Vimos através dessa, denunciar os crimes que estão sendo cometidos na cidade de Lagoa dos Gatos pelo latifundiário, proprietário herdeiro, Deputado Federal Eduardo da Fonte. No dia 18 de março, o Deputado Federal enviou seu irmão, Maurício da Fonte, para comandar pessoalmente o despejo das famílias acampadas no latifúndio Peri-peri, ordenando que um trator destruísse as casas de alvenaria e barracos de lona dos acampados, as lavouras e roçados de batata, macaxeira, milho e feijão.
No momento da destruição das lavouras, munidos de uma câmera fotográfica, vários acampados se organizaram para registrar a ação. O referido trator foi fotografado destruindo a roça de macaxeira, bem como vários pistoleiros munidos de armas de fogo, inclusive de grosso calibre, que estavam ali garantindo a destruição da plantação das famílias camponesas.
No momento de nosso registro a PM, que já se retirara do local após a desocupação pacífica da área, foi chamada pelas famílias para regressar. Quando a PM chegou, como sempre, só enquadrou os camponeses, oito trabalhadores ficaram cerca de meia hora detidos, recebendo a famosa “geral” em busca de armas, enquanto mais de trinta pistoleiros portando armas explicitamente não foram sequer abordados pela polícia.
Desde o dia do despejo até hoje estamos vivendo um clima de terror na cidade e principalmente nos povoados vizinhos ao latifúndio. Os pistoleiros de Eduardo da Fonte são bandidos da região, inclusive ex-presidiários, velhos conhecidos da polícia por cometerem crimes de morte e controlarem um ponto de venda de “crak” na cidade de Lagoa dos Gatos. O restante do bando de pistoleiros é composto por marginais envolvidos em roubos, desmanches de moto e muitos são foragidos da polícia.
Na última segunda-feira, dia 29 de março, quatro pistoleiros em um Fiat prata, quatro portas, tentaram assassinar um morador vizinho ao latifúndio e apoiador da luta pela terra. Quando o trabalhador se deslocava para seu trabalho foi perseguido pelo grupo, que efetuou vários disparos, tendo um desses acertado a moto e dois outros uma leiteira de alumínio. Felizmente nenhum tiro acertou o camponês, que só não foi assassinado por que seus amigos foram ao seu socorro.
O clima de terror que estamos sofrendo diariamente, por parte do latifúndio, tem tido a conivência do poderes local, onde só os camponeses são tratados repressivamente “dentro da lei”. Tememos que o próximo derramamento de sangue da luta pela terra no estado de Pernambuco, ocorra no latifúndio Peri-peri, dessa vez sob o comando de um Deputado Federal, “legítimo representante do povo”, o senhor Eduardo da Fonte.
Inclusive o Sr. Eduardo da Fonte em suas propagandas eleitorais, demagogicamente, fala que o “crak é um problema de saúde pública” e que ele apoia casas de recuperação de usuários desta maldita droga. Mas em Lagoa dos Gatos, o “ilustre” deputado contrata traficantes de droga para destruir a roça de camponeses e protegerem seu imenso latifúndio.
Denunciamos também o total descaso do Incra, da Ouvidoria Agrária Estadual e da justiça municipal que não enviaram sequer um representante para acompanhar o despejo. O Incra como sempre revela sua inoperância. O superintendente regional Sr. Abelardo, marcou uma reunião no Recife, dia 25 de março, com as famílias despejadas, mas não compareceu e nem mandou nenhum representante. E não é a primeira vez que o Incra obriga os camponeses a arcarem com enormes gastos para irem ao Recife e quando chegamos lá damos de cara com as portas fechadas.
O mais preocupante é que todos estes crimes acontecem: roças e casas de camponeses são destruídas, tentativa de morte contra apoiadores da luta pela terra, e não se toma nenhuma providência, nada é noticiado pelos meios de comunicação. Este cerco contra a luta pela terra faz parte da perigosa ofensiva do latifúndio com a conivência do governo contra os camponeses. Quando trabalhadores com tratores destruíram pés de laranja no latifúndio Cutrale (SP), que se apropriou de terras griladas da União, diga-se de passagem, um grande estardalhaço foi feito. O Presidente da República, o Presidente do STF, senadores e deputados, todos vão a público condenar a ação. Mas quando um deputado federal manda um trator destruir casas e roças de famílias camponesas pobres, nada é noticiado! Nenhuma autoridade diz ou faz nada e as famílias ainda ficam sob a ameaça de bandos de pistoleiros fortemente armados! Até quando estas injustiças e crimes contra o povo seguirão acontecendo impunemente?
Se o campo não planta a cidade não janta!
A luta pela terra não é crime!
O povo quer terra não repressão!
Viva a Revolução Agrária!
Liga dos Camponeses Pobres do Nordeste
Lagoa dos Gatos – Pernambuco – Brasil
31 de Março 2010