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Sob chamado da FNL, camponeses ocupam latifúndios por todo país

Publicado originalmente por Taís Souza em anovademocracia.com.br

Mais de 10 mil famílias camponesas ocuparam 18 latifúndios de Alagoas, Paraná e principalmente São Paulo. Organizada pela Frente Nacional de Luta – Campo e Cidade (FNL), a grande ação mobilizou centenas de famílias que buscam um pedaço de terra para viver e trabalhar. Denominada pela organização de “Carnaval vermelho”, a combativa organização responde à paralisia do velho Estado brasileiro, incapaz de garantir o direito à terra. Treze destas ocupações ocorreram na região do Pontal do Paranapanema, no extremo oeste do estado de São Paulo.

Cerca de 300 famílias ocupam latifúndios em três cidades de Alagoas. Foto: FNL

A jornada de ocupações

Em 25/02, dando início às mobilizações, 388 famílias camponesas realizaram três ocupações no estado de Alagoas

No município de São Miguel dos Campos, região leste do estado, 142 famílias ocuparam o latifúndio, também conhecido como fazenda “Barro Branco”, parte da antiga “Usina Sinimbu”. Outras 96 famílias camponesas ocuparam ainda o latifúndio conhecido como fazenda “Willames”, também parte da “Usina Sinimbu”, localizado no município de Jequiá da Praia. A Usina foi alvo de diversas denúncias e protestos de antigos trabalhadores, por não cumprir com os direitos trabalhistas após sua falência e posterior fechamento em 2015. 

Também em Alagoas, no município de Arapiraca, 150 famílias camponesas ocuparam um terreno da prefeitura no Bairro Batingas, exigindo terra.

No mesmo dia, ocorria na cidade de Ponta Grossa, estado do Paraná, um ato em defesa do direito à moradia que contou com a participação de diversas famílias do acampamento Ericson Jhon Duarte.

Em 26/02, sábado de carnaval, cerca de 2 mil famílias camponesas ocuparam 13 latifúndios em 10 cidades da região do Pontal do Paranapanema, em São Paulo. A FNL denuncia que há mais de 300 mil hectares de terras julgadas e reconhecidas definitivamente pelo judiciário como terras públicas, que deveriam ser destinadas à chamada “reforma agrária”, porém não estão nas mãos dos camponeses. 

Dois dias depois das ocupações em São Paulo, os camponeses resistiram a um ataque de pistoleiros a mando do latifúndio. Os pistoleiros atiraram contra o acampamento formado no dia 26 na antiga Fazenda “Cachoeirinha”, localizada no distrito de Planalto do Sul, município de Teodoro Sampaio. Os trabalhadores denunciam que o latifundiário Joaquim das Neves explora a região.

Ainda no sábado, aproximadamente 100 famílias camponesas ocuparam uma área pública de 150 hectares, localizada em Sobradinho, Brasília. Os trabalhadores denunciam que a área ocupada pertence à Terracap, “órgão público que não cumpre a função social, atuando com um latifundiário”, e dizem também que o próprio latifúndio tem realizado grilagem no local visando lucrar com a especulação imobiliária. 

Três dias após a ocupação, as famílias resistiram a um ataque de quatro pistoleiros. O bando armado atacou os acampados proferindo ofensas e ameaças com intuito de intimidar as famílias do acampamento nomeado como Florestan Fernandes.

Como parte da mobilização, no dia 28/02 cerca de 120 famílias ocuparam um latifúndio conhecido como fazenda “Pau Ferro”, no município de Arapiraca, também no estado de Alagoas.

Em resposta à crise imposta, as famílias tomam terras

A grande mobilização que resultou na tomada de latifúndios por todo país, vem de encontro com o anseio das massas de trabalhadores que, diante da colossal crise que lhe é imposta, é levada a compreender e buscar solucionar seus problemas, conquistando um pedaço de terra. Com isso,  toma forma e se desenvolve a contradição que empurra os camponeses sem terra versus latifúndio, como parte da contradição fundamental de nossa sociedade, massas versus semifeudalidade (contradição nunca resolvida, mas sim fomentada pelo velho Estado).

Conforme apontado no Editorial de AND “Um ano explosivo”, ao menos 15,6 milhões de famílias estavam oficialmente na extrema miséria em dezembro de 2021, o desemprego vigora na casa dos 26,3 milhões de pessoas (contando desempregados, desalentados e subutilizados no terceiro trimestre de 2021); e a fome hoje já atinge mais da metade dos brasileiros.

É sob este cenário que cada vez mais famílias se mobilizam para conseguir um pedaço de terra, enfrentando a tentativa de criminalização dos movimentos populares e os ataques de bandos militares e paramilitares a mando do latifúndio.

Os camponeses organizados pela FNL afirmam que as ocupações continuarão até que saiam as emissões de posse e as milhares de famílias camponesas conquistem seu justo direito à terra.