.
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