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Camponês é executado em tentativa de massacre, em Colniza

Foto identificada como Eliseu Quedes

No dia 5 de janeiro morreu o primeiro
camponês vitimado pelo latifúndio na luta pela terra em 2019. Eliseu
Queres, de 38 anos, foi assassinado num confronto que ocorreu na
madrugada daquele dia na Fazenda Agropecuária Bauru (também conhecida
como Fazenda Magali), uma gleba de terras da União, no município de
Colniza, Mato Grosso. Além de Eliseu, nove pessoas ficaram feridas,
sendo que cinco estão internadas, três delas em estado grave.

Foto identificada como Eliseu Quedes
Foto identificada como Eliseu Quedes

Em nota escrita pela Comissão Pastoral da
Terra (CPT), o confronto ocorreu durante uma emboscada de pistoleiros
durante a noite contra camponeses acampados que haviam ido buscar água
no Rio Traíra.

A improdutiva Fazenda Bauru é, segundo a
CPT, grilada (roubada) pelo ex-governador do Mato Grosso, Silval
Barbosa, e pelo ex-deputado José Riva, sendo hoje ocupada por cerca de
200 famílias. “Há alguns meses vários trabalhadores foram ameaçados,
pelo próprio ex-deputado e pelos capangas fortemente armados que ele
colocou na fazenda, que diuturnamente ameaçavam as famílias no
acampamento, efetuando disparos de armas de grosso calibre, inclusive
fuzis, e fogos de artifícios, na intenção de incendiar os barracos.”,
denunciou a entidade.

Essas ameaças ocorreram após os camponeses
terem mudado o local do seu acampamento para cumprir uma decisão
judicial da Vara Agrária. Ainda na nota da CPT, relata-se que a Polícia
Militar (PM) inicialmente recusou-se a acompanhar a ambulância que
prestaria resgate às vítimas. Segundo várias entidades e a própria
imprensa local, os políticos adquiriram a terra com roubo do erário
público.

Ameaça contra as famílias trabalhadoras

Segundo denúncia da CPT e do Fórum de
Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso, datada de primeiro de
novembro de 2018, Riva estava, com um grupo de pistoleiros, fazendo
campanha de intimidação contra as famílias acampadas na propriedade. 

“Das quase 200 famílias que lá estão sob a
mira dos pistoleiros na Fazenda Agropecuária Bauru, algumas são
posseiras, outras compraram o direito de estar na terra, e já moram em
seus lotes há algum tempo. Produzem e criam animais. São pessoas que
apostaram no sonho de construir uma vida com o suor do trabalho. Não
podemos deixar que mais um massacre aconteça.”, relata a denúncia de
novembro do ano passado.

Ataque tentou repetir chacina

Colniza foi também cenário de um massacre
de camponeses em 19 de abril de 2017. O massacre, que envolveu a tortura
e o assassinato de nove camponeses, foi internacionalmente repudiado.
Todos os corpos exibiam sinais de tortura: um dos camponeses foi
decapitado, dois deles foram mortos com golpes de facão e os demais
foram assassinados com espingardas de calibre 12. Após o massacre, a
Comissão Nacional das Ligas dos Camponeses Pobres (LCP) escreveu uma
nota com um pequeno histórico de alguns dos crimes do latifúndio de
Colniza: 

“Essa não é a primeira vez que pistoleiros a
serviço do latifúndio cometem crimes contra os camponeses na região. Em
2004, 185 famílias foram expulsas de suas posses pelos latifundiários
que queriam se adonar dessas terras ricas em madeira e minério. Mesmo o
juiz tendo concedido reintegração de posse favorável às famílias (caso
raro), os ataques e ameaças continuaram. Em 2007, cinco camponeses foram
assassinados, outros dez foram torturados e mantidos em cárcere
privado. Entre eles estava Francisco Chaves da Silva, que agora nesse 19
de abril foi novamente torturado e, em seguida, assassinado. Tais
crimes motivaram na época uma operação da polícia que localizou pelo
menos duas ossadas humanas, apreendeu farto armamento e chegou a prender
alguns fazendeiros, que logo foram soltos e mantidos impunes. Em 2011,
mais de 700 pessoas que estavam acampadas na entrada da Fazenda Estrela,
foram atacadas e expulsas da área. Em 2013 uma aeronave pulverizou
agrotóxico sobre as famílias. Um fazendeiro chegou a ser preso, mas
solto em seguida. Em 2014, quando estavam a caminho de realizar
denúncias à Ouvidoria Agrária, o presidente de uma associação de
produtores rurais, Josias Paulino de Castro, 54 anos, e sua mulher,
Ireni da Silva Castro, 35 anos, foram assassinados numa estrada da
região de Guariba por tiros de calibre 9 milímetros”, denunciou a LCP.

A CPT, em sua nota sobre a tentativa de
massacre de janeiro de 2019, assinada também por mais 26 organizações,
denuncia que “a impunidade é a característica principal contra o povo do
campo. Exigimos a punição dos culpados! Ou será que os mandantes desta
tentativa de chacina também ficarão impunes como estão os da chacina de
2017, que vitimou nove trabalhadores também no município de Colniza?”,
questionam.

Em 2017, em nota, a LCP protestou contra
aquele massacre: “Se enganam, senhores latifundiários, se acham que
ficarão impunes. Se enganam, senhores, se pensam que impedirão sua
destruição e que com terror e matança frearão a luta camponesa. O sangue
dos companheiros de Colniza e tantos outros não terá sido em vão, só
faz aumentar nosso ódio e disposição de luta! O povo saberá no decorrer
da sua luta vingar todos seus heróis, e todos os crimes cometidos contra
o povo serão devidamente cobrados”.

Camponeses fazem vigília em hospital de Colniza pelas vítimas da tentativa de massacre