Nota n.º2 da Comissão Nacional da LCP aos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade e ao público em geral

Centenas de famílias lutam pelo direito à terra e trabalho no Acampamento Tiago dos Santos

Se você não leu a nota anterior veja no jornal Resistência Camponesa:
https://resistenciacamponesa.com/luta-camponesa/abaixo-a-grosseira-montagem-do-governo-de-ro-e-sua-pm-de-demonizacao-dos-camponeses-em-luta-pela-terra-para-fazer-despejos-prisoes-e-massacres/

Os gravíssimos, criminosos, cruéis, cínicos e covardes acontecimentos que se desenvolveram a partir do dia 10 de outubro em Nova Mutum Paraná, no Acampamento Tiago dos Santos, comprovam “ipsis litteris” tudo o que está denunciado e afirmado na nota anterior da Comissão Nacional da LCP.

Acampamento cercado, crianças sem leite (leite doado por pequenos sitiantes do distrito de Nova Mutum Paraná), helicópteros sobrevoando a área atirando e despejando cápsulas de munição (as munições das armas de grosso calibre anunciadas pela PM que seriam dos “bandidos” da LCP mas que na verdade são dos pistoleiros do Galo Velho e dos guaxebas (como os camponeses cjamam os pistoleiros em Rondônia) de farda, um verdadeiro terror contra as mais de 600 famílias e 2.400 homens, mulheres e crianças do Acampamento Tiago dos Santos. E logo pela manhã do dia 10, sábado, início de um feriado prolongado, os sites marrons porta-vozes do latifúndio e o aparato militar do Estado divulgavam a nota da PM sobre a operação “Ordo”. https://rondoniaovivo.com/noticia/policia/2020/10/10/ordo-nota-da-policia-militar-sobre-operacao-em-area-de-conflito-agrario.html .

Só a manchete já explicaria tudo:


ORDO: Nota da Polícia Militar sobre operação em área de conflito agrário
A PM executou ações policiais de caráter sigiloso por determinação de decisão judicial

Ações policiais de caráter sigiloso contra mais de 2.400 homens, mulheres e crianças? Isto é a senha para matar e praticar todo tipo de covardia contra as massas camponesas. E foi o que de fato aconteceu e está acontecendo, ainda.

Começaram a aparecer fotos de prisões de camponeses da área e de camponeses executados na mata, e em que pese as informações ainda não poderem ser totalmente confirmadas, muitos o destes presos eram profissionais (taxistas, pequenos comerciantes, etc.) que prestavam serviços ao acampamento Tiago dos Santos (em toda luta pela terra, em qualquer parte do país, a presença de massas onde antes só existia latifúndio improdutivo é um alento para pequenos comerciantes e prestadores de serviços).

Logo pela tarde, para aliviar a autoria das grosseiras montagens do governo de Rondônia e sua PM para demonizar e atacar os camponeses, bem como para justificar e acobertar os crimes que estavam sendo e viriam a ser cometidos, todo esse monte de mentiras passa, em entrevista coletiva, para a boca da Delegada da Polícia Civil Leisaloma C. Resem. (https://rondoniaovivo.com/noticia/policia/2020/10/10/coletivadelegadaleisalomafalasobreprisaodeenvolvidosemmortesdepms.html)

Fazendo-se passar por criteriosa, a ventríloqua ainda tentou não se comprometer em demasia, afirmando que “os criminosos são membros da Liga dos Camponeses Pobres (LCP)”, ou seja, não é a LCP, o movimento, mas alguns membros. Só que sua prática de meias verdades e mentiras inteiras se revela, além de todas as mentiras acusando camponeses e não os pistoleiros do Galo Velho pela morte do PM que pescava, na sutileza de afirmar que “o tenente Figueiredo foi torturado e morto a tiros enquanto pescava com três amigos no rio Cotia que passa pela fazenda Nova Brasil, área de conflito agrário”. Porque tergiversa e não fala a verdade a “doutora”? O rio Cotia “passa” pela área do Acampamento Tiago dos Santos, como os rios passam e muitas vezes dividem vários municípios pelo Brasil afora. Para não admitir, como a LCP afirmou, que NÃO FOI NA ÁREA ONDE ESTÃO AS FAMÍLIAS QUE OS PM`S FORAM MORTOS.

Ainda no sábado dia 10 de outubro pela tarde, a PM divulga ter em mãos uma “ordem de reintegração de posse” nem publicada oficialmente ainda, arrancada a fórceps, entregando para Antônio Martins Galo Velho terras da União, como denunciamos e provamos fartamente em nossa nota anterior. velho-e-um-dos-alvos-da-operacao-da-policia-federal/)

E no domingo dia 11, exatamente no meio de um feriado prolongado, para dificultar qualquer contestação contra a justificativa jurídica para acobertar a grosseira montagem e os crimes da PM, as massas do Acampamento Tiago dos Santos são atacadas.

Cercadas, atacadas por helicópteros, recebendo tiros de balas de borrachas, os homens, mulheres e crianças resistem, empunham suas bandeiras, cantam hinos, e gritam a plenos pulmões: AQUI NÃO TEM BANDIDO NÃO! O aparato de guerra do Estado rende as famílias quando centenas de crianças começam a passar mal e desmaiar em virtude das armas químicas (bombas de gás de pimenta) lançadas contra o acampamento.

São cenas de guerra. Com todo o cuidado da PM para as imagens não revelarem semelhança com o Massacre de Santa Elina, na conta entre outros do Sec. de Segurança de Rondônia Coronel José Hélio CysneirosPacha. (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0409200002.htm) Mas as semelhanças são reais, e os crimes estão sendo praticados as escondidas como vamos mostrar mais adiante.

Os camponeses foram rendidos, roubados de seus parcos recursos financeiros e celulares, amontoados sob a mira de armas e despejados em uma Vila próxima, obrigados a retirar a máscara em pleno aumento da pandemia no estado.

Pouco a pouco vão chegando os vídeos das cenas dantescas, feitos sorrateiramente por camponeses que conseguiram cercados ludibriar a besta fera da repressão policial, gravar e esconder os celulares.

Na ânsia de justificar seus crimes, a PM divulgou fotos das “provas” de que os camponeses seriam bandidos e criminosos: facões e armas de caça, aquecedor solar e equipamento de internet. Canalhas e ignorantes. Tudo o que divulgaram só prova o contrário do que afirmavam em sua grosseira montagem.

Em uma área de mata, de 57.000 hectares, quem sobrevive sem facão e espingarda? Os camponeses, organizados, não podem ter energia? E quanto à internet, se fossem bandidos os camponeses estariam se comunicando com seus familiares?

Mentirosos! Assassinos!

Mas ao tentar criminalizar os camponeses expulsos de uma terra pública, a PM mostrou o que tinha, e revelou que NÃO EXISTIA NADA DO QUE AFIRMARAM EM SUA ARMAÇÃO GROSSEIRA, armas pesadas, fuzis, etc., etc., etc.

Os próximos passos da grosseira montagem do governo e da PM já se delineiam. Com a área sendo controlada por um aparato de guerra em operação sob sigilo, camponesesserão assassinados e as “provas” de seus “crimes” serão plantadas. Prova do que estamos afirmando é a exibição, nos sites marrons da PM e do latifúndio de Rondônia, de fotos de supostos membros da LCP que seriam os responsáveis pela morte dos PM´s. São “cabras marcados para morrer”.

No Acampamento Tiago dos Santos em torno de 100 famílias já estavam em seus lotes. Nas áreas onde a LCP atua, o período de acampamento é provisório. As terras são medidas, cortadas e entregue para os camponeses. Tudo em assembleia, democraticamente, por sorteio. Isso se chama Corte Popular, aplicado pela Liga e prática que se espalhou por diversas lutas e movimentos. As famílias vão para as áreas já definidas pelo “Corte Popular”por partes. No Acampamento Tiago dos Santos, em função da luta anterior desde 2016, um dos critérios foi aantiguidade, prioridade para os que iniciaram a luta. Entre estas famílias há muitos camponeses desaparecidos.

Mas se enganam os que pensam que esta é uma ação exclusivamente do latifúndio, da PM e do governo de Rondônia.

O senador bufão que citamos na nota passada é Flávio Bolsonaro, que foi em nome de seu pai e do carrasco do Haiti, General Heleno, (https://revistaforum.com.br/global/haitianos-pedem-indenizacao-da-onu-por-estupros-na-epoca-em-que-general-heleno-comandava-forcas-de-paz/), avalizar e autorizar esta operação de guerra contra o povo.

Que todos os democratas, progressistas e honestos em todo o Brasil levantem suas vozes imediatamente.Quem viveu ou conhece a históriada ditadura civil-militar entre 1964 e 1985 sabe que essa “Operação Ordo” tem o mesmo “modus operandi” daqueles tempos nunca passados a limpo.

Foram graças a essas vozes que tem se levantado, nos quatro cantos do país e também no exterior, que toda essa operação monstruosa (mais por sua cara horrenda do que por sua dimensão) não logrou o sucesso que seus autores desejavam, pois em que pese todas as mentiras que se divulgam principalmente em Rondônia e os ataques contra o Acampamento Tiago dos Santos, os camponeses permaneceram unidos, bradando a verdade e jurando que reorganizarão o Acampamento Tiago dos Santos.

São os fatos.

Os camponeses são inocentes, são trabalhadores honrados!

A Liga dos Camponeses Pobres é um movimento desses brasileiros deserdados de tudo em luta pela terra! Quanto mais repressão, perseguição e assassinatos, com mais força e firmeza reagiremos à altura!

Nos momentos mais duros e difíceis, nossas bandeiras estavam nas mãos destes homens, mulheres e crianças que lutam por seu direito a trabalhar e sobreviver, pelo direito a terra; nossas bandeiras estavam na mão desta massa de brasileiros caluniada e covardemente atacada com gás de pimenta, bombas, helicópteros e fuzis; nossas bandeiras estavam nas mãos destes camponeses roubados pela PM de Rondônia, tanto em bens pessoais como em criação e plantações, sem contar a expropriação diária levada a cabo pelas classes exploradoras. Nossas bandeiras não poderiam estar em outro lugar.

Como também estão hasteada em muitas partes do Brasil, bem como no Acampamento Manoel Ribeiro na retomada da última parte da fazenda Santa Elina, onde o generoso sangue camponês foi derramado pela mesma covarde PM protetora dos latifundiários ladrões de terras públicas. O Acampamento Manoel Ribeiro é o próximo alvo desta operação covarde e criminosa.

As massas de camponeses pobres e a Liga dos Camponeses Pobres seguirão a luta pela terra, aconteça o que acontecer.

E nem todo o terror que o latifúndio, a grande burguesia, o imperialismo e os fascistas utilizam para atacar estas massas camponesas vão calar ou afogar em sangue a luta por terra, pão, justiça e uma nova democracia.

Abaixo a demonização e criminalização da luta pela terra!
Terra para quem nela vive e trabalha!
Abaixo o ataque ao Acampamento Tiago dos Santos!
Terroristas e assassinos são os mentirosos a serviço dos latifundiários ladrões de terras públicas !
Exigimos o fim da Operação ORDO e o desmascaramento de todo o segredo criminoso que a cerca!

Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres

Goiânia, 14 de outubro de 2020

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