Em dezembro de 2011 as famílias que tomavam posse há quase dois anos da área Zé Bentão (antiga fazenda Santa Elina) se retiraram das terras e acamparam num sítio vizinho a área. Essa retirada aconteceu após intensa campanha de provocações e ameaças. O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva teria dito que se os camponeses não saíssem das terras sofreriam “sérias consequências”. Essas ameaças vieram acompanhadas de intensa movimentação de tropas do Exército, Força Nacional e demais aparatos policiais da região.
Ainda com uma pontinha de esperança, os camponeses saíram das terras diante das promessas do Incra de cortar a área em 60 dias, que as famílias iriam receber lona, cesta básica, as famosas “bolsa-esmola” e que “quem tivesse benfeitorias nas suas posses não entrariam no sorteio e pegariam o mesmo lote”.
Logo após os primeiros dias de acampamento as famílias começaram a comprovar e perceber que o “paraíso” prometido pelo Incra não passava de conversa fiada para convencer as pessoas a saírem da área. O Incra prometeu em compromisso assinado fornecer lonas e cestas básicas para 60 dias a todas famílias. Porém forneceu apenas 3 rolos de lona que não deu nem para construir nem a metade dos barracos e que já não suportam mais as chuvas intensas deste período. As cestas básicas vieram incompletas, apenas uma vez, e não duraram sequer 20 dias. Além disso nem todos receberam. Várias famílias estão passando necessidade e a situação só não é pior porque contam com a solidariedade de outras famílias que compartilham o pouco que têm umas com as outras.
Desde que saíram da área, as famílias tem amargado uma vida de prejuízos, dificuldades e doenças. As roças existentes dentro da área estão sendo tomadas pelo mato, os bichos selvagens estão comendo a produção e as criações. Com a temporada de chuva as famílias que estão no acampamento vivem no meio do barro em condições insalubres. Mesmo tendo cavado poço e construído fossa mais de 80% das crianças e muitos adultos já adoeceram com sintomas de febre e diarreia.
Mas o pior ainda estava por vir, o Incra não está respeitando o corte feito pelos camponeses (na área correspondente a antiga Água Viva) e o projeto que estão querendo implementar, se for posto em prática, modificará toda a situação da área Zé Bentão e ao invés de resolver, criará conflitos entre as famílias.
O projeto apresentado pelo Incra modifica toda a disposição dos lotes, nas mais variadas direções e tamanhos diferentes. Se o projeto for posto em prática, vai haver situações absurdas como, por exemplo, 1 só lote vai englobar as benfeitorias de 5 famílias.
De acordo com o projeto do Incra mais de 22% dos lotes (mais de 42 de um total de 194 lotes) não teriam acesso a água. Já no corte feito com muita competência pelos camponeses apenas 5% dos lotes (14 de um total de 296 lotes) saíram sem água.
No projeto do Incra não está previsto a construção de estradas, apenas está aproveitando os precários carreadores existentes.
Questionado pelos camponeses, tanto os técnicos terceirizados pelo Incra e o próprio Queiroga do Incra de Colorado D’Oeste, concordam que o corte feito pelos camponeses está bem feito e pode muito bem ser mantido como está, garantindo para as famílias a manutenção de suas posses e benfeitorias. Porém alegam que as ordens de mudar tudo partem do Incra de Porto Velho, em particular o seu superintendente Carlino Lima.
Se o Incra insistir em aplicar esse projeto, não vai beneficiar em nada as famílias da área Zé Bentão, ao contrário só trará mais prejuízos e aumentará ainda mais os conflitos já existentes.
Por isso, exigimos que o corte feito pelos camponeses seja respeitado. Exigimos que todas as famílias que tem produção e benfeitorias tenham os mesmos lotes garantidos e respeitados.
Defender a posse pelos camponeses da fazenda Santa Elina!
Terra para quem nela vive e trabalha!
O povo quer terra, não repressão!
CODEVISE – Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina