MG: Reintegração de posse legaliza grilagem do latifundiário assassino Leonardo Andrade

Pixação no Mercado Municipal de Montes Claros
Pixação no Mercado Municipal de Montes Claros

No último dia 10/12/19, cerca de 50 famílias do acampamento Recanto das Águas, organizado pela Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL) no município de Capitão Enéias, norte de Minas Gerais, foram despejadas por meio de uma reintegração de posse favorável ao latifundiário assassino e grileiro Leonardo Andrade. Os camponeses denunciam que a reintegração de posse foi completamente ilegal, resultado de um processo judicial cheio de vícios.  Os trabalhadores afirmam que as terras onde se encontra o acampamento não compõem a fazenda Norte América. Segundo os trabalhadores, o acampamento estava localizado em 556 hectares de terras devolutas adjacentes ao latifúndio, ocupadas pelas famílias após a tentativa de massacre ocorrida dentro da fazenda Norte América em março do ano passado. Em diversas ocasiões os camponeses e seus representantes legais reivindicaram a realização de uma vistoria judicial na área, para averiguação a respeito da origem das terras onde estava localizado o acampamento. No entanto, todas as medidas judiciais nesse sentido foram literalmente ignoradas pelo juiz da Vara Agrária Walter Zwicker Esbaille Júnior. Durante a reintegração de posse ocorrida no último dia dez de dezembro de 2019, as tropas da PM atuaram claramente sob a ordem direta da latifundiária Virginia Tofani, membro da Sociedade Rural e ativa articuladora do “Movimento Paz no Campo”, que não figura nos processos como proprietária ou representante legal do pretenso proprietário Leonardo Andrade. Durante o despejo, Virginia Tofani, numa atitude mais do que suspeita, filmava-se sorridente junto aos policiais.

Leonardo Andrade
Leonardo Andrade

A FNL denuncia ainda que, durante quase todas as semanas desde o início desse ano, efetivos da polícia militar, comandados pelo tenente-coronel Rômulo Gonçalves do Batalhão de Montes Claros, cercaram e invadiram sem ordem judicial o acampamento ameaçando os camponeses e procurando por suas lideranças. No dia vinte e três de janeiro de 2019 os policiais militares invadiram o acampamento acompanhados por Leonardo Andrade, até o atual momento tido como o principal suspeito pela tentativa de massacre ocorrida a menos de um ano. O latifúndio Norte América foi palco no dia 08/03/2018 de uma tentativa de massacre promovida pelo “Movimento Paz no Campo”, na pessoa do latifundiário Leonardo Andrade. Na ocasião, vários camponeses foram agredidos e torturados e o dirigente estadual da FNL, Tiago Coimbra, foi alvejado com tiros nas duas pernas, tórax e cabeça, ficando hospitalizado em estado grave durante vários dias.

FNL e LCP realizam protesto contra tentativa de massacre em Capitão Enéas maio de 2018
FNL e LCP realizam protesto contra tentativa de massacre em Capitão Enéas maio de 2018
Virginia Tofani latifundiária e membro ativa do Movimento Paz no Campo
Virginia Tofani latifundiária e membro ativa do Movimento Paz no Campo

Como ficou comprovado no período, por meio do próprio inquérito policial e divulgado pelos monopólios de imprensa, toda a ação criminosa encabeçada por Leonardo Andrade que contou com a participação de mais de 40 pistoleiros foi planejada dentro da Sociedade Rural de Montes Claros (principal entidade representativa dos latifundiários na região). Leonardo Andrade e alguns de seus comparsas chegaram a ser indiciados e ficaram foragidos por alguns dias, mas, como geralmente ocorre em tais episódios, seguem impunes. Naquele momento, somente alguns pistoleiros “peixes pequenos” foram presos, em função da consistente opinião pública favorável aos camponeses, particularmente após a grande campanha de denúncia realizada pela FNL e a Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Sul da Bahia (LCP). É importante destacar que, além dos crimes de tentativa de assassinato, cárcere privado e tortura, Leonardo Andrade é investigado ainda por trabalho escravo, estupro de vulnerável e pedofilia, crimes que teriam sido cometidos na fazenda Norte América, ademais dos incontáveis processos que responde no Pará e outros estados do país, por práticas semelhantes e crimes ambientais.

Representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que prestavam solidariedade às famílias durante o despejo, foram rendidos por policiais militares fortemente armados a poucos metros do acampamento porque presenciaram conversações entre tais policiais e indivíduos apontados como pistoleiros pelos camponeses. Os ativitas foram liberados em seguida. Vários camponeses nos relataram emocionados por telefone, ainda durante o despejo, que não desistirão daquelas terras pelas quais lutam há mais de quinze anos. Já os dirigentes da FNL nos afirmaram por correio eletrônico que o terrorismo imposto pelos latifundiários por meio da PM e pistoleiros organizados pela Sociedade Rural de Montes Claros e o Movimento Paz no Campo não barrará a luta pela terra, que seguirão com as ocupações e lutando pela reforma agrária.

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