Assassinos de Gildésio Alves Borges continuam impunes

No dia 29 de dezembro de 2011, os camponeses da área Flor do Amazonas em Candeias do Jamari  – RO, celebraram com pesar 2 anos do assassinato de Gildésio Alves Borges, o Neguinho. Para seus vizinhos e companheiros, que desde o final de 2005, o conheceram, compartilharam seu anseio e esperança de ter um pedaço de terra.

Neguinho,  chegou ao então acampamento Flor do Amazonas Anos seguidos, cuidou do pedaço de chão ao qual ele teria apenas dez alqueires. – “Não quero mais do que eu possa plantar dois mil pés de café”. Dizia.

Neguinho, em todas as ações políticas de defesa do Acampamento, viu-se de frente com o perigo. Nunca retrocedeu. Sempre alegre, risonho, contava vez por outra, sobre sua família. Acalentou alguns sonhos. Quando da ocupação durante três meses, na sede do INCRA em Porto Velho, sua rede armada em colunas do bloco principal, impressionava pela segurança e certeza de que aquela ação seria vitoriosa.

Foi vitoriosa também sua ação que somou trinta dias a mais, no pátio externo do INCRA. Neguinho decidira ficar pra desmentir o Superintendente do INCRA: os problemas da área da Antiga Fazenda Urupá, não seriam resolvidos, tão somente pela criação do Assentamento. Havia mais desafios.

Após a criação do Assentamento, iniciaram-se buscas por registros de Gildésio Alves Borges. Encontrou-se a família de Gildésio, no interior da Bahia. –“Agora, sim, vou poder dizer quem sou, pra meu pessoal”. Falava com simplicidade, porém com firmeza.

Gildésio, recuperava-se de um atentado à faca (ocorrido em setembro/09), na casa de um agricultor vizinho, que propôs ajudar-lhe, pois o mesmo não podia rachar lenha, puxar água no poço, cavar e outras atividades pesadas da roça.

No dia 29 de dezembro de 2009, por volta das onze horas da manhã, Neguinho, semeava, aproximadamente, um quilo e meio de cacau, falou de planos: faria uma área, novos documentos, havia a medição do “seu lote”, o Incra precisou mexer em marcações dos, agora seus desafetos que não aceitavam a medição. Ainda no dia 29 de dezembro de 2009, por volta de seis horas da tarde, uma vizinha avistou Neguinho lavando panelas e enchendo baldes com água. Dois outros vizinhos viriam limpar o poço. Ele, Neguinho, faria a comida. Mostrava-se feliz.

No dia 30 de dezembro de 2009, por volta das sete da manhã, o corpo de Neguinho, foi encontrado, no córrego, onde ele armara sua rede de pescar .  Próximo ao riozinho encontraram: o tempero que buscara no vizinho, meia dúzia de peixes em uma sacola plástica, seu chinelos em local distantes de onde estariam, sua camisa, um sabão que escorregou da sua mão, panelas lavadas, baldes cheios de água.

Para seus companheiros, a revolta pelo acontecido, a descrença nos procedimentos adotados pela polícia. O inquérito não concluído, não apaga a certeza da elucidação do crime. O criminoso está solto. Atualmente a Associação dos camponeses enverga com muita propriedade o nome de Gildésio Alves Borges.

Parece muito claro, o envolvimento de quem matou Neguinho, com pessoas de muita influência sobre quem e quantos deveriam elucidar este crime brutal. O inquérito policial tem tantas evidências e um suspeito, com todos os motivos para executar Neguinho, foi conduzido à Delegacia de Polícia e solto, poucas horas depois.

Os camponeses do Flor do Amazonas, tem na História a lembrança viva de Gildésio, que lutou pela conquista das terras que hoje está de fato nas mãos de quem nela trabalha e produz com dignidade.

Companheiro Neguinho! Presente!

Comitê Popular de Lutas

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