Nós, famílias da Área Revolucionária Manoel Ribeiro, que desde agosto de 2020 ocupamos as terras da fazenda Nossa Senhora Aparecida, no município de Chupinguaia/RO, última parte da antiga fazenda Santa Elina a ser retomada, viemos a público repudiar a onda de mentiras, criminalização e repressão contra os camponeses pobres em luta pela terra em Rondônia.
No início do mês de outubro ocorreram assassinatos de policiais militares no distrito de Nova Mutum-Paraná, norte de Rondônia, em uma ação claramente executada por bandos armados do latifundiário Galo Velho na intenção de incriminar os camponeses do acampamento Tiago dos Santos e lançar contra eles a sanha sanguinária de policiais matadores e seus chefes, guardiães do latifúndio. Tal armação, fartamente cacarejada pela imprensa mentirosa, porta-voz da polícia e do latifúndio, deu os resultados esperados, e logo nos dias seguintes a polícia militar executou uma operação de guerra contras as famílias que estavam ali acampadas e trabalhando, e de forma criminosa jogando do helicóptero bombas de gás e de efeito moral, tiros de balas de borracha, apontando fuzis e submetralhadoras despejou a todos. As tropas repressivas golpearam e humilharam homens e mulheres e aterrorizaram crianças, destruíram barracos e utensílios de necessidade básica, roubaram das famílias suas pequenas economias, celulares e outros objetos de valor ganhos com muito suor de trabalho honesto. Além do que, do helicóptero lançaram casquilhos deflagrados de vários calibres, controlado o Acampamento executaram sua fraudulenta perícia para incriminar os camponeses, suas lideranças e a LCP.
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Não satisfeitos, a polícia civil, a polícia militar, assim como bandos armados dos latifundiários tem intensificado a repressão com perseguição, prisão e assassinatos de vários camponeses.
Para mais informações leia: Polícia de Rondônia acusa qualquer camponês que já foi acampado por morte de policiais
Aqui no acampamento Manoel Ribeiro a polícia militar nunca deixou de perseguir e intimidar as famílias, com incursões frequentes em torno da área, sobrevoo de drones e helicópteros. E agora recentemente tem realizado tentativas de infiltração de policiais dentro do acampamento e tem feito blitz na estrada logo na entrada da área, abordando arbitrariamente a todos.
Depois que realizaram o despejo das famílias do acampamento Tiago dos Santos, querem aproveitar toda a histeria fabricada contra a luta pela terra para se voltarem agora com toda força contra as famílias do acampamento Manoel Ribeiro.
Mas se enganam senhores, se pensam que poderão repetir aqui, o mesmo que aplicaram a nossos irmãos camponeses do norte.
Não temos nenhuma ilusão com esse velho Estado apodrecido que defende apenas os interesses dos ricos e poderosos encobrindo seus crimes contra os pobres e seus roubos de milhares de alqueires de terras da União. Sabemos muito bem, que a única coisa que tem a nos oferecer é a vida de miséria e exploração nas cidades, ou sob as garras de algum latifundiário qualquer. Sabemos que só tem a nos oferecer enganação e opressão. Só nos oferece porretadas, bombas de gás, balas de borracha e de estanho, prisão, assassinatos e massacres. Sabemos de tudo isso muito bem, já vimos isso ocorrer contra nossos irmãos e contra nós mesmos, muitas e muitas vezes. Foi aqui nestas terras que hoje estão sob nossa posse que covardemente derramaram o sangue de muitos, inclusive da pequena Vanessa de apenas 7 anos.
Desse velho Estado, não esperamos nada a favor do povo. É simbólico que os oficiais da PM-RO, responsáveis diretos pelos assassinatos e torturas de camponeses em 1995 na antiga fazenda Santa Elina, no que ficou conhecido como “massacre de Corumbiara” não só seguiram impunes como foram sucessivamente promovidos. Aí está o atual secretário de segurança do governo estadual, coronel José Hélio Cysneiros Pachá, e o até poucos dias comandante da polícia militar, coronel Mauro Ronaldo Flores, que hoje está disputando cargos no chiqueiro da politicagem através da farsa eleitoral. Ambos participaram ativamente, e com função de comando, nos criminosos acontecimentos de agosto de 1995 em Corumbiara, e hoje estão aí como autoridades e pretensos “representantes do povo”.
Basta! Não abaixaremos mais nossas cabeças! Queremos o que é nosso por direito! Aqui queremos apenas um pedaço de terra para viver, trabalhar e tirar o sustento de nossas famílias com dignidade, mas nossa luta vai além, queremos justiça, um poder de nova democracia e um Brasil novo para nossos filhos e netos.
Queremos viver em paz, mas se nos oferecerem guerra, terão guerra! Nós não sairemos de nossas terras! Estamos unidos e organizados! Se moverem aparato de guerra contra nós, para tentar nos tirar da terra, tenham certeza que resistiremos com unhas, dentes e da forma que pudermos. Se a ferro e fogo nos despejar das nossas terras, voltaremos amanhã de novo, tendo aprendido como enfrentá-los, pois a lei do povo, confirmada pela história em todo o mundo, é lutar e fracassar, voltar a lutar e fracassar de novo, tornar a lutar até obter a vitória completa e definitiva contra seus carrascos, exploradores e opressores! Quanto mais tempo demorar nossa vitória, mais alto será o preço que estes bandidos latifundiários ladrões de terras da União irão pagar!
Essas terras estão regadas com sangue dos camponeses que heroicamente resistiram e lutaram por elas em 1995 e dos povos indígenas chacinados por latifundiários e seu velho Estado. E se for necessário, juntaremos nosso sangue ao desses heróis. Assim como os combatentes de Santa Elina em 1995, hoje 25 anos depois gritamos com firmeza: Nem que a coisa engrossa, essa terra é nossa!
Abaixo o conluio criminoso dos governantes, da Justiça e da polícia com os latifundiários ladrões de terras da União!
Abaixo a criminalização da luta pela terra!
Fim das perseguições, despejos, prisões, assassinatos e desaparecimentos!
Conquistar a terra, destruir o latifúndio!
Viva a Revolução Agrária, morte ao latifúndio!
As terras da antiga Santa Elina são do povo!
Viva o Acampamento Tiago dos Santos!
Viva a Liga dos Camponeses Pobres do Brasil!
Assembleia Popular do Acampamento Manoel Ribeiro
CDRA – Comitê de Defesa da Revolução Agrária
28 de Outubro de 2020