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Sigamos o exemplo dos heróis do nosso povo

Zé Bentão durante trabalho coletivo em Corumbiara

Bentão: exemplo de coragem e dedicação a luta do povoNo dia 19 de março completam 2 anos da morte do líder camponês Francisco Pereira do Nascimento, o popular Zé Bentão.

De origem camponesa, Zé Bentão nasceu em Lábrea, interior do Amazonas. Sua avó era índia e seu avô, como milhares de outros nordestinos, veio para a região na época do auge da borracha. Ele perdeu a mãe muito cedo e em razão de muitos sofrimentos fugiu de casa com seus irmãos menores, buscando protegê-los da violência e em busca de algum trabalho para sobreviverem. Com seus irmãos viveu muitos anos nas ruas, alimentando todos muitas vezes de restos recolhidos no lixo. Quando já mais crescidos, Bentão se separou dos irmãos.

Trabalhou por muitos anos como carregador e cozinheiro nos barcos que trafegam os rios Madeira e Amazonas, entre Manaus e Porto Velho. Foi trabalhar de peão de fazendas onde experimentou mais sofrimentos, a dura vida de exploração e abusos que os camponeses pobres são vítimas sob o tacão dos latifundiários e seus capatazes.

Zé Bentão era um trabalhador de muitas habilidades, dominava vários ofícios, inclusive o artesanato. Sabia tecer com palhas e outras fibras vegetais vários utensílios como chapéus, cestos, samburás, balaios, além de adereços e enfeites, como colares, brincos, pulseiras, etc. Era exímio mateiro e conhecia como poucos a selva amazônica e seus segredos.

Zé Bentão
Zé Bentão – 2008

Chegou à Rondônia no início dos anos 90 em busca de trabalho nas fazendas da região. Foi na tomada da fazenda Primavera, no município de Theobroma, que entrou em contato pela primeira vez com a luta camponesa organizada. Daí por diante tornou-se incansável lutador. Compreendeu logo a necessidade da preparação política para enfrentar os desafios da luta. Dedicado e disciplinado na luta, no trabalho e no estudo foi elevando constantemente sua formação política, tornando-se em pouco tempo um destacado dirigente do movimento camponês combativo. E assim, vencendo todo tipo de obstáculos, foi descobrindo as causas de tanta exploração, opressão e sofrimento do nosso povo e respostas para sua libertação.

Teve importante participação na luta interna do movimento camponês combatendo o oportunismo de alguns dirigentes do MCC. Junto com outros companheiros e companheiras participou da cisão com os oportunistas do MCC, em 1999, aprofundando a depuração do movimento. Logo encabeçou a fundação e construção da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia em 26 de março de 1999.

Como militante e dirigente popular atuou em várias regiões do estado de Rondônia, denunciando por onde passava as injustiças e ações criminosas do Estado burguês-latifundiário contra os camponeses pobres, organizando-os para a luta combativa e na produção. No cumprimento de suas tarefas, constantemente ameaçado de morte, sempre perseguido e preso várias vezes, nunca se abateu, pelo contrário, ficava cada vez mais indignado e mais disposto a lutar e a dar a própria vida pela causa.

Zé Bentão durante trabalho coletivo em CorumbiaraZé Bentão dirigiu um dos maiores trabalhos de Ajuda Mútua da LCP em Rondônia. Foi no acampamento Lamarca, em 2003 e 2004 quando foram roçados e derrubados cerca de 150 alqueires. Um dos trabalhos foi feito em apenas 3 dias por 70 camponeses que arrancaram todo o capim e transformaram 15 alqueires de pasto em terra pronta para o plantio. A colheita total do Grupo de Ajuda Mútua chegou a 342 toneladas de arroz, milho e feijão!

O companheiro Zé Bentão era também um autêntico artista popular, aprendeu tocar violão sozinho e compôs várias canções sobre a vida, os sonhos e a luta dos camponeses e demais trabalhadores.

Nos últimos meses antes de sua morte havia se afastado das atividades de direção para se concentrar no trabalho de produção em seu lote onde vivia com sua mulher e filhas.

Com a morte de Zé Bentão a luta popular e revolucionária perdeu um dos mais abnegados militantes, firme defensor dos interesses dos camponeses pobres e de todos trabalhadores. Zé Bentão era ardoroso defensor da aliança operário-camponesa, abnegado combatente contra o velho Estado brasileiro de grandes burgueses e latifundiários e contra o imperialismo. Incansável lutador contra todo oportunismo, Bentão defendia ardorosamente o caminho da luta revolucionária pela transformação da nossa sociedade e pela construção de um mundo novo.