Latifúndio sofre mais uma derrota: camponeses conquistam eletrificação na Área Revolucionária Renato Nathan

Após anos de dura luta, os camponeses da Área Revolucionária Renato Nathan, em Messias – Alagoas, conquistaram a instalação de energia elétrica para suas casas. Nesta área, que historicamente havia sido grilada pela Usina Utinga Leão, atualmente vivem centenas de famílias camponeses que sustentam uma das áreas mais produtivas do estado. A eletrificação da área, como parte da luta pela Revolução Agrária, é um importante passo para que as famílias camponesas possam melhorar suas condições de vida e aumentar sua produção, incentivando e apoiando materialmente outros camponeses para conquistarem também suas terras, destruindo o latifúndio palmo a palmo. Agora dia 12 de junho será o ato em comemoração desta conquista e será também uma homenagem ao companheiro José Adeilton, o Del do Lajeiro, que nesta data comemoraria seus 57 anos.

“O LAJEIRO”

No início, por volta de 2003 a semente na luta no Lajeiro foi plantada, inicialmente por famílias de posseiros que viviam e trabalhavam no local. Estas foram as primeiras famílias a enfrentar a Usina Utinga na conquista dessa terra. Entre 2003 e 2008, novas famílias se instalaram no local, buscando na ocupação das terras griladas pela usina uma forma de sustento para seus filhos.

Em meio a crise em 2009 as fazendas usurpadas pela Utinga são ocupadas por vários movimentos de luta pela terra em Flexeiras, Murici, Rio Largo e em Messias a bandeira da Liga dos Camponeses Pobres organiza os camponeses na ocupação do Lajeiro juntos aos primeiros sitiantes. Ao final deste ano, com dezenas de famílias acampadas a área encara sua primeira ordem injusta e ilegal de reintegração de posse.

Com essa falsa ordem de despejo as dezenas de ocupações nas terras griladas pela usina são desfeitas, alguns movimentos levam os camponeses para a beira da pista, mas a bandeira da LCP segue firme no Lajeiro. A fama do Lajeiro, como único movimento que enfrenta a Usina se espalha, e mais famílias chegam.

Em 2012, realizamos a área se expande e ocorre a primeira parte do Corte Popular, finalizando com uma grande festa de entrega dos certificados de posse e batismo da área como: Área Revolucionária Renato Nathan, em homenagem a nosso grande herói da luta camponesa, assassinado pelo latifúndio em Rondônia no mesmo ano.

Seguimos firmes na luta superando ameaças de reintegração, que eram praticamente diárias, e entre 2014 e 2015 fazemos nossa segunda expansão, completando nosso objetivo de ocupar toda a área abandonada e usurpada pela usina há anos. Neste período, em meio a ameaças da Utinga, construímos nossa sede de alvenaria. A nossa firmeza na luta e na bandeira impulsiona a construção de casas de alvenaria nos lotes. No final do ano de 2015 realizamos a 2º parte do Corte Popular e entrega dos certificados.

A luta do Lajeiro se espalha e a justeza de nossa resistência contra Usina Utinga nos traz importantes apoiadores, destacadamente professores progressistas da UFAL e estudantes democráticos. Foram diversas visitas, palestras na Área, Atos, plenárias, manifestações que estes verdadeiros apoiadores da luta dos camponeses seguem contribuindo com a construção do Novo Brasil.

A LUTA PELA ELETRIFICAÇÃO

Desde o início de nossa ocupação há mais de 15 anos a eletrificação sempre foi nosso objetivo, mas antes de tudo precisávamos consolidar uma situação estável na Área, com aumento do número de casas, elevar a produção e a quantidade de famílias. Como também era preciso uma boa articulação jurídica para não sermos pegos de surpresa.

Em janeiro de 2017, representantes da prefeitura de Messias estiveram em nossa área para prometerem eletrificação até a casa de farinha, chegaram a dizer que “em uma semana teríamos uma surpresa”. Passados meses o que aconteceu? Nada! Foram só promessas. Em dezembro de 2017, cansamos de promessas da prefeitura e de idas e vindas na Eletrobras, como já tínhamos o projeto de eletrificação pronto desde 2015, na última assembleia de nosso companheiro Del, foi definido mudar a estratégia da luta pela eletrificação, e é a partir desta justa direção que a situação muda em nosso favor. Infelizmente dois dias depois o valente coração do companheiro Del parou de bater, isso nos entristeceu, mas não nos impediu de seguir sua inspiração e determinação que continuaram, com a nova coordenação da área que assumiu em janeiro de 2018 seguindo as suas definições.

Com a nova coordenação, os camponeses do Lajeiro realizam uma manifestação na cidade em defesa da nossa Área e pela eletrificação, convocando uma histórica audiência na câmara, onde os próprios vereadores reconheceram que nunca viram aquela casa tão cheia de trabalhadores, e logo se prontificaram em formar uma comissão de vereadores, para ir junto à direção do Lajeiro, cobrar da Eletrobras que o nosso projeto de eletrificação fosse executado.

A consequência dessa pressão foi exatamente como o companheiro Del já havia previsto, quando define em dezembro ações e atos na cidade cobrando da prefeitura. O projeto, já pronto na Eletrobras, é aprovado e nossa luta pela eletrificação chega à sua vitória com a instalação dos postes, transformador e cabos de transmissão, bem como o fornecimento contínuo de energia a cada uma das famílias camponesas que moram e trabalham todos os dias no Lajeiro.

Nossa semente plantada e bem cultivada só poderia dar bons frutos, pois plantamos em 2003 e em 2016 fizemos uma importante colheita, derrotando uma reintegração de posse a beira de ser executada. Em 2018, outra importante colheita foi a eletrificação, que é decorrência desta histórica resistência ao longo de anos. Não reconhecer isso é traficar com a luta dos camponeses.

Ao longo destes 16 anos de história quantas eleições se passaram? Ao longo de 16 anos quem investiu em casa e em produção acreditando na luta? Quem estava no fechamento de pista queimando pneus para impedir reintegração? Quem deixou a vida na capital para mudar com a família para Área, ainda sem energia? Quem enfrentou e expulsou a bandidagem da Área? Quem deu a vida, o sangue e o suor pra defender esta Área Revolucionária? Foram os bravos camponeses, companheiros e companheiras que há anos fincaram o pé nesta luta junto com a bandeira vermelha da Liga dos Camponeses Pobres.

Nossa luta não terminou, chegamos até aqui de forma independente e agora depois da eletrificação nossa bandeira de luta vai ser a regularização das terras e a derrota completa da Usina. Nos mantemos firmes e unidos nesta luta que é a garantia de nossa vitória. Como marco desta luta, no dia 12 de junho realizaremos uma grande festa no lajeiro celebrando esta grande conquista e os verdadeiros responsáveis por ela: nossos bravos e bravas companheiros e companheiras de luta, os camponeses que erguem cada vez mais alto a bandeira da Revolução Agrária, da terra para os camponeses e pelo fim do latifúndio.

Este governo do fascista Bolsonaro e seus generais quer acabar com nossos direitos com a “reforma da previdência” e constantemente faz ameaças aos movimentos camponeses. Quer afogar em sangue a luta pela terra. Fracassarão! Até aqui chegamos com a nossa luta e seguiremos avançando! Manteremos vivo o sonho dos companheiros que já se foram. Nossa vitória é certa mantendo nossa união e seguindo o Nosso Caminho, o caminho da bandeira vermelha da LCP na luta por terra, pão, justiça e uma Nova Democracia. Pois a luta é dos camponeses e a vitória também, por que o Lajeiro é nosso e de mais ninguém!

Viva a Revolução Agrária!

Viva a Área Revolucionária Renato Nathan!

De quem é o Lajeiro? É nosso!

Companheiro Del: Presente na Luta!

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