Seminário debate a produção nas áreas da Revolução Agrária

Plenária do Seminário de produção - Janeiro de 2010Nos dias 16 e 17 de janeiro a LCP realizou o seminário “A produção nas áreas da Revolução Agrária”, nele participaram camponeses das áreas José e Nélio, Oziel Luna, Raio do Sol, Capivari, Terra Boa/João Batista, Corumbiara, Canaã, Rio Alto, Gonçalo, Jaru, Jacinópolis e Jacinópolis 2. Além de professores, estudantes e apoiadores. Ao todo mais de 70 pessoas estiveram presentes.

Com o seminário a LCP discutiu a necessidade de melhorar o planejamento da produção em cada área, prevendo os problemas do plantio, colheita, transporte, armazenamento e comercialização dos produtos para buscar sua solução e também impulsionar a criação de Grupos de Ajuda Mútua e seu funcionamento permanente. Segundo a coordenação da LCP as discussões e definições do seminário mostram claramente que, para os camponeses pobres, a questão da produção está diretamente ligada à linha política que adote suas organizações, ou seja, de que a política é a linha vital na produção. Afirmaram que as discussões e decisões tomadas serão levadas a todas as áreas até o mês de maio, através de reuniões e estudos.

Durante os dois dias os participantes fizeram e ouviram relatórios das diversas áreas. Trocaram experiências debatendo problemas da produção, sobre técnicas, produção individual e coletiva. Deram principal ênfase na questão da organização dos Grupos de Ajuda Mútua, chamando atenção para o fato de que ter um objetivo programático de libertação dos camponeses e todos os trabalhadores explorados e oprimidos é que pode levar a produção a ter um alto nível de organização, produtividade e diversificação segundo os interesses das massas em luta.

Estimular e fortalecer os Grupos de Ajuda Mútua

Outro aspecto a destacar, segundo os dirigentes da LCP, é que toda a produção nessas áreas é feita com poucos recursos e em sua maioria na base da ajuda mútua e arrecadação com apoiadores e simpatizantes. Ressaltam ainda que o importante papel do financiamento deve basear-se na poupança coletiva e criação de fundos coletivos e ter em perspectiva a criação de um banco popular de fomento para se assegurar a independência e fugir de bancos e Ongs, que na verdade só servem para endividar os camponeses que no fim acabam perdendo a terra. Afirmam que perspectiva do financiamento da produção e sua comercialização está assegurada no desenvolvimento da aplicação do programa agrário revolucionário com o confisco integral dos latifúndios, suas terras e outros meios de produção e inclusive capitais.

Os números recolhidos pela organização do seminário mostram o que todos já sabem, quando a terra do latifúndio é cortada e entregue aos camponeses ela se transforma imediatamente em terra produtiva. Na área José e Nélio a produção de 40 famílias deve atingir este ano 128 mil pés de café, 20 mil pés de banana, 7.300 de urucum, 5.900 de mandioca, 7.000 de cacau, vão colher 2.200 sacos de arroz e mais de 3.500 sacos de milho além de diversas frutas e legumes. Também em outras áreas a produção foi maior que no ano passado. Na área Raio do Sol a produção de arroz será de 38.760 kg, 4.340 pés de banana, 29.750 pés de café, 3.530 pés de cana, 1.720 pés de cacau, 4.140 kg de feijão, 20.250 pés de mandioca, 4.500 pés de inhame, 550 pés de laranja, 27.600 kg de milho, além de abacaxi, abóbora, batata, coco, urucum, cupuaçu e maracujá.

Muito importante foram os relatos sobre o funcionamento dos Grupos de Ajuda Mútua (GAM) que realizam troca de dias de trabalho e se organizam para derrubar, roçar, plantar e colher, além de se organizarem para construir obras que servem a toda coletividade. Os GAM funcionaram em quase todas as áreas com grupos pequenos de famílias, amigos ou vizinhos de lote resultando no aumento da produção quando comparado com a produção individual, os camponeses que trabalham desta forma conseguem plantar e colher muito mais.

A política como linha vital para o trabalho econômico

Camponeses organizados em grupos de ajuda mútua iniciam construção de barracãoComo já relatado acima, a compreensão dos dirigentes e ativistas da LCP, parte do desenvolvimento de uma linha política que dá direção e guia toda a atividade dos camponeses pobres. O que exige elevar constantemente o nível da consciência política de dirigentes e massas trabalhadoras. No seminário os participantes debateram com entusiasmo a situação atual da luta pela terra com o aumento da criminalização e repressão ao movimento camponês em todo país, principalmente na região amazônica.

Foi avaliado que este cerco repressivo se dá em função do avanço da luta camponesa e suas importantes conquistas. Inclusive na abertura do seminário foi realizada uma homenagem aos camponeses Élcio Machado e Gilson Teixeira Gonçalves assassinados em dezembro de 2009.

Ainda nesses debates foi discutido e aprofundado o balanço das principais lutas no ano de 2009 em que se destacaram a formação das Assembleias Populares – AP e seus Comitês de Defesa da Revolução Agrária em algumas áreas; os cortes populares e entrega de certificados de posse da terra e o aumento da produção.

Os relatos apontaram que onde funcionaram as AP ocorreu a melhoria das condições de vida das famílias, com a construção de escolas, estradas, pontes, produção, alfabetização, celebrações, festas, etc. Ou seja, onde os camponeses se organizaram os problemas foram resolvidos de forma coletiva e independente.

Nos relatos, vários camponeses ressaltaram ter chegado nos acampamentos com quase nada, muitos apenas com a roupa do corpo e hoje estão se sustentando com muito trabalho e esforço, muitos construíram casas e possuem criações e lavoura. Também muitos disseram da importância de entrar e cortar a terra por conta e iniciar a produção. A opinião geral foi de que onde os camponeses cortaram por conta vivem melhor do que aqueles que esperam pelo Incra em barracos de lona e dependendo de cesta básica.

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