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Camponeses exigem punição para os responsáveis pelo assassinato de Cleomar Rodrigues e judiciário cancela julgamento para proteger latifundiários e policiais envolvidos no crime de Estado

Manifestação cobra punição para os mandantes e assassinos de Cleomar

Manifestação cobra punição para os mandantes e assassinos de CleomarNo último dia 07 de setembro, dezenas de camponeses, organizados pela LCP – Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Sul da Bahia, realizaram um combativo protesto durante os desfiles comemorativos da falsa “independência” do Brasil, nas cidades de Pedras de Maria da Cruz e Januária. Os ativistas denunciaram os sucessivos crimes do latifúndio, incrementados no último período por meio do “Movimento Paz no Campo”, uma espécie de nova UDR organizada pelos latifundiários da região através da Sociedade Rural. A LCP exigiu durante o protesto a punição dos mandantes e executores de Cleomar Rodrigues de Almeida, dirigente do movimento assassinado numa tocaia armada por policiais e pistoleiros a soldo de um consórcio de latifundiários, como tentativa desesperada de frear o crescimento da luta pela terra e por territórios de camponeses, quilombolas e indígenas. No manifesto distribuído durante os desfiles a Liga afirma:

“No dia 22 de Outubro deste ano completam-se quatro anos do covarde assassinato do companheiro Cleomar, por pistoleiros e policiais, a mando dos latifundiários. Cleomar Rodrigues de Almeida, dirigente da Liga dos Camponeses Pobres, foi fuzilado por disparos de armas de grosso calibre numa tocaia, na porteira que dá acesso à Área Unidos com Deus Venceremos em Pedras de Maria da Cruz, onde trabalhava e vivia com 35 famílias, desde 2008. Seu assassinato causou grande repercussão na região, revolta entre os camponeses e comoção entre os apoiadores da luta pela terra e democratas em várias partes do país.  

O companheiro Cleomar há muito tempo vinha sendo ameaçado de morte, por conhecidos pistoleiros da região e pelo policial civil Danilo de Januária, que junto com outros agentes do Estado, publicamente prestam “serviços” aos latifundiários de Pedras de Maria da Cruz e região. Desde 2010, isto foi denunciado amplamente ao MP, Ouvidoria Agrária, INCRA e outras autoridades, inclusive em audiências públicas, onde foram citados os latifundiários Antônio Carlos Vinagre, Hiram Moura, Rodolfo Rabelo, Antônio Aureliano e outros.

O companheiro Cleomar foi assassinado por sua militância abnegada, por defender os interesses e a união dos camponeses pobres na luta contra o inimigo comum: o latifúndio e seu velho Estado; Em sua memória, as famílias camponesas retomaram parte das terras griladas da fazenda Pedras de Maria Agropecuária, cortaram e distribuíram as parcelas, dando seu nome à Comunidade.

No final de 2014, depois de um inquérito farsante, que tinha como objetivo esconder os nomes dos latifundiários mandantes do assassinato do companheiro Cleomar, bem como impedir que viesse à tona a participação de agentes policiais de Januária no crime, foram presos os pistoleiros Marcos Ribeiro de Gusmão e Marco Aurélio da Cruz Silva, acusados pelo assassinato. No entanto, menos de 1 ano depois, em 03 de novembro de 2015, um habeas corpus do STJ concedeu liberdade provisória para eles.

A soltura destes bandidos, assim como a não acusação formal dos mandantes e da formação de uma organização criminosa dos latifundiários desta região, envolvendo agentes policiais do Estado, como evidencia o julgamento que será realizado dia 13 de setembro deste ano, demonstra bem a farsa desta “justiça” que historicamente acoberta grileiros de terra, torturadores, assassinos de camponeses, quilombolas e indígenas, configurando em Crimes de Estado”. 

Faixa repudia eleição durante manifestação no Norte de MinasAs faixas foram vistas por milhares de pessoas e fotografadas por centenas. Os camponeses denunciaram também a farsa eleitoral e convocaram a população a boicotar as eleições e muitas pessoas procuravam os ativistas para se informarem sobre o andamento do processo judicial e para se solidarizarem com o movimento. Comprovando o caráter pró-latifúndio do judiciário denunciado pela LCP, Panfletagem durante manifestação no Norte de Minasdevido a grande repercussão do protesto em que foi distribuído mais de 4.000 panfletos, o julgamento de dois dos pistoleiros responsáveis pela execução de Cleomar Rodrigues, que ocorreria no dia 13/09, foi cancelado abruptamente, apenas um dia antes da data que  estava marcada desde o ano passado.

Desta maneira, o judiciário na pessoa da juíza Bárbara Lívio, da 2ª Vara da Comarca de Januária, acusou o golpe e deu mais uma demonstração de subserviência ao latifúndio. Fica evidente que o julgamento foi cancelado devido a forte pressão da opinião pública local, nacional e internacional favorável à punição dos latifundiários mandantes e dos policiais envolvidos no crime e que, desde 2014, são protegidos por meio de um inquérito policial e processo judicial farsante que busca de todas as formas tirar o caráter político de mais este crime de Estado contra os camponeses e sua legítima luta pela terra.